A decana da Faculdade Evangélica de Estudos Teológicos (FEET), Blanca Fonseca, disse que o fogo aproxima-se a cada dia e as chamas podem atingir as igrejas, caso não elas não atuem diante da onda de violência que aflige mulheres, meninas e meninos. Fonseca inaugurou a XI Cátedra Interdisciplinar da Mulher, realizada dias 21 a 23 de novembro, nesta capital.
“Nesta cátedra procuramos onde está o medo e porque as mulheres de igrejas não denunciam os abusos, sabendo que o silêncio é cúmplice”, disse Fonseca.
Participaram do evento 100 mulheres, entre pastoras da capital e líderes rurais. A cátedra teve início, na quarta-feira, 21, com uma conferência sobre Feminicídio na Nicarágua a partir de uma perspectiva da saúde, ministrada pela psicóloga Lorna Norori.
Ela alertou que a violência de gênero no país é um grave problema social e de direitos humanos. Segundo a palestrante, chegou o momento das mulheres demandarem do governo atenção integral e reivindicarem maior orçamento do Ministério da Saúde.
Norori sublinhou que mulheres continuarão a morrer, tendo em vista a proibição do aborto terapêutico pelo novo Código Penal e o conseqüente crescimento do aborto clandestino. A expositora ilustrou a palestra com casos dramáticos de mulheres que sofreram até dez anos de golpes, violações e ameaças de morte de seus maridos ou ex- maridos. Uma mulher, contou Norori, celebrou uma festa no dia em que o juiz declarou seu casamento cancelado.
Em outro momento, as teólogas Blanca Cortes, da Igreja de Cristo, Patricia Castro, da Igreja Batista, e Jaime Tercero, de Visão Mundial, debateram sobre as raízes do silêncio nas igrejas sobre a violência.
Outras conferências focaram atenção na temática de gênero e da violência a partir de uma aproximação teológica, e na elaboração de métodos para trabalhar o tema nas igrejas, famílias e comunidades. O objetivo foi sensibilizar a sociedade e as igrejas a analisarem e refletirem sobre o grave perigo representado pela persistência da violência intrafamiliar nas igrejas.
Blanca Cortes assegurou que há investigações de três estudantes de Teologia da FEET e da Associação Evangélica de Assessoria Familiar (Aedaf) que confirmam que a violência intrafamiliar é uma realidade na família pastoral e que há casos de abusos sexuais cometidos por líderes evangélicos.
As duas pesquisas também refletem que a as mulheres de igrejas estão rompendo o silêncio ao denunciar o maltrato, o assédio e abusos sexuais.
A membresia feminina nas igrejas não quer ser cúmplice de tais abusos e decidiu falar, declarou Cortes, uma das líderes evangélicas que centra sua luta no combate ao feminicidio na Nicarágua. A pastora batista Patricia Castro concordou com Cortes, reafirmando a necessidade de passar à ação, de perder o medo e de recuperar a voz profética da igreja.
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