A polícia da pequena ilha predominante muçulmana de Zanzibar, próxima da costa da Tanzânia, aumentou as investigações e prendeu três suspeitos depois de duas igrejas católicas serem destruídas e de uma igreja protestante ser incendiada em uma série de atos violentos, recentemente realizados.
De acordo com o bispo católico romano Augustine Shao, a igreja Católica de Tunguu, na região sul de Zanzibar, foi atacada em torno das 22 horas, em 13 de outubro. "Algumas pessoas chegaram com martelos e com vários outros instrumentos, derrubaram o cimento e desapareceram", contou ele à Compass.
Em 15 de outubro, um pequeno prédio coberto de palha da igreja "África para Jesus" foi incendiado, o qual está localizado a uma pequena distância da igreja Católica de Tunguu.
No mesmo dia, a igreja Católica de Mchangani, que é uma casa de adoração para 120 católicos, na região sul de Unguja, foi totalmente destruída pelo fogo.
Fiéis da igreja Católica de Tunguu investiram muito tempo, materiais e dinheiro na igreja, contou Shao. O novo prédio da igreja em construção poderia acomodar até 300 paroquianos. Apesar de eles estarem tristes em ver o prédio demolido, "Eles estão determinados a continuar a construção, a continuar a seguir a fé e pregar a paz".
É muito cedo para acusar, disse ele, observando que não há evidências de quem executou os ataques. "Não temos nenhum relacionamento insatisfatório com nossos irmãos . Você pode encontrar uma pessoa que fale contra uma outra religião, mas isto não é comum".
"Nós temos fanáticos dos dois lados. Nós temos fanáticos do lado cristão, que chegam e provocam a maioria muçulmana. Nós também temos fanáticos do lado muçulmano, que provocam a minoria", disse ele.
O jornal local Guardian publicou que o mufti de Zanzibar, o xeique Harith bin Khelef, condenou os ataques contra igrejas na região sul de Unguja, exigindo que os muçulmanos em Zanzibar respeitassem a liberdade de culto.
Ele disse na sua declaração que todos os cidadãos que amam a paz e defendem a lei deveriam condenar os ataques, ao passo que eles estão em direta infração aos direitos estabelecidos nas constituições da República Unida da Tanzânia e de Zanzibar.
O delegado da polícia de Zanzibar, Khalid Iddi Nuizani, foi citado por ter afirmado que os ataques foram obra de "vândalos" sem afiliação política ou religiosa. Ele adicionou que a polícia já havia aumentado a segurança e as patrulhas ao redor das igrejas em Zanzibar.
O bispo Shao afirmou que ele e outros líderes de igrejas estavam tentando aliviar as tensões e falar às diferentes e pequenas "facções que vêm pregando nas igrejas, sem conhecer a fé da maioria - que, às vezes, eles terminam abusando de outros".
"Nós deveríamos somente nos apresentar como uma comunidade cristã e a nossa mensagem que é a paz. Nós também temos reuniões com nossos irmãos que são muçulmanos a respeito do assunto da preservação da paz na ilha", disse ele.
Um tema comum de sua pregação é: "Envergonhar o inimigo com nosso amor. Envergonhar o inimigo edificando a fé. Nunca nos vingarmos. Esta tem sido nossa política durante os últimos oito anos que eu estou aqui: orar pelo inimigo, pedir perdão ao inimigo e, ao mesmo tempo, exigir conhecer o que nós temos o direito de fazer e o que nós precisamos fazer desde que não nos vamos contra a nossa constituição ou as leis do país".
No início deste ano, as tensões aumentaram em Zanzibar, um território da Tanzânia, semi-autônomo e, geralmente, pacífico, governado por partidos políticos seculares. Em 5 de março, o grupo islâmico Jumuia ya Uamsho na Mihadhara (UAMSHO, "Organização de Avivamento e Propagação") realizou uma assembléia ilegal contra uma proibição governamental sobre suas manifestações.
A proibição foi imposta após as manifestações onde o UAMSHO distribuiu vídeos e literatura de treinamento de jihad, incitando o assassinato de políticos seculares que se recusam a impor a sharia ou a lei islâmica.
A polícia lançou gás lacrimogêneo contra os jovens manifestantes do UAMSHO que jogaram pedras nas forças de segurança e colocaram fogo em pneus de carros nas ruas de Zanzibar, após sair das orações de sexta-feira.
Em 10 de março, incendiários colocaram fogo em uma igreja Católica Romana, localizada no bairro central de Jumbi. A Imprensa Associada mencionou que o oficial de polícia Hamad Issa, descreveu o ataque como "um ato deliberado com o intuito de incitar hostilidades religiosas em Zanzibar. É um ato de intolerância religiosa".
Em 17 de março, agressores desconhecidos atiraram uma bomba de petróleo e destruíram um ônibus escolar que pertence à igreja Católica enquanto o ônibus estava estacionado na propriedade da Escola Fundamental de Francis Maria Lieberman. Além disso, há um ano, uma igreja Católica e um veículo da igreja Católica foram bombardeados na ilha de Pemba, em Zanzibar. Existem mais de quinze mil católicos na ilha. Há também congregações anglicanas e luteranas em Pemba.
Historicamente, Zanzibar difere bastante do continente da Tanzânia, onde mais de 50 por cento da população é cristã. Zanzibar, um antigo centro comercial persa/árabe, foi governado por Portugal nos séculos 16 e 17, mas retornou aos árabes Omani, no início do século 18.
O acordo anglo-alemão de 1890 tornou Zanzibar um protetorado britânico. Em 1964, Tanganyika unificou-se a Zanzibar a fim de formar a República Unida da Tanzânia.
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