A ditadura militar é ainda um capitulo controverso da história do Brasil, uma parte do nosso passado quem vem sendo contada há anos, e que ainda carece de muitas respostas. Com foco em revelar o que realmente aconteceu durante esse período, a Comissão Nacional da Verdade (CNV), tem trabalhado para investigar os fatos ocorridos nessa época.
Entre os assuntos estudados pela comissão está o colaboracionismo das igrejas Católica e protestantes com o regime militar. Por isso, dentro da CNV um grupo específico reúne histórias sobre a resistência e tenta identificar os religiosos que colaboraram com os governos militares, ficaram em silêncio ou se omitiram.
Ao estudarmos a história, é fácil encontrar nomes de líderes religiosos que se opuseram ao regime militar, como o pastor presbiteriano Jaime Wright e bispos como Dom Paulo Evaristo Arns, Dom Hélder Câmara, Dom Adriano Hypolito, Dom Pedro Casaldáliga, Dom Clemente Isnard e Dom Waldyr Calheiros. Porém, os pesquisadores afirmam que a existe uma grande dificuldade em reunir material sobre a colaboração das diversas tradições cristãs à ditadura.
– Naquela época, prevaleceram o silêncio e a omissão das igrejas, mas mesmo hoje as pessoas têm dificuldade de falar sobre colaboracionismo – explica Magali Nascimento Cunha, pesquisadora que faz parte do grupo da CNV.
– Elas [as igrejas] absorveram a tendência da sociedade em geral, que se omitia e se negava a se preocupar com o que ocorria. Os evangélicos, em geral, preocupavam-se em ir para o céu, como se a igreja estivesse fora do mundo. Os católicos, por conta da ligação que sempre tiveram com o poder, preferiram a cautela, mesmo depois dos questionamentos sobre o que acontecia. Já os que ajudavam, muitas vezes, nem tinham afinidade ideológica. Faziam por ter consciência das vidas em risco – completa a pesquisadora.
De acordo com Anivalho Padilha, coordenador do grupo da CNV, é difícil encontrar documentos que relatem tal colaboração, e que para levantar dados sobre esse fato contam, principalmente, com relatos de testemunhas. Entre as histórias ele ressalta a dificuldade que foi para obter a confirmação de que um bispo e um pastor deram seu nome aos militares, culminando em sua prisão. Ele explica que além de fazer parte da Aliança Popular, era diretor do Departamento Nacional da Juventude da Igreja Metodista e que foi delatado por líderes da igreja da qual fazia parte.
– Os dois que me delataram, os irmãos Isaías Sucasas, que era bispo, e José Sucasas, pastor, já mortos, eram pessoas que eu conhecia. Numa das primeiras sessões de tortura, eu neguei ser comunista, e o torturador gritou: você quer que acredite em você ou no pastor? Achei que era um jogo, que era para quebrar minha moral. Como eram pastores, eu achava que isso (o cargo) exigia deles outra postura. – afirma Padilha, segundo reportagem do O Globo.
– Ainda há uma cortina de silêncio. Mesmo quando encontramos indícios fortes, há tentativa de negação. Entre o clero, há quase uma relação mística, uma barreira muito difícil de ser superada. Em relação aos protestantes, a barreira é menor – completa, lembrando que documentos sobre colaboracionismo foram encontrados no Centro de Informação do Exército.
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