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Pastor Ricardo Gondim compara programas de igrejas neopentecostais a comerciais da Casas Bahia: "Qual o melhor balcão de serviços religiosos?"; Leia na íntegra

O bispo Edir Macedo publicou em seu blog um relato escrito pelo detento Paulo José França Muniz, sobre sua conversão e crescimento dentro da hierarquia da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD).

O relato de Muniz começa por sua infância, quando seguidas tragédias abalaram sua estrutura familiar e influenciaram nas opções que ele fez em sua adolescência.

O detento e obreiro da IURD diz que roubou e matou antes de completar 18 anos, e na sua chegada a São Paulo, tornou-se ainda mais perigoso, quando sua vida “chegou ao fundo do poço”, e foi preso.

Muniz diz que foi “evangelizado por um obreiro da Universal chamado João Gomes”, e que devido à sua raiva dos fiéis da IURD, planejou assassiná-lo: “Armei uma armadilha para matá-lo, mas não deu certo. Eu tinha uma raiva incontrolável do povo da Universal”. Em outro ponto, o obreiro diz que ao ouvir a voz de Edir Macedo, se “transformava no próprio diabo”.

O obreiro diz ainda que na cadeia, recebeu ajuda de “um evangelista da Universal, que foi preso também”, e que por ele ter ouvido seus dilemas, mudou de postura: “Desse dia em diante criei vergonha e deixei Jesus me ajudar”.

A história de Muniz, que foi condenado a 120 anos de prisão, não termina nesse trecho. O obreiro-detento diz que antes de ser preso, se tornou inimigo de um ex-policial, entre outros: “Eu havia quebrado o braço de um cidadão, ex-policial aposentado, e coloquei fogo na casa e no carro. Também matei o papagaio dele. Fiz uma barbaridade”, relata.

Segundo o relato, o filho do policial foi preso e enviado para o mesmo presídio em que ele estava: “Certo dia, evangelizando dentro do presídio, ouvi um comentário: “Hoje vai morrer um obreiro da Universal…” Porque o filho do ex-policial estava preso também e sabia que era eu que havia feito a tal barbaridade com o pai dele, por isso citaram o meu nome. Eram tantos presos juntos que eu sabia quem iria me matar, mas eles não sabiam, nem me conheciam”.

De acordo com o obreiro, a ligação de uma fiel da IURD salvou sua vida: “Me deparei com 10 ladrões, todos com facas. Vi a minha morte. Quando me viram, começaram a me xingar, porque passavam todos os dias procurando por mim, mas o próprio Deus me cobria com Seu manto […] O telefone de um deles tocou. Era a mulher dele pedindo para que não me matassem, porque eu também servia a Deus na mesma igreja que ela. Quando ele passou o recado para os demais, eles insistiam para que me matassem, mas ele disse que obedeceria ao pedido da esposa. Mal sabia ele que obedeceu ao próprio Deus”, escreveu Muniz.

CAs estratégias de comunicação usadas por igrejas evangélicas que pagam horários na TV para exibirem programas em horário nobre e destacarem curas e milagres que são relatados por seus fiéis foram comparadas à estratégia comercial de grandes lojas de móveis e eletrodomésticos.

A comparação foi feita pelo pastor Ricardo Gondim, num artigo publicado em seu site, e que critica a forma como o Evangelho é exposto por essas denominações.

“Toda noite, entre oito e dez horas, a mesma cantilena se repete nos programas evangélicos na televisão. Pelo menos quatro ‘ministérios’ disputam outro mercado: o religioso. Caçam clientes que sustentem, em ordem de prioridade, empreendimentos expansionistas, ilusões messiânicas e o estilo de vida nababesco de seus líderes. Assim, cada programa oferece milagre. Cada um alicerça a promessa de que Deus vai prosperar, amenizar problemas matrimoniais, resolver causas na justiça com testemunho. Entrevistam gente que jura ter sido brindada pelo divino. Não faltam documentos, exames médicos, carros luxuosos. Deus teria usado aquele apóstolo, bispo, missionário, para abençoar inúmeras pessoas para uma vida sem sufoco”, introduz o pastor Gondim.

Ricardo Gondim diz ainda que as condições para que esses milagres e curas aconteçam são colocados por essas igrejas de forma muito específicas, como forma de evitar possíveis reclamações por partes dos fiéis, que segundo o pastor, são tratados como “clientes” pelos líderes dessas denominações.

