A vietnamita que chamaremos de Keiu foi seguida pela polícia quando veio se encontrar com Portas Abertas, na sua tumultuada cidade há alguns anos
Ela havia se tornado um estorvo para as autoridades vietnamitas, desde que seu marido foi preso há mais de quatro anos por ajudar um cristão perseguido numa aldeia no norte do país.
Imóvel e indefesa na porta de casa, Keiu assistiu a polícia prender seu marido. Por mais que ela quisesse protestar, fazer alguma coisa para ajudá-lo, ela ouvia o apelo dele para que fosse para dentro e não interferisse.
No ano seguinte, dois ou três policiais lhe seguiam sempre que ela saia de casa. Keiu foi intimada várias vezes para comparecer à delegacia, enfrentando ameaças e interrogatórios, além de ter que ouvir ofensas verbais contra seu marido.
Na sua primeira visita à delegacia, Keiu não foi autorizada a ver o marido nem a lhe entregar alimentos e remédios. “Em todas as visitas eu tinha que lutar pelo simples direito de lhe entregar seus remédios. Nenhum advogado quis pegar o meu caso. Ninguém queria ajudar, porque a polícia ameaçava a todos que tentavam fazê-lo”, ela contou.
Nervosa a princípio, ela aprendeu na medida em que os dias e semanas foram passando, e por meio de muita oração, a responder às autoridades com sabedoria. Ela lutou, inclusive, pelos direitos civis de seu marido.
A cela onde o marido de Keiu esteve preso era um espaço de 80 metros quadrados ocupado por 50 prisioneiros. Embora, certa vez, ela tenha sido repreendida pelos guardas por “levar comida demais para ele”, Keiu pagou à equipe de cozinha do presídio para que nunca faltasse proteína para seu marido, de modo que complementasse a pobre ração diária de arroz e vegetais.
Quando Keiu se tornou mais assertiva e ignorou as afrontas, os interrogatórios ficaram menos frequentes.
“Antes, era sempre eles que procuravam por mim. Depois de eu me dedicar à oração dia e noite, era eu que aparecia na delegacia todos os dias exigindo que eles resolvessem o caso de meu marido”, ela contou. “A cada dia eu me certificava de ter feito algo em prol dos direitos de meu marido”.
Mas depois de dois anos, Keiu ficou esgotada e fraca. Ela começou a ter lutas interiores, esquecer coisas, perdeu a vontade de sair e de fazer tarefas domésticas. Nem dormir direito ela conseguia. Então, começou a frequentar um estudo bíblico, mas não se concentrava nas aulas. A única coisa que lhe restou foi a oração: Keiu nunca parou de orar.
O treinamento
Mergulhada na depressão, a última coisa que ela queria era fazer parte do Programa de Treinamento Mulheres de Priscila para o qual ela foi convidada por Portas Abertas. Mas, felizmente, ela concordou em participar.
“Este foi o começo da restauração de Deus”, disse Keiu, “pois pela primeira vez eu orei pela ferida que estava dentro do meu coração. O grupo me fortaleceu e me curou em um período de fragilidade física, mental, e emocional”.
Depois de desenhar uma linha do tempo de sua vida no primeiro encontro, revelando seus altos e baixos, Keiu recordou que “pela primeira vez, desde a prisão de meu marido, eu consegui sentir alegria no coração”. Ela começou a se sentir mais encorajada quando pensava no marido, voltou a dormir bem, e orava a Deus quando o desânimo e a solidão batiam à porta.
“Os temas eram muito direcionados para as mulheres vietnamitas, para a compreensão de nossos valores e identidade em Deus”, disse Keiu. “Eu passei a ter confiança em mim mesma; o curso me ensinou a ser equilibrada em todas as situações, a cultivar a beleza dentro e fora de mim, e a lidar bem com a igreja e a vida familiar”.
Depois de completar o curso de 12 módulos, ela foi designada para o treinamento que capacita coordenadoras para o programa Mulheres de Priscila junto com outras 20 mulheres. O objetivo é envolver e capacitar professoras da comunidade, na expansão da visão do grupo.
Quando o marido de Keiu foi solto em 2011, a Portas Abertas deu assistência financeira para que ele pudesse realizar um check-up completo. Ele permanece em prisão domiciliar e está proibido de sair da cidade pelos próximos quatro anos.
Enquanto isso, Keiu se mantém ocupada numa igreja florescente do norte do país, onde participa de outro treinamento da Portas Abertas que capacita cristãos vietnamitas para o ministério pastoral.
Desde seu início em 2002, o Programa de Treinamento Mulheres de Priscila já formou 6 mil mulheres cristãs vietnamitas. Mas, devido à sua ênfase na multiplicação a partir das bases, pelo menos 11.400 mulheres já completaram o treinamento de dois anos.
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