– “Jarrar*!”
– “Jarrar!”
Sajjida* falou gentilmente tentando acordar o seu marido, que dormia no chão próximo à sua cama. "Acorde, são 4 horas da manhã".
Ela detestava fazer isso tão cedo, mas sabia que ele tinha de levantar ou não chegaria pontualmente ao trabalho. Ela se questionava porque o alarme não tinha despertado ainda. Ela tentou olhar para além da cama, mas não conseguiu se mover o suficiente. As bombas que dispararam quando os suicidas entraram na igreja em Peshawar, deixaram seu corpo severamente ferido.
Lágrimas rolaram sob sua face. Sua mãe tinha ido para casa para descansar à noite. Ela cuidou de Sajjida como somente uma mãe pode fazer. Ela e Jarrar se revezam em turnos para cuidar de Sajjida. O cheiro pútrido de carne e de feridas tomaram suas narinas. Fazia frio. Ela lembra os dias que nem pensava duas vezes em se curvar toda para lutar contra o frio. Agora ela não sabia mais como fazer isso. Ela não poderia fazer nada, além de aceitar a ajuda de sua mãe e de Jarrar, que são a duas únicas pessoas que sabem como trocar os curativos dela conforme ensinado pelos médicos.
A porta abriu vagarosamente. Alguém entrou e mesmo com a porta entreaberta, inexplicavelmente uma onda de calor entrou na sala. Sua mãe tinha ido para casa e Jarrar estava quase adormecendo. Sajjida assistiu a cena consumida pelo medo e por um sentimento de alegria. De repente, a paz invadiu seu coração e controlou suas emoções. Impossibilitada de dizer sequer uma palavra, Sajjida, ficou quieta com os olhos abertos à medida que o visitante começou a passar suas mãos nos curativos.
"Nós somos muito cuidadosos em nossa cultura com a segregação. Os homens não entram subitamente no quarto de uma mulher. Eu nunca permitiria um homem estranho entrar no quarto. O seu xale escondia sua face de mim. Eu tinha uma paz tão imensa e à medida em que ele tocava as minhas feridas, eu sentia um toque de cura no meu corpo. Eu estava com o corpo quente e me senti limpa pela primeira vez desde o ataque. Eu passei a dormir de uma maneira que eu não conhecia desde o acidente. Então, sem dizer uma palavra, ele deixou o quarto, e, no momento em que ele saia, as expressão ‘querido Jesus’ escaparam dos meus lábios", afirma Sajjida.
Uma hora depois, enquanto Sajjida ainda tentava se acalmar, Jarrar acordou. Ele levantou assustado para não chegar atrasado ao trabalho. "Eu tinha receio de perder o meu emprego, se eu continuasse faltando ou chegando atrasado. Mas, quando eu vi Sajjida e que seus curativos pareciam novos, eu fiquei muito confuso, porque eu sabia que a mãe dela estava fora e nós éramos os únicos que sabíamos como trocar os curativos”, conta Jarrar.
Ele olhou para ela de modo impressionado ao ouvir sobre o visitante. Ele verificou todas as pessoas nos outros cômodos e todos eles estavam dormindo, exatamente como ele havia deixado. "Eu perguntei novamente quando cheguei em casa à noite e todos pensaram que eu estava louco".
Isso aconteceu duas outras vezes. Jesus visitou Sajjida, tocou-a e toda vez ela dormia profundamente e sentia-se plenamente descansada após cada uma de suas visitas.
Ao longo do ano – desde o ataque – Sajjida e muitas outras pessoas passaram por inúmeras cirurgias. Ela tem recebido visitas regulares dos pastores e cuidadores da equipe de aconselhamento e apoio chamada Alive. Os participantes desse trabalho ouviram a história de Sajjida e Jarrar por horas, compartilharam o amor de Deus e ministraram cura para o estresse pós-traumático que o casal enfrenta desde o ataque à sua igreja.
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