Um professor cristão do ensino médio do Goverment College, na cidade de Keffi, em Nasarawa, Estado no norte da Nigéria, será julgado por blasfêmia após castigar um aluno muçulmano.
Joshua Lai será julgado em um tribunal em Lafia, capital do Estado de Nassarawa, sob as acusações de blasfemar contra o profeta do Islã, Maomé, e por "provocação pública, tumulto e danos". Em decorrência do incidente do dia 12 de junho, alunos muçulmanos atacaram alunos e professores cristãos e queimaram quatro casas, incluindo a de Joshua.
O professor fugiu de sua casa após ser alertado por alunos cristãos sobre um plano criado por alunos muçulmanos para matá-lo naquela noite. Antes de ser expedido um mandado de prisão de oito dias contra Joshua, sob ordens do governador Alhaji Abdullahi Adamu, as autoridades já o mantinham sob custódia na delegacia de Keffi após o tumulto.
Joshua, que é professor de inglês e de história na escola, disse que estava ensinando inglês quando um aluno muçulmano da classe, Abdullahi Yusuf, chegou na hora em que a aula estava terminando.
"Perguntei a ele de onde estava vindo já que a aula havia acabado, e ele afirmou estar vindo da mesquita," disse Joshua. "Eu disse que aquilo não poderia ser verdade, pois o horário de orações matinais muçulmanas já tinha acabado há muito tempo".
O professor disse ao estudante que, por já ter sido muçulmano, ele sabia que os muçulmanos oram entre as 5h30 e 6 horas da manhã, e o aluno só chegou por volta das 9 horas.
Então ele castigou o aluno com chibatadas, e permitiu que ele entrasse na sala. As chibatadas são tradição na Nigéria, e são usadas tanto no ensino fundamental quanto no médio.
"Eu disse a ele que seus motivos não eram convincentes", afirmou Joshua, " e repeti que havia hora para tudo: hora de servir a Deus e hora de estar na sala de aula. É assim que deve ser, senão os pais dele não o teriam mandado para a escola."
Impressão equivocada
Joshua disse que depois, naquela mesma tarde, estava trabalhando em sua casa após o expediente, quando um aluno chegou e avisou que o diretor, Musa Gwadabe, queria vê-lo. Ele se dirigiu imediatamente para a sala do diretor, que disse que um comitê queria se reunir com ele.
"Fui até a sala onde o comitê estava e descobri que eram todos meus colegas de trabalho, professores da mesma escola que eu", afirmou ele. "Eles me perguntaram sobre o incidente com o aluno muçulmano no período da manhã, e eu disse a eles exatamente o que aconteceu. Eles responderam dizendo que o que eu contei a eles era a mesma coisa que o aluno havia dito, exceto em uma coisa: ele disse que eu iria açoitar o profeta Maomé."
Joshua negou ter dito isso: "Eu nunca mencionei o nome de Maomé, então eu perguntei por que tinha sido feita essa declaração. Os membros do comitê me disseram que esses alunos muçulmanos eram perigosos e que eu deveria tomar cuidado com a forma de tratá-los".
O professor cristão agradeceu ao comitê, constituído pelo professor islâmico Alhaji Jibrin Ahmed, Joseph Baka, Godwin Luka e outros dois professores, e foi embora com a impressão de que a questão estava encerrada.
Por volta das 22 horas naquela mesma noite, dois alunos cristãos foram à casa do professor, que fica no terreno da escola, para alertá-lo sobre o plano dos alunos muçulmanos de matá-lo. Um aluno cristão conseguiu se infiltrar em uma reunião para se informar sobre o ataque iminente.
"Esses dois alunos cristãos que vieram à minha casa, me aconselharam a sair imediatamente. Então meu filho e eu tivemos que deixar a casa naquela noite e fomos acolhidos por uma família cristã na cidade", afirmou Joshua.
Alunos muçulmanos queimaram sua casa, que ficava no terreno da escola, naquela noite. Os alunos enfurecidos também demoliram sua casa particular, que ainda estava em construção. Eles também atacaram estudantes cristãos.
Outros ataques
O governo do Estado de Nasarawa, que administra a escola, não tomou nenhuma medida para conter a violência, apesar da casa do governador ficar a menos de 500 metros da escola.
Os cristãos que estavam na escola descobriram que os agressores muçulmanos pretendiam degolar o professor e então o levaram para a cidade de Abuja na manhã seguinte, no dia 13 de junho.
No dia seguinte, a polícia de Keffi prendeu Joshua em Abuja. Ele foi levado para a delegacia de Keffi, onde, após um interrogatório, foi coagido a escrever uma declaração sobre o incidente. Joshua não tinha advogado.
Na sexta-feira, 15 de junho, os alunos muçulmanos na escola de Keffi atacaram novamente alunos cristãos. Após retirarem seus pertences de três dormitórios onde também viviam alunos cristãos, eles incendiaram os dormitórios.
As casas de dois professores cristãos da escola também foram incendiadas. Uma terceira casa que pertence a um professor cristão foi poupada apenas quando um professor muçulmano disse aos alunos agressores que se eles colocassem fogo na casa, a dele também seria queimada. Em vez de queimar, os alunos muçulmanos entraram na casa do professor cristão e a saquearam. Os objetos que não conseguiram levar, eles colocaram no lado de fora da casa e queimaram.
O encontro com o governador
O governador Adamu interveio apenas 3 dias após os ataques. Ele ordenou à polícia que levasse Joshua para sua casa particular em Keffi. Sentado em um sofá, afirmou Joshua, o governador o interrogou. "Então, foi você que causou esse problema?", perguntou o governador.
"'Não, senhor', eu respondi", contou Joshua. "Ele então se virou para os policiais que tinham me levado da prisão até a casa dele e disse, 'Por quê vocês o trouxeram ileso? Não estão vendo que ele está me contrariando?'"
Então o governador Adamu ordenou que Joshua fosse levado para a prisão em Lafia. "Eu fui levado de volta à delegacia de Keffi, onde fiquei detido desde a sexta-feira até a manhã de segunda-feira, e então fui transferido para o Departamento de Investigação Criminal do comando policial de Narasawa, em Lafia. E novamente fui interrogado e forçado a escrever um depoimento", alegou Joshua.
Ele ficou detido por mais dois dias na delegacia antes de ser intimado a comparecer perante ao tribunal em Lafia no dia 20 de junho. Ele se lembra de perguntar ao tribunal, "Como eu, uma vítima de ataques muçulmanos, posso ser acusado de provocação pública, motim e danos?"
Foi então que o tribunal expediu um novo mandado de prisão por 8 dias antes de um advogado ser acionado para conceder uma fiança. Uma das condições da fiança é que ele se apresente a polícia em Abuja a cada duas semanas.
Desde o incidente em junho, ele não recebeu nenhum salário. A escola também o notificou para não retornar. Joshua estimou o valor do prejuízo de sua propriedade particular em mais de 1 milhão de naira (8.033 dólares americanos).
"O que me faz prosseguir é o fato de eu acreditar que Deus tenha um motivo para permitir que essas coisas aconteçam", afirmou ele. "É a minha fé em Deus que tem me dado forças."
A crise de junho foi o segundo conflito religioso que atingiu o Goverment College. O primeiro aconteceu há mais de dez anos, quando a casa de um professor de conhecimentos religiosos, que era cristão, foi incendiada.
E esses conflitos religiosos na escola não foram os primeiros em Keffi. Há dois anos, extremistas muçulmanos ameaçaram matar enfermeiras cristãs do Centro Médico Federal da cidade, e a administração do hospital proibiu as enfermeiras de manter atividades comunitárias.
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