Depois que um juiz, em 15 de dezembro, pressionou financeira e socialmente os raptores de uma menina seqüestrada e convertida ao islamismo, os advogados dos pais dela estão otimistas com a possibilidade de tê-la de volta.
O juiz Malik Saeed Ijaz ordenou a Amjad Ali, marido de Saba Masih, 13 anos, a pagar um dote no valor de 100 rúpias (1,28 dólares) e concedeu direito de visita aos pais da menina – duas ações exigidas pelo protocolo do casamento paquistanês.
O juiz deu à Saba Masih a oportunidade de conversar com sua família durante a audiência de ontem, mas ela permaneceu em silêncio atrás de seu véu, dando apenas respostas frias.
“Eu não quero ver meus pais. Eles são cristãos e eu sou muçulmana”, ela disse, de acordo com o advogado de seus pais.
Sua irmã mais nova, Aneela Masih, suplicou para que sua irmã mais velha retornasse para a casa. A menina de 10 anos disse à irmã mais velha que, no Natal, ela não queria que sua irmã estivesse com aqueles “que não são do nosso povo”.
Aneela também fora seqüestrada, mas foi devolvida à família três meses atrás (leia mais).
Saba compareceu na Comarca de Multan, da Alta Corte de Lahore, com seu marido muçulmano e a família dele em 15 de dezembro. Os pais dela preencheram uma petição de repúdio no último mês contra seus raptores, por não respeitarem o protocolo paquistanês de casamento.
A lei islâmica (Sharia), contudo, dá à mulher o direito de abdicar ao dote. Advogados dizem temer que a família muçulmana pressione Saba Masih a reivindicar seu direito de abdicar do dote, com o objetivo anular a pressão financeira.
Influência
Os advogados esperam que se a mãe puder visitá-la, a menina será convencida a deixar seu marido e ir para a casa com sua família. Sua família crê que ele tem ameaçado a menina com violência caso ela tente escapar e voltar a viver com sua família.
Na audiência do dia 15, Saba ainda relutava em retornar à sua família. Os parentes dizem que estão orando para que a menina mude de idéia e para que seus raptores percam a influência sobre ela.
“A coisa mais importante é que Saba deve estar pronta para voltar para casa por vontade própria”, disse o tio da menina, Khalid Raheel. “Mas ela não está pronta para voltar ainda, não sei como eles conseguem convencê-la.”
Akbar Durrani, advogado do Centro de Auxílio Assistência e Assentamentos Legais (CAAAL), disse que os advogados deverão tentar usar o testemunho de seqüestro de Aneela para poder levar o caso ao Supremo Tribunal se outras opções falharem.
Problema recorrente
Seqüestro de cristãs nesta nação de 170 milhões de pessoas, muçulmanas na maioria, não é algo incomum.
Muitos raptores crêem que não serão punidos caso sejam pegos, tamanha é a influência da sharia sobre o código penal.
Todos os anos há casos de crianças paquistanesas cristãs seqüestradas, mortas ou exploradas por aqueles que crêem na falta de poder de seus pais.
No último mês, uma família muçulmana em Nankan seqüestrou o filho de 7 anos do cristão paquistanês Binyamin Yusef, 30, em uma disputa de terras. Dois dias depois, a polícia encontrou o corpo do menino, com sinais de tortura e estupro.
A polícia não registrou o caso quando Binyamin buscou assistência. Representantes do CAAAL esperam iniciar uma ação contra os alegados agressores.
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