A Igreja Renascer mandou reformar parte das instalações da Casa Lar, abrigo para 34 crianças instalado em Franco da Rocha, na Grande São Paulo. A reforma começou depois do dia 10 de outubro, quando o Grupo de Operações Especiais (GOE), da Polícia Civil, fez blitz no local a pedido do Ministério Público. A Casa Lar recebe crianças vítimas de violência, enviadas pelo Conselho Tutelar do município.
A diretora da Casa Lar, Talita (ela não quis dar o sobrenome), afirma que requisitou a troca do gesso do teto antes mesmo da vistoria do GOE. “A parte que eles filmaram a gente está reformando, mas a reforma começou depois da visita”, afirmou.
Na terça-feira (23), o Ministério Público e a Polícia Civil afirmaram que a Casa Lar e mais duas entidades mantidas pela Renascer recebem menos recursos do que deveriam. Em depoimento no processo em que são acusados de lavagem de dinheiro, os donos da Renascer alegam que o dinheiro arrecadado dos fiéis vai para as três entidades assistenciais.
O G1 esteve na Casa Lar nesta quarta-feira (24) com autorização da assessoria da Renascer (veja acima imagens gravadas no local). A reportagem não pôde conversar com o funcionário que trabalha na obra e nem teve acesso à sala de TV, para onde, segundo Talita, foram destinados os móveis da área. Na sala em reforma, o trânsito é livre. A casa é simples e há móveis em mau estado. As cenas mostram que a porta da geladeira, por exemplo, tem fios aparentes.
Na busca realizada em 10 de outubro, o GOE encontrou feijão com data de validade vencida na despensa. Talita não quis gravar entrevista, mas disse ao G1 que o feijão encontrado foi uma doação recebida na véspera. “É tudo doação, roupa, calçado, brinquedo. Tudo”, disse ela. Talita afirmou também que além das doações, as despesas da Casa Lar são pagas com um “caixa semanal” que a entidade recebe. Ela não quis mencionar o valor. Esse caixa, de acordo com ela, provém de contribuições arrecadadas por meio de um carnê voluntário denominado Gideão da Conquista.
O promotor de Justiça Marcelo Mendroni e o delegado do Grupo de Operações Táticas (GOE) da Polícia Civil Antônio Sucupira Neto apresentaram, na manhã de terça-feira (23), material apreendido em três unidades assistenciais mantidas pela Igreja Renascer.
As denúncias do MP
As ações foram feitas no bairro de Heliópolis, na Zona Sul de São Paulo, em Franco da Rocha e em Santana do Parnaíba, na região metropolitana.
Em nota, a Renascer negou as denúncias e convidou os jornalistas para conhecer as entidades. “A Igreja Apostólica Renascer em Cristo, mais que indignada, está perplexa com as 'acusações' contra três de suas entidades assistenciais”, diz o texto. A instituição afirma que o atendimento nestas unidades é gratuito e os gastos são de responsabilidade da Renascer e da Fundação Renascer.
De acordo com o Ministério Público, as entidades que cuidam de crianças recebiam recursos insuficientes para manutenção e os menores tinham de trabalhar para ser atendidos. “Se algum dinheiro era colocado nestas entidades, era uma quantia ínfima”, disse. Uma diretora chegou a ser levada à delegacia porque a unidade de Franco da Rocha apresentava feijão com data de validade vencida, diz a Promotoria.
“Nós chegamos à conclusão de que eles, apesar de alegarem que recebem doações de fiéis para cuidar de entidades assistenciais, não fazem nada disso. As entidades estão em situação triste de degradação. A conclusão da Promotoria é que o dinheiro que eles recebem dos fiéis também serve para engordar o patrimônio pessoal dos Hernandes. As instituições servem como pano de fundo para aumentar o valor da arrecadação”, disse Mendroni.As visitas às três entidades foram realizadas em 10 de outubro. Os donos da Renascer, Estevam e Sônia Hernandes, disseram em depoimento ao Ministério Público que o dinheiro arrecadado dos fiéis é utilizado para manutenção das três entidades assistenciais. As diligências foram determinadas dentro de um dos dois processos de lavagem de dinheiro que a família Hernandes responde à Justiça brasileira.
O promotor Mendroni afirma que apenas uma das empresas da Renascer movimentou R$ 46 milhões nos últimos anos. Para ele, a situação física das entidades demonstra que elas recebem muito pouco desse dinheiro.
Mendroni afirma que a intenção inicial do MP ao realizar as diligências era “fazer prova” a favor da Renascer, ou seja, mostrar que o dinheiro arrecadado realmente ia para as entidades. No entanto, a realidade mostrou o contrário.
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