Neste mês, católicos maronitas atacaram uma igreja batista independente recém-construída, próxima a Beirute. Eles maltrataram os membros que se preparavam para receber refugiados do sul do Líbano.
A violência estourou após muitas semanas de um tenso debate público entre líderes maronitas e batistas. A Igreja Maronita é uma igreja de costumes orientais em comunhão com Roma.
Mais de 20 homens da vila de Ajaltoun atacaram a igreja batista Bíblica de Cristo em 2 de agosto. Eles furaram pneus, quebraram janelas e portas do templo e roubaram computadores e equipamentos de som. Eles também agrediram alguns homens e assediaram sexualmente diversas mulheres.
Um grupo de dez homens maronitas abordaram o pastor Raymond Abou-Mekhael e outro membro da igreja às 18h30, enquanto eles descarregavam seus carro estacionados. Os maronitas quebraram uma costela do membro, que não foi identificado. O grupo também quebrou os óculos dos dois homens, estilhaçou as janelas do carro e então atirarou os dois homens para dentro. Depois disso, eles se uniram a outro grupo de dez pessoas e depredaram o prédio da igreja.
"A polícia estava na igreja assistindo a tudo", disse Raymond, 35 anos, à agência de notícias Compass. "Eles até disseram aos agressores o que roubar ou destruir."
Raymond disse que os homens eram liderados por Ajaltun Mayor Khalil Tabet, que lacrou a igreja com cera vermelha imediatamente após o ataque, para que ninguém pudesse entrar no prédio.
No dia 6 de agosto, o bispo maronita local atacou o direito de existência da igreja batista em um artigo intitulado "Não há justificativa para um prédio da Igreja Batista numa região em que a maioria é maronita".
O bispo Guy-Paul Noujaim escreveu no jornal local dizendo que não havia "batista em Ajaltoun" e que os "decretos do Conselho de Igrejas do Oriente Médioproíbem construir uma igreja em áreas em que não haja fiéis".
Em um e-mail enviado ao Compass, o bispo Noujaim disse que a congregação batista havia pedido permissão para construir uma casa, mas, em vez disso, construiu uma igreja. Ele se recusou a responder perguntas sobre se havia sido avisado sobre os planos de atacar a igreja em 2 de agosto. Entretanto, o bispo disse que estava celebrando uma missa em uma igreja nas montanhas quando recebeu um telefonema alertando-o sobre a violência.
Em artigos publicados nos jornais Addiyar e Annahar, o bispo pediu para que o procurador geral fechasse o prédio.
"Isso não faz sentido", disse Salim Sahyouni, presidente do Supremo Conselho de Igrejas Evangélicas na Síria e no Líbano, do qual a Igreja Batista de Ajaltoun pertence. Nós podemos cultuar em uma igreja construída legalmente, em um apartamento e podemos ao ar livre."
Como uma comunidade protestante no Líbano, "nós temos todo o direito de construir igrejas para cultuar livremente em qualquer lugar que escolhermos" disse Salim ao Compass. "Não precisamos pedir autorização."
Direito de culto
Em sua resposta ao Compass, o bispo Noujaim não especificou por que é ilegal realizar cultos em uma casa. Mas, ele alegou que os batistas violavam a lei ao possuírem uma gráfica no porão da igreja.
A maior reclamação do bispo foi que os batistas planejavam roubar membros maronitas de seu rebanho.
"Por que os batistas não querem participar do Conselho de Igrejas do Oriente Médio?", escreveu o bispo. Ele se referia a um conselho ecumênico de igrejas ortodoxas, católicas e certas igrejas protestantes que, de acordo com o bispo, proíbe o evangelismo dos membros uns dos outros. "Eles não suportam o diálogo e ecumenismo? Se estamos desconfiados da igreja batista, é devido ao seu mal comportamento."
O bispo não respondeu se os indivíduos de Ajaltoun têm o direito de mudar sua afiliação religiosa.
Raymond disse ao Compass que a igreja permanece oficialmente lacrada, e que ele irá processar os agressores. Ele também disse sua congregação de aproximadamente 80 pessoas está disposta a abrir uma segunda ação se lhes for negado o direito constitucional de cultuar no local.
"Mesmo se conseguirmos a permissão de retirar o lacre, ainda há ameaças de novos ataques por parte do prefeito e do bispo, caso voltemos a nos reunir", disse o pastor ao Compass. "Pela Constituição do Líbano, temos a liberdade de cultuar ali. Mas eles dizem: 'Bem, podem exercer seus direitos, mas iremos impedi-los.'"
Sob a luz das divisões étnicas e religiosas do Líbano, não é incomum que os funcionários do governo sejam mais leais aos líderes de suas comunidades particulares do que ao governo central e à lei civil.
"Nesse tipo de comunidade, o bispo sempre será consultado sobre o assunto " disse uma fonte local próxima à igreja maronita. A fonte pediu anonimato por questões de segurança, e disse: "Tudo o que se precisa é de uma palavra do bispo para que a igreja seja aberta. Mas nunca houve uma Reforma Protestante no Oriente Médio, então eles não sabem exatamente o que fazer com esses novos grupos evangélicos".
A fonte acrescentou: "Não estou afirmando que o bispo está certo, mas deve-se compreender que o Líbano tem uma sociedade bastante tribal."
"Nosso problema não é com a igreja maronita, é com esse bispo" Raymond disse ao Compass. "Nossa igreja, fundada em 1995, já se reuniu em um prédio alugado na cidade de Ballouneh, e não tivemos problemas lá. Todos os meus vizinhos e amigos maronitas lamentam pelo que está acontecendo."
O bispo Noujain disse que o conflito não é só religioso mas é político também. "Por que os batistas querem estabelecer uma diocese patriarcal? Será que eles querem enfraquecer o patriarcado maronita, roubando fiéis e depois dividindo a comunidade cristã, que já sofreu desta forma?"
A queda da taxa de natalidade e a emigração têm diminuído a população maronita do Líbano nos últimos anos. Para muitos, isso se traduz no enfraquecimento do poder político. De acordo com estimativas, aproximadamente 20% da população libanesa (metade dos cristãos libaneses) pertence à igreja maronita.
Ao ganhar sua independência em 1943, a comunidade cristã do Líbano, majoritariamente maronita, constituía mais de 50% da população do país, desempenhando um papel significante ao sustentar a representação maronita no governo central, em comparação com outros grupos religiosos e étnicos.
Raymond comentou que os cristão do Oriente Médio "são tão poucos que precisam uns dos outros. Precisamos apoiar uns aos outros. Realmente é muito ruim o que está acontecendo, pois estávamos preparando o prédio para recebe os refugiados do sul".
A guerra de 34 dias entre as tropas de Israel e do Hezbollah terminaram com um cessar-fogo oficial em 14 de agosto. Isso permitiu que milhares de refugiados libaneses pudessem retornar às suas casas. A batalha foi provocada pelo seqüestro de dois soldados israelenses no dia 12 de julho. Ela causou mais de mil mortes entre os libaneses e 150 entre os israelenses.
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