A ocorrência de casos em que a propaganda política é feita dentro da igreja e nos horários de culto não é novidade no Brasil, embora seja uma infração prevista na lei eleitoral. Esta semana, uma reportagem mostrou que a Assembleia de Deus no Brás – Ministério de Madureira, teria desrespeitado a legislação e promovido o nome de candidatos ao Poder Legislativo.
O caso foi apresentado numa matéria do portal Terra, escrita pela jornalista Débora Melo, que visitou o templo da denominação durante um culto. Ao chegar ao templo, uma obreira a abordou e pediu para que ela respondesse a um questionário informal.
“Posso fazer uma pesquisa com você? Em quem você vai votar? É só para a gente saber como está o desempenho do pastor aqui da casa”, teria dito a obreira, exibindo um formulário onde há nomes de candidatos a senador, deputado federal e estadual.
De acordo com o advogado Guilherme Gonçalves, ouvido pela reportagem, não há crime na realização de pesquisas informais. O candidato “da casa” a que a obreira se referia era o pastor Cezar Freire (DEM), candidato a deputado estadual e conhecido pelos fiéis como Cezinha.
“Peço a você que nos ajude agora com seu voto e sua influência junto aos seus familiares, amigos e conhecidos para conseguirmos mais votos”, finaliza o texto que traz a foto do pastor Samuel e sua esposa, Keila Ferreira.A distribuição de material de campanha em estádios de futebol, bares, restaurantes, cinemas e igrejas, por exemplo, configura desrespeito à legislação eleitoral e pode render multa que varia entre R$ 2 mil e R$ 8 mil.
“O pastor não pode colocar a igreja a serviço da campanha eleitoral de ninguém. Quem está sujeito à multa, neste caso, é o pastor. Se ficar comprovado que os candidatos tinham conhecimento, todos devem pagar”, diz o advogado Arthur Rollo. “Além disso, vão para o inferno”, diz, fazendo piada com o fato de que cometer crime é pecado.
Mais propaganda
Durante o culto, o pastor Samuel Ferreira diz que vai apresentar “um cara muito simpático, de uma família tradicional, filho de um desembargador do Tribunal de Justiça, que ajuda a igreja em momentos de dificuldade”, e chama Guilherme Sartori, que é candidato a deputado federal pelo PTB.
Questionado se sentia constrangimento por ter visto os fiéis repetirem seu nome a mando do pastor, o candidato negou: “Constrangimento por quê? Ele [Samuel Ferreira] é meu amigo, fui apresentado como amigo. Sou uma pessoa boa, que quer ajudar as pessoas, ajudar o país. Não tem constrangimento nenhum. Não pedi voto, não fiz panfletagem. Isso é antiético, não se pode fazer isso [na igreja]. Como eu sou jovem, tenho que ir [ao culto] para fazer o meu nome ser conhecido. A gente é muito ético. Fica difícil concorrer com esses candidatos que tem muito dinheiro”, defende-se o candidato.
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