A votação da abertura do impeachment na Câmara dos Deputados no último domingo, 17 de abril, foi marcada pela menção, por vários parlamentares, a Deus em suas justificativas de voto. Esse fato incomodou algumas lideranças religiosas, que costumam se posicionar com um viés de esquerda.
Na visão dessas lideranças, a separação entre a fé e o Estado precisa ser mais extrema, suprimindo as liberdades de expressão e crença salvaguardadas na Constituição.
De acordo com levantamento realizado pelo portal iG, a menção a Deus ocorreu 59 vezes durante a votação, ficando próxima à quantidade de vezes que a palavra “corrupção” apareceu.
Um dos que fizeram referência a Deus, o presidente da Câmara Eduardo Cunha afirmou, em seu voto, que espera que “Deus tenha misericórdia desta Nação”.
Para a presidente do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (CONIC) – o mesmo que se manifestou contrário ao processo de impeachment –, pastora Romi Bencke, essas citações distorcem o sentido da religião: “Não concordamos com essa relação complexa e complicada entre religião e política representativa”, pontua.
O CONIC é formado por congregações de igrejas como a Evangélica de Confissão Luterana, Episcopal Anglicana do Brasil, Metodista e Católica. Para Romi, uma das preocupações sobre a questão é com o uso da religião para justificar um posicionamento em questões controversas.
“Infelizmente, vimos que os parlamentares que se pronunciaram em nome de Deus, ao longo do mandato, se manifestam contra mulheres, defendem a agenda do agronegócio e assim por diante. Nos preocupa bastante o fato de Deus ser invocado na defesa de pautas conservadoras – é ruim adjetivar, mas é a primeira palavra que me ocorre – e de serem colocadas citações bíblicas descontextualizadas. Não aceitamos isso e eu acho que é urgente refletir sobre o papel da religião na sociedade”, argumenta, deixando de observar que o agronegócio em si é o único setor da economia brasileira que segue em alta, minimizando a recessão pela qual o país passa e produzindo alimentos para o próprio país e para exportação.
Para Leonardo Boff, teólogo e ex-sacerdote católico, a referência a Deus para expressar uma convicção a respeito do processo é vã: “Dezenas de parlamentares da bancada evangélica fizeram claramente discursos de tom religioso e invocando o nome de Deus. E todos, sem exceção, votaram pelo impedimento. Poucas vezes se ofendeu tanto o segundo mandamento da lei de Deus que proíbe usar o santo nome de Deus em vão”, afirmou.
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