A previsão de pancadas isoladas de chuva no decorrer do dia de hoje assusta moradores do litoral norte catarinense, área atingida por cheias e deslizamentos na semana passada. A Defesa Civil de Santa Catarina registrou, até às 11h de hoje, 116 mortes e 31 pessoas desaparecidas; 27,4 mil pessoas perderam suas casas.
Campanhas de norte a sul do Brasil estão em andamento para socorrer as vítimas do desastre natural ocorrido no Vale do Itajaí, atingindo as cidades de Blumenau, Itajaí, Gaspar, Brusque, Joinville. As oito contas bancárias abertas pela Defesa Civil do Estado receberam, até ontem, 7,8 milhões de reais (cerca de 3,40 milhões de dólares).
Na segunda-feira, 1, começou a funcionar o Hospital de Campanha que a Força Aérea Brasileira instalou no trevo de Itajaí-Ilhota, na BR 101, rodovia que corta o Estado de Sul a Norte. Trabalham no hospital, que tem capacidade para atender até 400 pacientes/dia, 37 médicos especialistas.
A Secretaria Estadual da Saúde emitiu orientações à população para evitar doenças, que vão desde o cuidado com alimentos, com a água, até o momento da limpeza de ruas, casas e lojas comerciais. O alerta é que as pessoas evitem o contato com a lama que fica das cheias, pois ela é infectante. A recomendação é que, nesses casos, as pessoas sempre usem botas e luvas, e jamais andem descalças.
As equipes de reparo suspenderam os trabalhos no gasoduto Bolívia-Brasil, que pegou fogo em morro no interior de Gaspar, depois de ter a tubulação rompida por deslizamento de terra. Ainda há riscos de ocorrerem outras quedas na área. O fornecimento de gás para o Sul do Brasil está interrompido. No sul do Estado de Santa Catarina indústrias pararam as máquinas por falta de energia e deram férias coletivas aos funcionários.
O porto de Itajaí, o segundo maior em movimentação de mercadorias, com uma média diária de 33,5 milhões de reais (cerca de 14,5 milhões de dólares) está fechado desde o dia 21 de novembro. A velocidade da correnteza do rio Itajaí-Açu chegou a 24 quilômetros por hora na região do porto, quando a velocidade normal é de 2 quilômetros por hora. A força das águas destruiu dois berços de atracamento de navios e comprometeu um armazém. O porto receberá 350 milhões de reais (152 milhões de dólares) para recuperação.
Dados do Centro de Informações de Recursos Ambientais e de Hidrometeorologia de Santa Catarina (Epagri-Ciram) mostram que a chuva em 24 dias de novembro bateu recorde histórico nas cidades de Blumenau, Indaial, Joinville, Itajaí e Florianpópolis.
Em Blumenau choveu 878,4 milímetros, superando em muito o recorde anterior, de 167,2 milímetros, em 2006. No município também houve superação do recorde do acumulado de chuvas em 24h, com a marca de 283,1 milímetros entre às 9h do dia 22 às 9h do dia 23 de novembro. O volume máximo de chuva acumulado num dia no município era de 74,9 milímetros.
O índice de 283 milímetros de chuva num dia significa que naquele local choveu 283 litros por metro quadrado. Imprensa começa a ouvir especialistas para determinar o que ocasionou o fenômeno.
Em entrevista para o jornal O Estado de São Paulo, a professora Beate Frank resumiu as causas em cinco itens: a quantidade de chuva na região, o local da concentração da chuva, o tipo de rocha do Vale do Itajaí, a forma como vem sendo feita a ocupação desordenada do local e o desmatamento da vegetação local.
Os deslizamentos de terra atingiram casas de pobres e de ricos, que constroem em encostas de morros. Hoje, boa parcela da população da região do Vale do Itajaí reside em encostas.
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