De repente, ele fica frente a frente com policiais encapuzados em uma das ruelas da favela do Morro do Alemão, um complexo de uma dezena de favelas no subúrbio da Leopoldina, Zona Norte do Rio, ocupada por diversos policiais à procura de armas e drogas, e é atingido por duas rajadas de metralhadora. A madrugada de 4 de junho de 1992 ficará para sempre gravada na memória de Demétrio Martins, 31 anos, quando livrou-se da morte, mas ficou paraplégico. Era o fim da sua participação no tráfico de drogas.
Começou a fazer parte desse mundo aos 15 anos. No início, seu trabalho consistia em embalar a cocaína, mas aos poucos foi se envolvendo de forma mais intensa, até ser promovido a gerente geral, homem de confiança do traficante Orlando Jogador, morto em 1994. Convertido ao Evangelho há sete anos, tornou-se um missionário. Congrega na Assembléia de Deus, no bairro de Inhaúma, e sua história foi tema de capa da revista Newsweek, uma das mais importantes do mundo.
Viatura - Abandonado à própria sorte pelos policiais, foi socorrido por um morador local e levado para o Hospital Geral de Bonsucesso e depois transferido, a pedido do traficante Orlando Jogador, para uma clínica. Ao todo, foram 47 dias de internação. "Naquela hora vi a morte de perto e clamei a Deus, que me enviou um socorro, o irmão Devair, que segurou na minha mão e disse que eu não iria morrer", conta Demétrio, que se fingiu de morto e ouviu tudo o que os policiais falavam. "Depois de pegarem meu dinheiro e as drogas que estavam no bolso da jaqueta, um deles falou: vamos embora e depois a gente volta com uma viatura para resgatar o corpo", ressalta.
A partir do momento que retorna para a sua casa no Morro do Alemão, onde foi criado, passa por momentos de sofrimento e dificuldades. Imobilizado numa cama, precisava do favor de alguém para fazer as coisas mais simples, como ir ao banheiro e pegar um copo de água. Ficava pensando na sua fase de poder no morro, com dinheiro no bolso e temido pelas pessoas. "Ganhei muito dinheiro, mas com a mesma facilidade que ganhava, gastava".
Além disso, ainda enfrentou a perseguição do policial que o baleou, que trabalhava no posto comunitário do morro. A depressão foi aos poucos tomando conta, a tal ponto que Demétrio tentou o suicídio.Um dia, um grupo de evangelistas estava fazendo um trabalho na favela e resolveu bater na sua porta. Falaram sobre Jesus e o convidaram para ir na igreja. Aceitou o convite e foi. A seu modo, começou a conversar com o Senhor, dizendo que gostaria de se converter, mas queria ver mudanças na sua vida. À tarde foi de novo para a igreja e sentou no último banco.
Visão espiritual - Terminado o culto, as pessoas já estavam saindo, quando uma irmã se aproximou de Demétrio e lhe disse: "Aquela metralhadora não te matou porque o Senhor estava naquele lugar. Você vai passar uma provação, mas não temas porque Ele está contigo. Teus amigos morrerão porque têm o coração endurecido para Deus, e aqueles que te abandonaram, Deus os levará até você. Abra o teu coração e pregue", concluiu a irmã.
"Naquela noite aceitei o Senhor e ganhei uma Bíblia. Três dias depois, pela manhã, colegas do tráfico estiveram na minha casa para fazer uma visita", relembra. Nessa hora, Jesus tocou o seu coração com a mensagem: "Abra a tua boca e coloque um disco". Assim foi feito. Depois que todos foram embora, um deles retorna, tendo ao lado o gerente do tráfico que tinha ficado no lugar de Demétrio, que, cumprindo mais uma vez o que Deus havia ordenado, prega o Evangelho, e o gerente se converte, juntamente com a mulher.
Cada vez mais firme nos caminhos do Senhor, passa a receber convites de diversas igrejas para pregar e contar o seu testemunho. Em uma delas - Casa da Bênção -, conhece Marta da Rocha Martins, 32 anos, com quem se casou em novembro de 99. "Estava afastada da igreja há 12 anos. Quando voltei, Demétrio foi pregar, começamos a namorar e acabamos nos casando", conta Marta, que em todos os momentos está sempre ao lado do marido.
Agora, quando Demétrio passa pelas ruelas da favela, onde nasceu e continua morando, ninguém fica com medo. As pessoas sabem que ali está um homem transformado que, pelo poder sobrenatural de Deus, abandonou as armas para pregar a Palavra de Deus.
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