“Um monte de exigência vem embutida na promessa de bênção: ser constante nos cultos por várias semanas, contribuir financeiramente para que a obra de Deus continue e, ainda, manter-se corretíssimo. Um deslize mínimo, um pecadilho qualquer, impede o Todo Poderoso de concretizar a maravilha. E ainda tem a falta de fé como critério inegociável. Qualquer dúvida é considerada um obstáculo, que mata a possibilidade do milagre”, constata o líder da Igreja Betesda.

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Para Gondim, que é um dos maiores críticos de certas posições e práticas do movimento neopentecostal, ironiza a oferta de opções para milagres, como se fossem serviço ou produto: “Como um cliente religioso pode optar? Deus apontou o dedo para qual igreja, missionário, apóstolo, pastor ou evangelista? Quem foi ‘ungido’ representante do divino para o privilégio de ‘operar’ esse sem-número de milagres? Um pai que sofre com uma filha com leucemia aguda, não pode se dar ao luxo de errar. Se apela para uma igreja com pouco poder sobrenatural, perde a filha. O seguro seria ele frequentar todas. Mas como?”, indaga o pastor, em tom de indignação.

A ideia de que participando de tais campanhas Deus tratará os fiéis com exclusividade, como se fosse servos V.I.P.s, é exposta pelo pastor como um dos absurdos cometidos pelos pastores da televisão brasileiros: “No milagre ofertado pelos televangelistas está a expectativa egocêntrica de que o Todo Poderoso distinguirá apenas um punhado entre todos os outros sete bilhões de habitantes do planeta. ‘Deus abrirá uma brecha na ordem da vida para privilegiar você’. ‘Outros podem padecer nos corredores sujos de ambulatórios médicos, mas você que veio aqui na igreja X, não precisará passar por tanta humilhação’”, ilustra, antes de citar que tais igrejas “fortalecem a ideia de que existem agenciadores do favor divino”.

Na comparação com as lojas de eletrodomésticos, Gondim diz que as “igrejas evangélicas comercializam esperança”, e que, “pelo serviço cobram caro, muito caro. Afinal de contas, um produto celestial não pode ser negociado como bem de quarta categoria. Os televangelistas só oferecem ‘Brastemps’ vindas do céu”.

A abordagem feita pelo pastor da Igreja Betesda expõe ainda que tais igrejas não hesitam na hora de transferir responsabilidades caso os milagres oferecidos por elas não se realizem na vida dos fiéis. Gondim afirma ainda que essas igrejas assemelham-se a empresas, que estudam seus clientes para conhecê-los e transmitir sua mensagem da forma mais eficiente possível.

“Qual o melhor balcão de serviços religiosos? Que varejista está mais aparelhado para distribuir os favores divinos? Os vendilhões do templo de hoje não se comparam aos do tempo de Jesus. Eles se escolaram no marketing. Especializaram-se em conforto. Valem-se da linguagem piedosa que confunde fé com credulidade. Se as grandes redes comerciais devem se conformar ao Código do Consumidor, as igrejas hábeis em produzir milagre não passam por nenhuma regulamentação. Se algo der errado, o cliente nunca tem razão. Se a leucemia matar a filha, o pai, além de enlutado, acabará responsabilizado pela perda. Terá de escutar que a menina não foi curada porque o diabo entrou por alguma ‘brecha’ e matou. Ou que alguém da família não ‘perseverou na fé’ ou ‘não honrou a Deus com o dízimo’”, lamenta o pastor.

Leia abaixo, a íntegra do artigo “Milagre, um bom negócio”, do pastor Ricardo Gondim:

Casas Bahia e Magazine Luiza disputam o mesmo mercado. As duas lojas se engalfinham para abocanhar o filão dos eletrodomésticos, guarda-roupas de madeira aglomerada e camas de esponja fina. Buscam conquistar assalariados, serralheiros, aposentados e garis. Nos comerciais da televisão, o preço da geladeira aparece em caracteres pequenos, enquanto o valor da prestação explode gigante na tela. A patuleia calcula. Não importa o número de meses, se couber no orçamento, uma das duas, Bahia ou Luiza, fecha o negócio – com um juro embutido entre os maiores do mundo.

