líderes religiosos reunidos em Fórum nesta cidade, convocado pela Rede Global de Religiões pela Infância, propuseram à Organização das Nações Unidas (ONU) a introdução do Dia Mundial de Oração e Ação pelos Meninos e Meninas, a ser lembrado a cada 20 de novembro, data que marca a assinatura do tratado de maior aceitação no mundo, a Convenção sobre os Direitos da Criança.

“Temos que dobrar ou triplicar a escala dos programas de desenvolvimento e apoiar outras iniciativas visionárias, entender que a solução está no nosso esforço comum. A educação religiosa deve valorizar mais a vida e os serviços humanitários das igrejas devem incluir mais jovens na implantação dos programas e promover o diálogo inter-religioso”, apontaram os religiosos. As comunidades eclesiais podem transformar essas boas intenções em políticas públicas, arrolaram.

Convidados pela Fundação Arigatô, líderes de diferentes religiões trouxeram palavras de esperança ao Fórum da Rede, que tem lugar em Hiroshima, no Japão, de 24 a 26 de maio. “Originalmente, ensinamos que as pessoas são boas e inocentes, mas que mudam. Isso simboliza que as crianças estão mais próximas do divino do que os adultos”, disse o reverendo Takeyasu Miyamoto, 91 anos, fundador da Rede.

“O Deus da criançada ainda tem esperança no ser humano”, disse o vice-presidente da República do Irã, Seyed Mohammed Ali Abrahi. “Cada criança que nasce traz uma mensagem que Deus ainda não deu ao mundo”, frisou o monge budista Nischiko Niwano, do Japão. A presidente do Conselho Mundial de Igrejas (CMI), Ofelia Ortega, teme um mundo sem crianças.

O diretor adjunto do Unicef, Kul Gautmann, destacou que o mundo vive um momento de prosperidade. “Uma pessoa fica milionária a cada dois dias. No entanto, 800 milhões de pessoas vão dormir com fome todas as noites. Pais e mães vendem órgãos vitais ou vendem seus meninos e meninas para sustentar os outros membros da família”, denunciou Gautmann.

A economia global não pode tolerar a pobreza, agregou. Na China, 450 milhões de pessoas foram tiradas da pobreza em apenas uma geração. O sistema de microcrédito para mulheres é um instrumento concreto de saída para a pobreza. Os índices de mortalidade infantil são os mais baixos no mundo desde os anos 60 do século passado.

O Fórum lembrou palavras de Mahatma Gandhi – “O mundo tem recursos para satisfazer as necessidades de todos, mas não têm recursos suficientes para satisfazer a ambição de alguns”. Por isso, os conflitos étnicos se disseminaram depois do colapso da União das Repúblicas Soviéticas (URSS).

Com todo esse aparato, crianças e adultos vivem, hoje, em piores condições do que no passado. No Oriente Médio, a riqueza não se transformou em paz. Para o futuro, já é possível sentir que as pessoas pobres serão as mais atingidas pelo alto preço do petróleo e pela insegurança alimentar.

Por isso, num mundo desigual o discurso pela preservação dos recursos naturais e da paz pode parecer irônico e hipócrita, quando se diz que é preciso moderar os padrões de consumo. “O que vocês fariam se ganhassem um dólar por dia?”- perguntou o representante do Unicef.

Segundo os líderes religiosos, não existe uma maneira somente de combater a pobreza. É preciso criar nas pessoas uma nova idéia de visão e um compromisso político forte com participação das pessoas.

De acordo com a proposta encaminhada à ONU, no Dia de Oração e Ação pelos Meninos e Meninas seriam celebrados serviços em todos os lugares de culto, sobre tema comum que se relacione com o bem-estar das crianças e a proteção de seus direitos. Nesse dia também deveriam ser promovidas campanhas de vacinação contra doenças infecciosas e desenvolvidos programas de educação da família sobre a importância do aleitamento materno, propôs a Rede.