As armas que as quadrilhas desarticuladas pela operação Guilhotina desviavam em operações não iam apenas para traficantes com quem maus policiais mantinham negócios. De acordo com testemunha ouvida pela Polícia Federal, quatro fuzis recolhidos numa favela foram entregues a um segurança de igreja evangélica
Polícia Investiga Venda de Armas para Segurança de Igreja Evangélica; 4 Fuzis foram Apreendidos Na ação agentes da PF prenderam quase 30 policiais – entre eles o delegado Carlos Oliveira, ex-subchefe da Polícia Civil. Além da suposta ligação com o segurança do templo religioso, os policiais presos também teriam vendido armas e munição a milicianos que atuam no bairro de Ramos, na zona norte do Rio. Uma das provas, para a PF, são os depoimentos de X., uma testemunha arrolada no inquérito. Segundo a polícia, os relatos dele “apontam, de forma robusta, as atividades criminosas da quadrilha liderada pelo policial militar da reserva Ricardo Afonso Fernandes, o Afonsinho”.
Segundo contou X., quatro fuzis calibre 7.62, desviados em 2008, após uma operação nos morros do São Carlos, no Estácio, e Mineira, no Catumbi, foram vendidos para o chefe da segurança de uma igreja, identificado como Ribeiro.
Ainda segundo a PF, durante a tomada dos complexos do Alemão e da Penha, no fim do ano passado, o policial militar Paulo Araújo da Costa, do bando de Afonsinho, é flagrado em escutas incentivando um colega a se apropriar de munição encontrada nas favelas. Nas gravações, ele exige do comparsa: “Pega munição para usar, p., tem munição pra c.”.
O relatório das investigações também afirma que Afonsinho, suspeito de chefiar a milícia das favelas Roquette Pinto e do Piscinão de Ramos, utiliza-se das armas desviadas “para o fortalecimento da sua organização criminosa”. Na sexta-feira, agentes realizaram buscas na academia Marobanda, em Ramos, que seria de Afonsinho, em busca de armas.
Outro policial militar suspeito de integrar a quadrilha, apontado pela PF como “homem de confiança” de Afonsinho, é Roberto Luís de Oliveira, o Beto Cachorro.
O relatório do inquérito da Operação Guilhotina aponta que o agente foi presenteado por colegas com uma arma de “origem duvidosa, pelo simples motivo de só trabalhar com um armamento”.
Em busca dos tesouros do Alemão
As armas dos traficantes do complexo de Alemão e da Penha foram alvo da cobiça dos policiais investigados. Como mostraram conversas interceptadas em escutas telefônicas autorizadas pela Justiça, a região foi apelidada de Serra Pelada em um dos diálogos. O “ouro” era tudo o que os criminosos deixaram para trás quando fugiram. A PF flagrou, por exemplo, o inspetor Leonardo da Silva Torres, o Torres Trovão – preso sexta-feira -, comentando sobre a existência de R$ 2 milhões no Complexo do Alemão.
Durante a operação de pacificação, a quantidade de denúncias de moradores sobre roubos cometidos por policiais levaram a Secretaria de Segurança a tomar uma série de medidas. Equipes das corregedorias circularam pelas favelas, fiscalizando a atuação de agentes e PMs. Também foram instalados postos para ouvir as reclamações dos moradores.
Outra determinação foi a proibição de que policiais entrassem nas comunidades com mochilas.Apesar das providências, os casos de desvios não cessaram, nem com a presença do Exército. Mês passado, 30 homens do Exército e 23 PMs chegaram a ser afastados por causa de denúncia de furto de ar condicionado.
Miliciano leva computador de delegacia para casa
O grupo de Afonsinho não desviava apenas armas de traficantes, aponta o relatório da PF. De acordo com as investigações, o policial militar da reserva chegou a levar para sua casa um computador da Delegacia de Repressão a Armas e Explosivos (Drae).
Para a PF, o fato “denota a mescla do patrimônio público” com o de Afonsinho. O poder do suspeito também é evidenciado, segundo a investigação, quando ele dá até orientações sobre como agir em operações ao policial Carlos Teixeira, o Bigu. Em uma ocasião, Afonsinho até mandava Bigu fazer ameaça a alguém, diz o relatório.
Filho de Afonsinho, Christiano também usava sua influência para favorecer o pai. Segundo a Polícia Federal, ele pedia “com insistência” a presença de Afonsinho em operações.
Lucros com campo de futebol e estacionamento no Piscinão
Outra testemunha ouvida pela Polícia Federal, Y. conta que a milícia liderada por Afonsinho não lucrava apenas com a cobrança pelos serviços de TV a cabo e de venda de gás.
Em seu relatório, a PF acrescenta que o bando explorava até o aluguel dos campos de futebol de grama sintética das comunidades da Praia de Ramos e Roquette Pinto, em Ramos, zona norte.
Y. também contou à polícia que Afonsinho e seus comparsas cobravam até taxa para venda de água mineral e para a utilização do estacionamento do Piscinão de Ramos.
Quando os moradores das comunidades vendiam seus imóveis, contou a testemunha à PF, era cobrada uma taxa de 30% sobre o valor da negociação. Policiais da 22ª DP (Penha), onde era lotado Christiano Gaspar Fernandes, filho de Afonsinho, também eram utilizados, segundo a PF, no apoio ao grupo miliciano sempre que havia necessidade.
“Sempre que necessário, é utilizado o aparato estatal através da equipe chefiada por Christiano, para garantir o mando e o desmando da milícia na comunidade”, detalhava o relatório da Polícia Federal.
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