Toda noite, entre oito e dez horas, a mesma cantilena se repete nos programas evangélicos na televisão. Pelo menos quatro “ministérios” disputam outro mercado: o religioso. Caçam clientes que sustentem, em ordem de prioridade, empreendimentos expansionistas, ilusões messiânicas e o estilo de vida nababesco de seus líderes. Assim, cada programa oferece milagre. Cada um alicerça a promessa de que Deus vai prosperar, amenizar problemas matrimoniais, resolver causas na justiça com testemunho. Entrevistam gente que jura ter sido brindada pelo divino. Não faltam documentos, exames médicos, carros luxuosos. Deus teria usado aquele apóstolo, bispo, missionário, para abençoar inúmeras pessoas para uma vida sem sufoco.

Infelizmente, o preço do produto religioso – o milagre – também não é explicitado. Alardeia-se apenas a espetacular maravilha. As letrinhas, que não aparecem na parte de baixo do vídeo, caso fossem reguladas pelo conselho nacional de propaganda, teriam que deixar claro, por mais “ungido” que for o missionário, que em nenhuma dessas igrejas televisivas o milagre é gratuito ou instantâneo.

Um monte de exigência vem embutida na promessa de bênção: ser constante nos cultos por várias semanas, contribuir financeiramente para que a obra de Deus continue e, ainda, manter-se corretíssimo. Um deslize mínimo, um pecadilho qualquer, impede o Todo Poderoso de concretizar a maravilha. E ainda tem a falta de fé como critério inegociável. Qualquer dúvida é considerada um obstáculo, que mata a possibilidade do milagre.

Considerando que a rádio também divulga prodígios a granel, como um cliente religioso pode optar? Deus apontou o dedo para qual igreja, missionário, apóstolo, pastor ou evangelista? Quem foi “ungido” representante do divino para o privilégio de “operar” esse sem-número de milagres? Um pai que sofre com uma filha com leucemia aguda, não pode se dar ao luxo de errar. Se apela para uma igreja com pouco poder sobrenatural, perde a filha. O seguro seria ele frequentar todas. Mas como? Ele é pobre e não tem como fazer todas as campanhas que produzem o extraordinário.

O  acesso ao milagre se complica ainda mais porque essa igrejas-empresas gastam milhões para veicular na mídia um valor simbólico: exceção. Sim, no milagre ofertado pelos televangelistas está a expectativa egocêntrica de que o Todo Poderoso distinguirá apenas um punhado entre todos os outros sete bilhões de habitantes do planeta. “Deus abrirá uma brecha na ordem da vida para privilegiar você”. “Outros podem padecer nos corredores sujos de ambulatórios médicos, mas você que veio aqui na igreja X, não precisará passar por tanta humilhação”.

Lojas de eletrodoméstico vendem eletrodoméstico, óbvio. Igrejas evangélicas comercializam a esperança. Elas fortalecem a ideia de que existem agenciadores do favor divino. Alguns com exclusividade. Pelo serviço cobram caro, muito caro. Afinal de contas, um produto celestial não pode ser negociado como bem de quarta categoria. Os televangelistas só oferecem “Brastemps” vindas do céu.

Mas, a dúvida persiste: qual o melhor balcão de serviços religiosos? Que varejista está mais aparelhado para distribuir os favores divinos? Os vendilhões do templo de hoje não se comparam aos do tempo de Jesus. Eles se escolaram no marketing. Especializaram-se em conforto. Valem-se da linguagem piedosa que confunde fé com credulidade. Se as grandes redes comerciais devem se conformar ao Código do Consumidor, as igrejas hábeis em produzir milagre não passam por nenhuma regulamentação. Se algo der errado, o cliente nunca tem razão. Se a leucemia matar a filha, o pai, além de enlutado, acabará responsabilizado pela perda. Terá de escutar que a menina não foi curada porque o diabo entrou por alguma “brecha” e matou. Ou que alguém da família não “perseverou na fé” ou “não honrou a Deus com o dízimo”.

Assim como na música do Chico Buarque os frequentadores dessas igrejas-caça-níqueis encarnam o Pedro Pedreiro e ficam “esperando, esperando, esperando.
 Esperando o sol, esperando o trem. Esperando aumento para o mês que vem. Esperando um filho prá esperar também”.

Mercadologicamente, Casas Bahia e Magazine Luiza se comportam com critérios éticos bem à frente de algumas igrejas. Melhor assim, geladeira nova é bem mais útil do que a ilusão do milagre.

Soli Deo Gloria

Fonte: http://noticias.gospelmais.com.br/ricardo-gondim-igrejas-neopentecostais-comerciais-casas-bahia-52810.html


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