O pastor assembleiano Antônio Vasconcelos, 59 anos, atua como a principal liderança da unidade de conservação Reserva Extrativista do rio Ituxi, na cidade de Lábrea, sul do Amazonas.
Devido à perseguição sofrida por confrontar fazendeiros da região, tem direito à escolta do Programa de Proteção de Defensores de Direitos Humanos da Secretaria Especial de Direitos Humanos (SEDH).
“A luta começou quando me tornei pastor”, afirma Vasconcelos, que se diz cansado da “falta de preparo” das guarnições destacadas para lhe proteger. Diz ter sofrido “agressão verbal e autoritarismo”, e por isso decidiu “se arriscar” e abrir mão da escolta. A decisão foi notificada à SEDH em carta, recentemente. No documento, o pastor se queixa da pressão sofrida: “Eu não possuo mais condições emocionais para estar nessa situação”.
Nos anos em que atua como ativista defensor dos Direitos Humanos, o pastor esteve perto de ser morto. Num dos episódios, um grupo de pistoleiros contratados para matá-lo teve sua ação interrompida pela chegada de treze policiais da Força Nacional de Segurança Pública, destacados para iniciar a escolta ao pastor.
Segundo o site A Pública, Vasconcelos só havia sido informado que a escolta seria iniciada a qualquer momento, mas não tinha recebido informações sobre a data exata. “Os policiais bateram na minha porta e anunciaram o início da escolta. Me explicaram como seria e depois foram se hospedar em um hotel”. Nesse momento, os pistoleiros “fugiram”, segundo o pastor. “Uma camareira ouviu a conversa deles. Quando viram que os policiais chegaram, um deles pegou o celular e ligou para alguém, dizendo ‘sujou, sujou, tem um monte de polícia aqui. Não dá mais para fazer o trabalho’. Decidiram ir embora”.
Na região do rio Ituxi desde 1995, o pastor Antônio Vasconcelos conta que não se limitou apenas a pregar a palavra de Deus, por sentir-se incomodado com a falta de perspectiva da população ribeirinha e com a exploração sofrida pelo povo de seus “patrões”.
Assim, ensinou os moradores da região a ler e escrever, além de trabalhar voluntariamente como agente de saúde. Reconhecido pelos ribeirinhos, passou a cobrar da prefeitura carteiras escolares, material didático, escola e posto de saúde: “Percebi que faltava alguém para incentivar aquele povo, porque eles erravam por não conhecer. Reuni três comunidades e dava aula em dois turnos para crianças e adultos. Não existia luz elétrica. Cada aluno levava uma lamparina e colocava na carteira. Mesmo assim eles nunca faltavam. Todos tinham interesse em aprender e eu muito mais de ensinar”, relembra.
Com o passar do tempo, percebeu a necessidade de oferecer alternativas de renda para a população, e assim, buscou criar uma Reserva Extrativista (RESEX) na região. Nessas RESEX, são feitas coletas de produtos como copaíba, seringa, andiroba e castanha, de forma susntentável e com apoio do Ministério do Meio Ambiente: “Eu nem sabia o que era RESEX. Só ouvia falar e senti necessidade de aprender. Foi quando fiz um intercâmbio nas áreas onde já existiam RESEX. Fui a Xapuri, onde morou Chico Mendes. Não sabia que eu já era conhecido. Foi a partir daquela reunião em Xapuri que eu soube que corria risco de morrer”, afirma.
Os problemas mais intensos, segundo o pastor, começaram em 2001: “Os poderosos não queriam a RESEX porque a terra já estava toda demarcada pelos grileiros. A prefeitura dizia que ia prejudicar a economia local. Foi um embate muito duro. Quando a maioria decidiu pela criação da RESEX, eles (os políticos e os fazendeiros) ficaram muito revoltados, mas saímos vitoriosos. A criação da RESEX foi assinada em 2007 pelo presidente Lula. Mas foi aí que começou problema. Foi quando passamos a ser ameaçados com mais força. A situação piorou quando mataram o Dinho”, diz Vasconcelos, referindo-se a Adelino Ramos, outro líder popular da região, assassinado há dois anos.
Com a violência instalada, e a necessidade de escolta, o pastor passou a sentir-se preso, sem liberdade de atuar: “Minha rotina de trabalho nas comunidades, na coleta de castanha, no plantio e na atividade da igreja parou”, lamenta, antes de contar um dos episódios que o motivaram a pedir a dispensa da escolta: “Um tenente chegava na minha casa e colocava a arma na mesa. Me dizia que eu não poderia sair para canto algum. Recebia ameaças dele todos os dias. Uma vez ele ameaçou me prender sob acusação de abuso por desacato à autoridade. Peguei gastrite nervosa, entrei em estado depressivo. Foi preciso eu denunciar à SEDH. Foi também a única vez em que uma psicóloga dos Direitos Humanos me ouviu”.
Segundo ele, a situação mudou com a troca do tenente, mas voltou a se tornar problemática pouco tempo depois: “Recentemente sofri um novo problema. Um dos policiais gritou comigo na viatura, me ameaçou e me desrespeitou. Há momentos em que eles ficam colocando músicas imorais em frente da minha casa. Sem a escolta, quero apenas ter direito a um porte de arma, pois quero voltar a morar na RESEX e preciso me defender”, afirma.
Segundo dados da SEDH, Antonio Vasconcelos é um dos 400 “defensores” dos Direitos Humanos no Brasil que são ameaçados de morte por seu trabalho social.Deixe seu Comentário abaixo:
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