Em primeiro de setembro, foram retomadas as conversações de paz sobre o futuro do norte do Mali entre o governo e os principais grupos armados Tuareg. Por quase um ano, em 2012, grupos islâmicos armados governaram a região, proibindo a prática de outras religiões, profanando e saqueando igrejas e outros locais de culto.
Milhares de pessoas fugiram da ocupação e acharam refúgio no sul do país ou em países vizinhos como Níger e Burkina Fasso. Em 11 de janeiro de 2013, tropas francesas se movimentaram para retomar o controle da região, após militantes tentaram avançar mais para o sul. O restabelecimento da segurança levou tempo e precisou de uma reconstrução em massa, enquanto muitas pessoas desabrigadas voltavam para casa. Enquanto o governo e organizações internacionais, incluindo a UNESCO, empreenderem a reconstrução da infraestrutura destruída, especialmente os monumentos antigos e os mausoléus, os cristãos do Mali dizem que sua perda não está sendo considerada.
O Dr. Mohamed Ibrahim Yattara é o presidente da Igreja Batista, presente principalmente no norte do Mali. Ele expressa seus sentimentos ao World Watch Monitor.
WWW: Qual a sua reação à reconstrução dos esforços empreendidos no norte do Mali, quando esta, como você diz, não inclui o dano causado às igrejas durante a ocupação dos jihadistas?
MIY: Não compreendemos porque uma agência da ONU pode reconstruir mausoléus, que ainda são usados como mesquitas, onde as pessoas vão para orar, enquanto que, quando se trata de igrejas, nada é feito, a despeito de todos os nossos esforços para sensibilizar o governo e as organizações internacionais.
WWW: Isso significa que, no final, vocês terão de depender de seus próprios meios?
MIY: De fato, isso é o que sempre temos feito. Historicamente, as igrejas foram construídas pelos cidadãos nacionais. Mas esperávamos que, devido às circunstâncias particulares da situação pós-conflito, nosso governo e a comunidade internacional poderiam nos ajudar no esforço de reconstrução. Mas, se esse apoio não vier de fora, continuaremos a fazer o que fizemos no passado: depender de nossos próprios recursos.
WWW: Vocês realmente têm essa capacidade?
MIY: Na verdade, em relação à atual situação de pós-conflito, não temos meios de empreender projetos de reconstrução. Somente podemos depender da generosidade de pessoas de boa vontade para caminharem conosco nesses esforços de reconstrução.
WWW: Qual a real extensão dos danos causados às igrejas?
MIY: Nós nos engajamos no processo de avaliação que visa estimar a escala dos danos. Mas já sabemos que a perda sofrida pelos cristãos do norte atinge centenas de milhões. Perdemos a maioria dos prédios, mas também veículos e outros objetos de valor inestimável. As igrejas estão em ruínas: Gao, Niafounké, Hombori e outras cidades ocupadas pelos jihadistas. Em Tumbuktu, por exemplo, além dos prédios, nosso ‘Projeto Água’ estabelecido ao longo de 20 anos, e que custou bilhões, não está mais operacional porque todo o material foi roubado. Isso se constitui em um duro golpe na população, a maior beneficiária desse projeto.
Temos o sentimento de que fundamentalistas queriam exterminar qualquer traço do cristianismo no norte do Mali. Mas Deus, em sua bondade, não permitiu tal possibilidade. A Igreja ainda está lá e a maioria dos cristãos voltou, embora em condições muito difíceis, sem assistência externa ou recursos financeiros necessários em tais circunstâncias. E, a despeito de tal adversidade, temos o direito de exercer livremente nossa fé e estamos firmemente compromissados em fazer isso acontecer.
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