A pré-candidata a presidente da República pelo PV, senadora Marina Silva (AC), aparentemente não poderá contar muito com seus companheiros de fé no papel de cabos eleitorais pelo país afora. O Correio dedicou os últimos dias a conversar com representantes de congregações evangélicas na Câmara e descobriu que a tendência é uma pulverização desses votos em 2010. “Marina Silva é um fator novo, terá muitos votos, é mulher. Mas é preciso ver o que fará o partido dela. A igreja é família”, afirma o deputado pastor Manoel Ferreira (PTB-RJ), que já está de malas prontas para o PR, onde concorrerá ao Senado ao lado de Anthony Garotinho, candidato ao governo estadual.
As dúvidas de Manoel Ferreira sobre o PV dominam praticamente todos os 52 deputados que formam a bancada evangélica da Câmara. A imagem do Partido Verde hoje está mais relacionada à do deputado Fernando Gabeira (RJ), que já defendeu a liberação da maconha e a união civil de homossexuais — temas que as igrejas abominam. Além disso, por estar distribuída em várias agremiações partidárias, a bancada não terá uma direção única em 2010.
O deputado Bispo Gê Tenuta, por exemplo, é de São Paulo, da igreja Renascer em Cristo. Em termos eleitorais, fará o que mandar o seu partido, o Democratas. “Não posso votar na senadora Marina Silva por ela ser evangélica. Sem desmerecê-la, mas eu já tenho candidato a presidente: José Serra, que é o nome defendido pelo meu partido em São Paulo. Vamos seguir o partido e não a Igreja”, comenta o bispo.
Na mesma batida está o deputado João Campos (PSDB-GO), coordenador da bancada na Câmara e membro da Assembleia de Deus, a maior congregação evangélica do país: “É quase impossível que a bancada evangélica abrace uma única candidatura a presidente da República, seja quem for. Em Goiás, por exemplo, nosso candidato a governador é Marconi Perillo (PSDB)”, afirma ele, separando a fé da decisão política. Ele, no entanto, faz questão de citar a Bíblia, quando se refere às escolhas de cada um na hora do voto: “No Exôdo, diz: ‘E tu dentre todo o povo procura homens capazes, tementes a Deus, homens de verdade, que odeiem a avareza; e põe-nos sobre eles por maiorais de mil, maiorais de cem, maiorais de cinquenta, e maiorais de dez’, então, podemos escolher dentre todo o povo”, diz o deputado, referindo-se ao candidato a presidente da República.
Universal e Dilma
Enquanto a Assembleia de Deus parece marchar separada, a igreja Universal do Reino de Deus, que hoje congrega 3% do eleitorado evangélico do país, deve seguir com Dilma Rousseff.
A congregação teve seu poder político muito reduzido depois do escândalo dos sanguessugas, mas ainda concentra poder econômico e tem influência política. A orientação pró-Dilma está diretamente relacionada à posição do senador Marcelo Crivella (PRB-RJ), forte candidato à reeleição.
A Universal consegue ter essa orientação definitiva em direção a Dilma porque é considerada, entre os evangélicos, uma administração centralizada. Além disso, não está tão difundida quanto a Assembleia de Deus, que, com a igreja católica, tem dificuldades em orientar seus fiéis numa única direção eleitoral.
Em 2002, no entanto, Anthony Garotinho soube usar pelo menos parte da estrutura evangélica em benefício de sua campanha. Sem recursos para a campanha presidencial e sem conseguir empolgar o PSB, seu partido à época, ele aproveitou os templos evangélicos para basear sua campanha eleitoral e alcançou os 10% dos votos nacionais graças a esse público.
Por isso, há uma parte da bancada evangélica que acredita que, se a ex-ministra Marina investir nesse público, terá sucesso. Resta saber se o PV aceitará que sua candidata use toda a estrutura dos templos rumo a 2010 e se a senadora conseguirá fazer com que sua imagem se sobreponha à de Fernando Gabeira. Hoje, os evangélicos estão arredios. Se vão continuar assim, só o calor da campanha dirá.
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