Saber como é a vida da população em países cultural e politicamente fechados para o mundo, através dos canais populares da TV, não é a mesma coisa que conhecer o testemunho de pessoas que viveram nesses locais, como a senhora Hea Woo, sobrevivente do regime comunista da Coreia do Norte.
Woo, cujo nome verdadeiro foi omitido por questão de segurança, atualmente vive na Coreia do Sul, de onde conta sua história para o mundo. A organização Portas Abertas divulgou uma das suas palestras, onde ela firma como conseguiu superar anos de tortura, humilhação e cenas de morte.
Antes e depois da União Soviética
Até o ano de 1991 a União Soviética (URSS) era o maior bloco socialista do mundo. Composta por 15 repúblicas que ocupavam metade da Europa Oriental e um terço do norte da Ásia, essa potência política tinha recursos para financiar pequenos regimes (ou projetos deles) independentes, como a Coreia do Norte.
Após se tornar ela mesma insustentável economicamente, a URSS foi dissolvida em 26 de dezembro de 1991, deixando de apoiar às nações dependentes do seu regime. Isso fez com que países como a Coreia do Norte aprofundassem ainda mais a crise em que já estavam.
“Antes, as pessoas ainda recebiam salários e rações para se alimentar”, disse Woo, lembrando do período em que os norte-coreanos recebiam ajuda da URSS, antes da sua queda.
“As sopas de arroz eram distribuídas em quantidades muito pequenas porque o governo tinha que economizar. Então, era algo para manutenção simples. Mas até mesmo isso parou de ser distribuído. Todos dependiam dessas sopas e o governo interrompeu a distribuição”, conta.
“E as pessoas estavam muito preocupadas sobre como continuar suas vidas. Naquela época, os pais não tinham nem condições de alimentar seus próprios filhos. Então as famílias ficaram no chão por semanas, porque não tinham sequer energia para se levantar. Não era questão de saber se algo era saboroso ou não. Nós simplesmente não tínhamos nada para cozinhar e comer”
Woo ressaltou que a fome causou tantas mortes, que às crianças que saíam nas ruas perderam o medo de ver pessoas mortas estiradas no chão. “Muitas pessoas morreram de fome. Quando íamos às estações de trem, pela manhã, encontrávamos as pessoas simplesmente deitadas no chão, mortas. As crianças não tinham mais medo de ver os cadáveres porque viram tantos”, disse ela.
Adoração ao Estado e restrição da liberdade civil
Após ver a sua filha morrer de fome em 1997, com apenas 26 anos, Woo decidiu fugir para a China. Mas ao chegar no território chinês, que apesar de possuir o mesmo regime político do seu país, tinha mais oportunidades de vida, ela foi capturada e deportada para a Coreia do Norte.
Ao chegar na Coreia, Woo foi presa e levada para um dos campos de trabalho forçado. “Homens e mulheres eram separados; todos os presos pareciam estar sempre prestes a desmaiar”, disse ela.
“Eles estavam todos sem esperança e em desespero. E mais, eles estavam morrendo de fome. Cada pessoa recebia um punhado de milho podre e não havia mais nada para comer. Era como uma água suja, não poderia nem ser chamado uma sopa. Nós recebíamos aquilo como ‘alimento’ durante o ano inteiro. Nada mais”.
Por fim, ela conseguiu fugir posteriormente durante uma viagem para a China, ao cair por acidente no rio Tumen. Antes disso, porém, ela disse que foram suas orações que lhe mantiveram fortalecida.
“O trabalho físico era difícil, mas o pior era que não tínhamos liberdade de fé”, disse ela, segundo o Guiame. “Eu orei para que Deus protegesse nossa igreja clandestina. E também para que o governo perverso desmoronasse, e essa liberdade de fé chegasse à Coreia do Norte”.
“Eu orei para que a idolatria à dinastia Kim, que persistia ao longo das gerações desaparecesse e que as pessoas pudessem se arrepender […]. Deus me protegeu com Sua graça. Quando eu orei para que eu pudesse me tornasse luz e sal, Ele me disse para ‘compartilhar e sacrificar’. E ele também me disse para evangelizar. Havia tantas respostas que recebi através da minha oração”, conclui Woo.
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