Portas Abertas tem acompanhado a história do pastor indonésio Rinaldi Damanik desde o começo de 2002. Como secretário-geral do Sínodo da Igreja Cristã de Sulawesi Central (GKST), ele visitou pessoalmente cada uma das aldeias da região de Poso que foram atacadas por grupos extremistas, como o Laskar Jihad. Ele era extremamente respeitado pelos cristãos por causa do seu cuidado tanto com os cristãos como com os muçulmanos, vítimas da violência. Ele foi também o principal articulador nas negociações entre muçulmanos e cristãos que levaram ao Acordo de Malino, que trouxe relativa paz para a região.
Enquanto o Laskar Jihad tentava fazer com que Damanik fosse morto, foi a polícia que acabou impedindo que isso ocorresse. Em agosto de 2002, o reverendo foi abordado quando voltava para casa, depois de ter participado de uma missão em auxílio a refugiados. Ele foi levado para um interrogatório. Dias depois, a polícia alegou ter encontrado armas de fabricação caseira e munição em seu carro. Apesar da evidência de que as armas foram plantadas, ele foi sentenciado a três anos de prisão.
Damanik foi libertado em novembro passado, quase um ano antes do término da pena, com a ajuda de uma apelação encaminhada por um clérigo muçulmano, que testificou de seu caráter e de seus esforços em promover a paz. Pouco antes de sua libertação, ele foi eleito presidente do Sínodo de GKST. Atualmente, Damanik lidera 496 igrejas e 542 pastores no sínodo. No dia 23 de maio, Portas Abertas o encontrou em sua casa em Tentena. A seguir, trechos de sua entrevista.
Portas Abertas - O que mudou em sua vida enquanto esteve na prisão?
Reverendo Rinaldi Damanik - Minha vida mudou significativamente. No que diz respeito à oração, antes de estar preso, sentia que Deus estava sentando à minha frente. Mas na prisão, sentia que eu estava sentando em seu colo. O tempo na prisão ensinou-me a controlar as emoções e a ser sábio, especialmente quando eu via os outros presos apanharem. Por dentro eu queria reagir. Mas aprendi a controlar minhas emoções e a falar com sabedoria.
Enquanto estava na prisão, encontrei membros do Laskar Jihad que atacaram as aldeias da minha região. Tive várias oportunidades de conversar com eles. Eles me diziam abertamente o número de pessoas do grupo, de onde eram e de onde vinham suas armas. Eles me conheciam e sabiam que eu era uma vítima (da armação da polícia). A diferença entre nós começou a desaparecer quando levantei a voz em defesa dos muçulmanos. Muitos prisioneiros cristãos queriam atrapalhá-los durante seu período de orações. Eu dizia aos cristãos que os respeitassem. Os muçulmanos tomaram conhecimento do fato e me agradeceram. Isso abriu oportunidades para o diálogo.
Portas Abertas - O que mais você aprendeu de suas conversas com os homens do Laskar Jihad?
Reverendo Damanik - Tanto eu como eles conhecemos os problemas da Indonésia, mas pensamos de maneira muito diferente a respeito de como resolver os problemas. O governo é muito corrupto e as leis não são respeitadas. A solução deles é substituir o governo secular pela lei sharia. Os cristãos têm uma abordagem bem diferente.
Portas Abertas - Você também teve a oportunidade de falar com Imam Samudra, o homem acusado de planejar, em outubro de 2001, o atentado a bomba em uma boate de Bali que matou 200 pessoas. O que vocês dois conversaram?
Reverendo Damanik - Perguntei a Imam Samudra como ele pôde explodir a boate. Não foram só turistas que morreram no atentado, mas também muitos indonésios. Ele disse que aquele era um lugar de pecado e que "você não tolera lugares como aquele". Esperei o momento certo para falar sobre Deus com Imam Samudra. Um dia ele me deu uma longa explicação sobre os 99 nomes de Deus e eu o ouvi. Finalmente, ele me perguntou o que eu achava. Disse-lhe que eu podia não saber sobre Deus tanto quanto ele, mas que eu era fanático pela forma como Jesus nos ensinou a expressar nosso amor e nosso interesse. Tive a oportunidade de dividir o evangelho com ele e ele ouviu sem me interromper.
Portas Abertas - Essas relações permaneceram depois que você foi liberto da prisão?
Reverendo Damanik - Há uma aliança entre as organizações muçulmanos da região: o Fórum Islâmico de Poso. Eles incluem pessoas que tiveram participação ativa em ataques. Mas por causa dos meus contatos na prisão, há uma aliança crescente entre as duas religiões. Com a proximidade das eleições no dia 30 de junho, muçulmanos e cristãos estão cerrando fileiras de modo a garantir que a eleição seja segura e que não haja fraudes. Também estamos preparando uma declaração conjunta sobre o que gostaríamos de ver o governo eleito realizar - para o bem comum de ambos os grupos. Porém, também devo dizer que tenho encontrado oposição por parte dos cristãos que dizem que eu não deveria trabalhar junto com muçulmanos radicais.
Portas Abertas - Qual é a condição geral da Igreja na região de Poso?
Reverendo Damanik - Como resultado do conflito, há uma maior unidade entre as denominações. Antes costumávamos competir uns contra os outros. O conflito nos uniu. Entretanto, precisamos continuar a edificar a unidade da Igreja. Essa é uma das minhas prioridades como presidente do sínodo.
Portas Abertas - Como a Igreja do Ocidente deve orar pela Igreja de Sulawesi Central e de toda a Indonésia?
Reverendo Damanik - Primeiro, quero agradecer ao Ocidente, especialmente aos europeus, por mandar missionários para compartilhar Cristo conosco. Segundo, talvez você tenha ouvido que a Igreja aqui é perseguida. Entretanto, sermos oprimidos é o jeito de Deus nos transformar. Sim, o governo é corrupto. Mas, a igreja é corrupta também? Estamos unidos? Estamos reconciliados? Deus está fazendo algo bom para limpar a casa e fazer de nós uma Igreja melhor. Precisamos de muita oração nesse processo.
P.S.: Cinco dias depois desta entrevista, duas bombas foram detonadas no mercado lotado de Tentena, matando 22 pessoas e ferindo muitas mais. O Reverendo Damanik foi citado pela Associated Press dizendo que os terroristas pretendiam fazer com "que a região voltasse ao caos. Precisamos estar calmos".
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