Em entrevista exclusiva, diretor da Portas Abertas na África comenta sobre a situação atual da Igreja na Eritreia. Esta é a segunda parte de uma série de dois blocos. Leia a primeira parte aqui.
Qual você diria ser o maior desafio para a igreja na Eritreia?
Há muitos desafios que a Igreja está enfrentando. Durante os últimos dois ou três anos, o maior deles foi provavelmente a prisão dos líderes. Qualquer um identificado como líder principal de uma igreja clandestina era preso. Normalmente havia outra pessoa para assumir o posto, mas em um período muito curto de tempo, ela era identificada pelo governo também. Isso acontece porque o governo tem informantes por todo, procurando por cultos cristãos e delatando-os. Homens são treinados para assumir os cargos de liderança nas igrejas, mas não demora muito até que sejam identificados e detidos.
Imagine só o tipo de pressão que está sobre as famílias da liderança da igreja, especialmente sobre as esposas. O nível de estresses deles é tremendo, e isso é um desafio para os pastores.
Outro desafio é o fato de que muitos jovens, considerados potenciais líderes, fogem a outros países. A Igreja fica ainda mais pobre com isso.
A morte de cristãos nas cadeias tem abalado e desencorajado a Igreja. A liderança conhecia alguns dos falecidos; outros se converteram enquanto prestavam o serviço militar. Esses são desafios, e a Igreja pede que oremos por eles.
Sabem-se quantos líderes estão presos no momento?
Temos notícia de que há 100 pastores presos.
O governo tem conseguido calar a voz dos cristãos em Eritreia?
Apesar da perseguição e da instabilidade que assolam a Igreja, os cristãos testemunham a graça de Deus em ação na vida da Igreja. Os líderes dizem que nas reuniões secretas, almas se entregam a Jesus Cristo. Dizem também que novos líderes surgem a partir desse movimento clandestino. Os testemunhos de irmãos que são fiéis sob pressão também encoraja a Igreja.
Você pode compartilhar um testemunho desses?
Claro. Fui informado de um ex-muçulmano que foi preso depois de se converter. Ele foi posto numa cela com mais dois cristãos. Um dia, os três foram interrogados. Os outros dois foram chamados primeiro enquanto o ex-muçulmano esperava em outra sala.
Os policiais perguntaram aos dois homens se estavam dispostos a não ir mais aos cultos. Ambos eram cristãos havia mais de dez anos. Por causa da sua comunidade deles e de suas obrigações com a família (eles eram casados e tinham filhos), os dois concordaram. Conforme o sistema presidiário, ambos tiveram de chamar alguém para buscá-los – essa pessoa se torna a garantia de que os detentos cumprirão os termos sob os quais foram libertados.
Então chamaram e interrogaram o ex-muçulmano que era cristão havia apenas sete meses. Os policiais lhe perguntaram se estava disposto a parar de pregar sobre Cristo. Ele respondeu: "Não vou deixar de falar sobre Cristo porque isso é a minha vida. Não posso ficar sem falar sobre Ele. Na realidade, se você me permitir, vou começar com você". O interrogador ficou muito bravo e transferiu o homem para o acampamento militar de Mitire, a fim de ser punido. Aparentemente, o ex-muçulmano ainda está lá.
Em sua opinião, os desafios trouxeram maior unidade à Igreja eritreia?Parece sim que a perseguição trouxe maior unidade. Conhecemos pastores que ministram a pessoas a despeito das denominações. Eles testemunham que há uma unidade como nunca viram antes. Sentem que a perseguição os aproximou. Ouvimos relatos de pastores de denominações diferentes que estão presos e que ministram um ao outro sempre que têm oportunidade. Porém, é preciso ser realista. Ainda há segregações.
Fale um pouco sobre a sociedade na Eritreia.
Faz três anos que o governo proibiu a atividade de empresários na Eritreia. Essas pessoas estão deixando o país para fazer negócios em outro lugar. Para eles, não é mais financeiramente viável permanecer na Eritreia.
Comida e artigos de consumo são escassos. O governo estabeleceu centros de distribuição por toda a nação, onde se vendem comida e outros itens. Esses artigos são tão caros que a maioria das pessoas não pode adquiri-los. Há também cotas para cada família. Os cristãos nos dizem que não importa o tamanho da família, ela só pode comprar cinco pãezinhos por dia. Para consegui-los, você tem de se levantar bem cedo e esperar na fila. Pode ser que a comida acabe enquanto você estiver lá, então você tem de voltar no dia seguinte. Há pão no mercado negro, mas é ainda mais caro.
Você tem pedidos de oração pelo país que gostaria de compartilhar?
• Continue a pedir a Deus pela Eritreia, e pela salvação do presidente e de outros líderes influentes;
• Peça a Deus para sustentar todos os irmãos que estão presos;
• Ore em particular pelas esposas e filhos dos líderes que estão na cadeia. Que elas permaneçam firmes em Deus mesmo distantes de seus maridos e pais;
• Interceda pelas igrejas clandestinas e por seus líderes. Que eles experimentem a proteção de Deus a fim de que possam continuar a ministrar ao povo;
• Peça a Deus para prover o sustento para seus filhos nessa época de escassez;
• Ore para que Deus edifique sua Igreja na Eritreia para sua glória.
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