Um pastor na Argentina tem recebido cartas com ameaças, e cartazes com a imagem de seu rosto foram espalhados em Quilmes, depois que o prefeito da cidade fechou o centro ministerial recém-construído de sua congregação, em março passado.
O pastor Raul David Caballero disse que o fechamento, com base em alegações de violações às leis prediais, é parte de uma campanha de intimidação por ele ter exposto a corrupção na administração do prefeito de Quilmes, Sérgio Villordo.
O pastor da Igreja do Encontro, com 1200 membros, é o editor-chefe do jornal “Perspectiva Sur”, que publicou artigos criticando Sérgio.
A Igreja do Encontro apelou da decisão de fechamento, mas não se espera uma solução rápida, pois Sérgio controla a corte municipal.
Sérgio ordenou o fechamento do prédio de três andares ao público em 23 de março “por período indeterminado”, alegando que o edifício ameaçava a “segurança, higiene e a saúde da população”.
Campanha de retaliação e intimidação
De acordo com esse experiente pastor, o prefeito considera o reverendo e sua influente congregação como opositores à sua forma de administrar Quilmes.
“Muitas vezes, cartazes com meu rosto apareceram nas ruas, dizendo coisas ruins sobre mim”, disse Raul ao Compass.
“Recebi cartas com ameaças. Eles jogaram pedras no meu escritório e picharam as paredes. Estou sendo processado em meio milhão de pesos [US$ 158.646] por causar danos morais e espirituais”.
Entenda o caso
O envolvimento de Raul nos assuntos públicos de Quilmes teve origem no seu emprego como editor-chefe do “Perspectiva Sur”, o maior jornal da cidade de 500 mil habitantes, ao sul de Buenos Aires.
Ele começou a publicação com uma página de notícias em 1981, esperando que ajudasse a sustentar sua família, depois que ele deixou um emprego bem remunerado em uma empresa de construção para se tornar ministro voluntário na Igreja do Encontro.
Quando Raul sucedeu seu pai como pastor sênior, há um ano, a freqüência na igreja era de aproximadamente 120 pessoas. O reverendo decidiu continuar vivendo do salário do jornal de modo que a Igreja do Encontro pudesse investir recursos no evangelismo e no serviço comunitário.
A igreja começou a crescer de forma constante. Ela nunca tinha experimentado um conflito de interesses relacionado com o trabalho no jornal, segundo Raul, até a crise com o atual prefeito de Quilmes.
“Nós éramos bons amigos do Sr. Sérgio durante as eleições, quando fazíamos os anúncios da campanha”, declarou Raul. “Ele vinha e dizia que grande trabalho estávamos fazendo.”
Os problemas começaram depois que Sérgio foi eleito em 2003. O novo prefeito insistiu que o “Perspectiva Sur” publicasse diariamente sua foto e seu comentário político na primeira página.
“Nós recusamos porque a maior parte não merecia ser publicada”, disse o pastor. “Além disso, nós dedicamo-nos ao discurso livre e independente.”
As tensões aumentaram quando grupos cívicos como Quilmes Unida e Fórum de Defesa da Escola Pública começaram freqüentemente a denunciar casos de negligência, corrupção e crimes na administração de Sérgio, nas páginas do periódico.
Sérgio retaliou o ativismo cívico de Raul, disse o pastor, fechando o recém-concluído complexo ministerial.
A Igreja do Encontro planejava usar o complexo – localizado a meia quadra do ginásio comunitário no qual são realizados os cultos aos domingos – para celebrar casamentos, realizar reuniões de oração no meio da semana e evangelizar os jovens da cidade.
A escola de ensino básico da igreja também planejou usar o espaço extra para expandir o currículo para o ensino médio. Estes planos estão em suspenso.
“A construção (do prédio) chegou a 80% com o conhecimento do poder público, sem nenhum inspetor municipal levantando qualquer questão sobre algum problema com o trabalho”, ressaltou Raul, “até o problema acontecer”.
A Igreja do Encontro apelou da decisão do fechamento na corte, mas o pastor disse que uma solução imediata é improvável. Como o prefeito é quem julga as infrações municipais, Raul disse, é ele quem determina qual caso será resolvido e quando.
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