Cristãos evangélicos indígenas em Chiapas, México, enfrentam crescente perigo na medida em que caciques locais intensificam sua campanha de perseguição.
No fim do ano passado, dois pastores de igrejas da etnia Tzotzil foram brutalmente assassinados em atentados distintos. Mais tarde, caciques procuraram famílias que freqüentam uma das igrejas que perderam seu pastor e insistiram que renunciassem à sua fé, ou seriam expulsos de suas casas. Os agressores reforçaram suas ameaças queimando duas Bíblias e algumas fitas com música evangélica que pertenciam aos cristãos.
Na pior ameaça já feita, os caciques teriam aumentado a oferta de recompensa para qualquer um disposto a assassinar advogados e líderes que trabalham para defender os direitos de cristãos indígenas.
Pastores assassinados
Mariano Mendez Diaz, 38 anos, ministro da Igreja Evangélica Tzotzil, foi assassinado perto da cidade de San Juan Chamula, enquanto se dirigia a um culto de oração.
De acordo com testemunhas, Mendez estava perto do vilarejo de Botatulan às 15:00h quando homens com armamento pesado o obrigaram a parar o carro. Segundo testemunhas, aparentemente Mendez saiu do automóvel e tentou fugir dos agressores antes de ser alvejado.
Policiais que investigam o assassinato descobriram cartuchos de fuzil AK-47 na cena do crime. Esse tipo de arma é de uso exclusivo das forças armadas no México.
De acordo com reportagens da imprensa da capital, San Cristobal de las Casas, a polícia prendeu Manuel Hernandez Gomez e Manuel Gomez por envolvimento no crime. Três outros suspeitos de participação ainda estão foragidos.
Em outro caso, assaltantes não identificados invadiram a casa de Jairo Solis Lopez no município de Mapastepec e o esfaquearam até a morte.
Solis, pastor da Primeira Igreja do Nazareno por cinco anos, deixou esposa e um filho de dezoito meses. Segundo o Reverendo Joaquin Ocaña, superintendente das igrejas do Nazareno em Chiapas, a jovem viúva continua ministrando na pequena igreja.
Algumas autoridades do Estado de Chiapas insinuaram que as mortes tinham motivação política, envolvendo disputas entre líderes municipais. Mas essa teoria encontrou pouca credibilidade junto a observadores familiarizados com Chiapas e seu longo histórico de intolerância religiosa.
Dominação dos caciques
Por décadas, caciques tradicionalistas, que seguem uma religião semi-pagã que é um misto de crenças do catolicismo romano com antigos rituais maias, exerceram controle social e econômico absoluto sobre os indígenas do planalto de Chiapas. Desde seu surgimento nos anos 60, o cristianismo evangélico vem minando a dominação dos caciques e ameaçando seu monopólio sobre a economia local. Como resultado, os tradicionalistas têm empregado violência e intimidações para desencorajar a disseminação dos evangélicos.
Conforme registros oficiais, pelo menos cem evangélicos morreram por causa da violência religiosa. Milhares de outros sofreram espancamentos e perda de propriedades. Entre 25 e trinta mil crentes presbiterianos e pentecostais foram forçados a fugir de suas casas e agora vivem em comunidades de refugiados na periferia de San Cristobal.
Os caciques têm conduzido sua campanha anticristã com impunidade quase absoluta. Antes das duas recentes prisões no caso Mendez, apenas seis caciques ou cúmplices foram levados à justiça por crimes cometidos contra evangélicos.
Os acontecimentos fornecem evidências de que perseguição religiosa motivou aqueles crimes. Dez dias depois da morte de Mendez, um grupo de caciques e líderes municipais no vilarejo de Cruz Quemada realizaram uma reunião com onze evangélicos que freqüentam a congregação de um dos pastores mortos em Tzajaltetic.
Eles nos disseram que se não pararmos de ir à igreja em Tzajaltetic, vão nos expulsar da comunidade disse Javier Gonzalez, um dos cristãos de Cruz Quemada, ao jornal Cuarto Poder, de Chiapas.
Para dar retaguarda a suas ameaças, os caciques confiscaram duas Bíblias e algumas fitas cassete com músicas cristãs de Gonzalez e outros irmãos e colocaram fogo. Depois, fizeram uma lista das casas onde os onze membros da Igreja Pentecostal Tzotzil de Chiapas vivem, claramente como demonstração de que se preparam para levar a cabo as ameaças de expulsão.
Crescimento do cristianismo
A despeito da pressão, os evangélicos de Cruz Quemada pretendem continuar praticando sua fé. Os tradicionalistas, com o apoio de autoridades da comunidade, querem nos forçar a abandonar nossa religião, afirmou Gonzalez, mas não concordamos com isso. Ainda que nos ameacem, continuaremos sendo evangélicos.
A determinação dos crentes em seguir a Cristo apesar da incansável perseguição que enfrentam induziu um forte crescimento do cristianismo evangélico em Chiapas. Os evangélicos hoje constituem perto de 35% da população do Estado (eram 4,8% em 1970), dando a Chiapas mais protestantes per capita do que qualquer outro Estado do México.
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