O reverendo Tongkhojang Lunkim, secretário administrativo da KCC (Kuki Christian Church), continua desaparecido, dois meses depois de ter sido seqüestrado por um exército rebelde. Os parentes do pastor temem por sua segurança.
Além de seu envolvimento com a KCC - centenas de igrejas da mesma região do país e também da Birmânia e Butão - Lunkim era líder em sua vila em Manipur e presidente do Movimento Kuki para os Direitos Humanos.
Ele também editava várias versões em idiomas locais do guia devocional diário "O Cenáculo", uma publicação da Igreja Metodista Unida nos Estados Unidos.
Os seqüestradores que fazem parte do Exército de Libertação de Kuki (KLA) exigiram um resgate de 10 milhões de rúpias - cerca de 225 mil dólares. A KLA é um dos vários grupos insurgentes que lutam pela independência dos territórios na região; o governo indiano alocou tropas em Manipur em oposição à KLA e organizações similares.
A mesma organização seqüestrou o filho de Lunkim em 2003, mas o libertou sem pagamento de resgate.
Antes do seqüestro, o reverendo Lunkim havia dito à equipe de "O Cenáculo" nos Estados Unidos que militantes estavam muito ativos na região.
O reverendo Stephen Bryant, editor internacional da publicação, disse que o seqüestro está visivelmente relacionado à sua obra missionária.
"Lunkim tem convivido com as ameaças desde seu chamado cristão", disse Bryant ao serviço de notícias da Metodista Unida. "Mas ele tem perseverado no ministério, com sua paixão pelas almas".
Questões financeiras
O inspetor Khundogbam Kesho, da delegacia de Imphal, em Manipur, disse entretanto que "o seqüestro não tem nada a ver com a religião".
O policial disse que a KLA estava interessado no dinheiro que o governo tinha supostamente doado à Lunkim pelas negociações de paz entre a KLA e o exército indiano.
Entretanto, investigações concluíram que não havia fundamento nessas alegações.
Quando perguntado se a polícia planejava ajudar o reverendo Lunkim, o inspetor Kesho disse que tinha aumentado as medidas de segurança no vale para prevenir maiores deteriorações na "ordem e na lei".
No dia 16 de fevereiro, a esposa do reverendo entrou com uma petição junto às autoridades para intervir, dizendo que seu marido era inocente e não merecia passar por "torturas físicas e emocionais".
Questões políticas
O padre Cedric Prakash, diretor do Centro para Direitos Humanos, Justiça e Paz, em Ahmedabad, e porta-voz oficial para o Fórum Cristão para Direitos Humanos, em Gujarat, disse que o seqüestro está ligado tanto a motivos religiosos como políticos.
"Os kukis se consideram uma tribo cristã, sendo assim não é fácil separar as duas realidades", disse o padre Cedric. "Os partidos políticos vêem o seqüestro do reverendo Lunkim como um assunto político somente, mas sua poderosa influência como líder cristão não pode ser desprezada".
O padre Cedric afirmou ainda que extremistas hindus estavam bastante ativos na mesma região do país. "A maneira mais fácil para eles estabelecerem uma identidade é perseguir os cristãos".
John Dayal, presidente da União Católica Toda a Índia (AICU, sigla em inglês), disse que a presença da maioria cristã na região é um dos maiores fatores conflitantes na política.
"Partidos fundamentalistas hindus tais como o BJP (Bharatiya Janata Party) têm acusado os cristãos de serem uma ameaça à unidade e integridade da nação", explicou Dayal.
John Dayal concordou que o reverendo Lunkim era um alvo natural devido à sua posição de liderança e envolvimento nas negociações de paz.
O reverendo Babu Joseph, porta-voz para a Conferência dos Bispos da Índia, disse que o seqüestro de Lunkim poderia espalhar uma tensão social e estabelecer precedentes para insurgentes e extremistas hindus, especialmente se o resgate for pago.
"Nosso país não pode aturar essa desarmonia, sendo que já estamos lutando contra divisão de forças em outras partes da Índia", acrescentou Babu Joseph.
O Nordeste da Índia
Os sete Estados do nordeste da Índia - Arunachal Pradesh, Assam, Meghalaya, Manipur, Mizoram, Nagaland e Tripura - estão ligados ao restante do país através de uma estreita faixa de terra, com o Nepal ao norte e Bangladesh ao sul.
Conhecidos como "As Sete Irmãs", esses Estados formam uma área complicada, com muitos grupos rebeldes étnicos lutando por independência.
Como os cristãos compõem a maioria na região, extremistas hindus e outros observadores externos presumem que as igrejas apóiam a insurgência.
O Compass conversou com o padre Cedric Prakash, diretor do Centro para Direitos Humanos, Justiça e Paz (Prashant) em Ahmedabad, e porta-voz oficial para o Fórum Cristão para Direitos Humanos, em Gujarat, sobre o papel da igreja nessa região.
- Que papel, se é que existe, as igrejas têm assumido nessas insurgências?
Primeiramente, precisamos entender o conceito de "igreja" no nordeste da Índia. Em alguns dos sete estados há uma alta porcentagem de cristãos, que pertencem à principal linha de denominações e também a um número de igrejas menores. As igrejas não podem apoiar os insurgentes, mas com certeza simpatizam com a legitimidade do sofrimento dos povos tribais.
- As igrejas apóiam algum grupo armado?
Tenho certeza que não existe nenhum apoio explícito a exércitos armados. Muitos dos insurgentes vêem de famílias cristãs, e essa é a única ligação - mas a luta não é endossada pela igreja.
- A igreja tem feito alguma tentativa para trazer paz à região?
Não acho que seja possível para qualquer grupo de igreja permanecer neutro nessa região. A situação é tão complexa que um lado é forçado a tomar partido de alguma forma. Certamente, muitas igrejas e indivíduos têm tentado promover a paz. Eu pessoalmente estou envolvido em um programa chamado "Local Capacities for Peace", que trabalha com trinta e cinco grupos - principalmente igrejas e Ongs para acabar com as divisões étnicas. Ainda que não tenhamos um sucesso completo, as pessoas estão definitivamente colaborando mais com os programas sociais em comum. Para garantir a paz de verdade, algumas decisões políticas devem ser tomadas para assegurar que o povo do nordeste não precise mais ser maltratado pelo governo.
- Os conflitos contribuem diretamente à perseguição cristã?
É difícil dizer isso. Por um lado, nem todos os kukis são cristãos, mas todos estão juntos na luta contra a dominação naga. Então, na realidade, pode ser que a Igreja Batista Naga esteja de um lado e a Igreja Batista Kuki, do outro.
- Os cristãos dessa região são perseguidos por outros motivos além da insurgência? Isso é, através da discriminação social, ou oposição de grupos extremistas hindus?
Ultimamente tem havido um movimento na atividade de extremistas hindus no nordeste, especialmente nos Estados de Arunachal e Tripura, onde há uma alta concentração de cristãos.
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