Um ex-muçulmano que se converteu ao cristianismo há 33 anos está preso e passa por um interrogatório em Golestan, onde a polícia secreta o mantém incomunicável há três semanas.
Ali Kaboli, de 51 anos, foi levado em custódia em 2 de maio, quando estava em sua fábrica em Gorgan, capital da provícia de Golestan, norte do país. Com exceção de um breve telefonema, ele está impedido de manter contato com qualquer visitante.
Até o momento, nenhuma acusação foi registrada contra Ali Kaboli, que, no passado, recebeu ameaças de ser processado por realizar encontros religiosos "ilegais" em sua casa. Ele pode também ser acusado por se converter ao cristianismo, fato que, sob as leis de apostasia do Irã, pode ser punido com a pena de morte.
Desde que ele foi preso, há três semanas, alguns dos cristãos que freqüentam a igreja doméstica de Kaboli foram intimados pela polícia e interrogados, um por um.
Kaboli é casado e tem cinco filhos adultos. Sua família não quis comentar a situação.
"Muito ousado"
Comerciante do ramo da carpintaria, há décadas Kaboli reúne cristãos em sua igreja doméstica, que chegou a ser destruída em um incêndio provocado por incendiários não identificados. A maior parte de seu tempo livre era dedicado ao evangelismo itinerante, realizando pequenos cultos, estudos bíblicos e discipulado em várias cidades ao longo da costa do mar Cáspio.
Ele foi ameaçado, detido e interrogado várias vezes por causa de suas atividades cristãs. Há vinte anos, recebeu ameaças verbais de que ele era um apóstata e que deveria ser morto.
Mais de uma vez a polícia local ordenou que ele permanecesse dentro dos limites da cidade de Gorgan por meses, e que comparecesse diariamente à sede da polícia.
"Todo mundo sabia que sua casa estava sob vigilância da polícia há anos", disse um cristão iraniano que vive no exterior. "Eles chegaram a pressioná-lo para deixar o país há cerca de três anos, mas ele disse que preferia ficar no país, mesmo que isso significasse viver em uma prisão iraniana".
"Ele ama Jesus demais", disse um pastor iraniano que conhece Kaboli desde sua conversão, quando ele era um adolescente em Teerã. Outro cristão acrescentou: "Ele é muito ousado".
Intimidação cruel
De acordo com observadores externos que acompanham o movimento de expansão da igreja doméstica protestante dentro do Irã, as investigações das autoridades e da polícia nas províncias de Mazandaran e Golestan são "notoriamente difíceis", por causa de seu posicionamento rígido contra os que se tornam cristãos.
Há seis meses, outro muçulmano convertido ao cristianismo foi assassinado na região de Gonbad-e-Kavus, há 90 quilômetros de Gorgan. O corpo de Ghorban Dordi Tourani, 53, foi deixado em frente à sua casa, poucas horas depois de ele ter sido tirado de lá, em novembro do ano passado.
Desde a eleição do presidente Mahmoud Ahmadinejad, em 2005, as autoridades iranianas aumentaram as pressões contra as poucas congregações cristãs remanescentes que ainda tinham permissão para se reunir em templos oficiais.
Há quase dois anos, as denominações protestantes foram obrigadas a romper seus laços com qualquer grupo de igreja doméstica do país. O governo avisou que tais comunidades seriam consideradas "reuniões religiosas ilegais" e que os envolvidos seriam processados.
Desde então, líderes de igreja têm passado por intimidações cruéis para colaborar com os investigadores do governo fornecendo os nomes dos membros, particularmente dos que têm origem islâmica.
"Eles têm de fornecer esses nomes para a polícia, ou demitir-se do ministério pastoral ou desistir e deixar o país", disse ao Compass um cristão iraniano. "Na verdade, existe uma quarta alternativa: eles podem ser presos", completa.
Foi a decisão do pastor Hamid Pourmand de se recusar a abrir mão de sua fé que o levou à prisão em setembro de 2004. Outro convertido do islamismo há muito tempo, o ex-coronel do exército cumpre uma pena de três anos na prisão Evin, em Teerã, por supostamente "ocultar" sua conversão ao cristianismo dos militares iranianos.
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