A notícia do ataque a cristãos paquistaneses com maior número de mortos de todos os tempos, ocorrido no domingo passado, me deprimiu profundamente. Foi pessoal. Vídeos mostravam na TV meus amigos de infância ajudando cristãos feridos. Enquanto eu via as imagens congeladas em minha televisão, recebi um telefonema inesperado que deixou tudo isso ainda mais doloroso.
Peshawar, a capital de Khyber Pakhthunkhwa, era uma cidade diferente quando minha família morava lá, há 14 anos. Nossos parentes costumavam visitar nossa casa quando vinham fazer compras em nossa pequena e relativamente pacífica cidade, que era famosa por suas roupas, louças e artigos eletrônicos mais baratos, contrabandeados do vizinho Afeganistão. Meu pai costumava me buscar na escola Edwardes em sua motocicleta Yamaha, em frente à All Saints Church. A escola, por motivo de luto foi fechada por três dias. Um portão automático foi instalado na sua entrada, que permanece agora vigiada por dois policiais.
O caminho para a All Saints Church, localizada em um mercado de roupas, tinha sido bloqueado com arame farpado. Um grupo de paroquianos estava checando todos os pedestres. Minha mochila foi verificada quatro vezes antes que eu entrasse na igreja em forma de mesquita, a única de seu tipo no país. "Perdoem-nos, mas não confiamos em ninguém agora", disseram-me.
Uma enorme tenda amarela foi erguida no complexo da igreja e se tornou um ponto de encontro para visitantes, membros da imprensa e autoridades governamentais. Mulheres choravam continuamente em meio à atmosfera triste do complexo, que com seus tijolos maculados de sangue e suas paredes mostrava as marcas dos rolamentos de esferas pulverizadas das bombas detonadas.
Oramos dentro da igreja, e também examinamos a estrutura danificada de 130 anos de idade. Mais tarde, visitamos os feridos no Hospital Lady Reading. Na mesma noite, revisitei a igreja, onde os sapatos dos cristãos mortos ainda estavam empilhados perto das entradas. Vi até mesmo alguns livros e um cantil entre eles. Alguém tinha colocado buquês sob cruzes de madeira perto das portas da igreja. Naquela noite, ela havia se transformado em um pequeno memorial iluminado por centenas de velas.
Também encontrei alguns dos meus amigos de infância que me mostraram fotos tiradas em seus celulares momentos após a explosão. "Primeiramente, vimos dedos entre as pilhas de sapatos. Oramos para que as vítimas tivessem sido levadas para o hospital, mas não foi o caso", disseram-me. "Nunca tínhamos visto tanto sangue e tantos corpos mutilados. Os comerciantes ajudaram a cobrir os corpos, muitos deles nus".
Por último, visitei um dos meus tios, que pertence ao coro da igreja. Seu pulmão esquerdo foi rompido quando um rolamento de esferas atravessou seu peito. Mesmo após a cirurgia na caixa torácica, um rolamento de esferas ainda permanece em seu pulso esquerdo. Peço que orem por sua rápida recuperação.
Redação: Kamran Choudhry, diretor de comunicações, Caritas Paquistan
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