A Polícia Civil de Araçatuba, a 565 quilômetros de São Paulo, abriu inquérito contra o pastor da Igreja Evangélica, Marcos Bueno, suspeito de estelionato. Há dois meses, ele teria induzido uma fiel a doar dinheiro à igreja, com a promessa de que ela seria abençoada por Deus.
– Isso caracteriza exploração da credulidade da pessoa – disse o delegado Vilson Aparecido Disposti, do 1 DP da cidade.
Quem fez a doação foi a cabeleireira S.M.H., de 28 anos, que deu ao pastor R$ 3 mil em dinheiro, que pertencia ao marido. Ainda segundo o delegado, o pastor foi chamado para ser ouvido na delegacia. Acompanhado por um advogado da igreja, Bueno falou que todo o dinheiro arrecadado na entidade é enviado para São Paulo, onde é feita a contabilidade, e ele não teria como devolver.
– Quando conversamos com ele (pastor), pensei que fosse devolver o dinheiro, o que não aconteceu. Ele ainda tentou por várias vezes desconversar. O que deixa bem claro que ele agiu de má-fé – disse Disposti.
A doação ocorreu no dia 17 de julho, durante a “Campanha Fogueira Santa de Israel”. No dia do ritual, segundo a cabeleireira, o pastor pedia um salário-mínimo de cada um que quisesse ter a bênção alcançada. O templo da igreja, no centro de Araçatuba, recebe por dia mais de mil pessoas. S. freqüentava os cultos havia 12 anos.
– Depois do que aconteceu comigo, abandonei a igreja – diz ela, que doava todo mês 10% de seu salário.
– Se ganhasse R$ 1 mil, doava R$ 100. Perdi a fé na igreja, mas não em Deus – conta a cabeleireira, que hoje freqüenta a Igreja.
Ela airma que, na igreja, o pastor Bueno falou sobre a campanha da Fogueira Santa de Israel dizendo à então fiel que, se entregasse o dinheiro, seria agraciada por Deus. Caso contrário, coisas ruins poderiam acontecer. Segundo a cabeleireira, os R$ 3 mil não eram dela, mas do marido, e ela não sabia se este seria a favor da doação.
– O pastor me garantiu que, se meu marido não gostasse, ele se comprometeria a devolver todo o dinheiro – afirmou.
S. disse também que entregou os R$ 3 mil porque realmente acreditou na palavra do pastor. Ainda segundo ela, o pastor disse que, se quisesse uma bênção maior, deveria vender todos objetos do salão de cabeleireiro. Agora, ela pretende entrar na Justiça contra a Igreja .
Antes de irem à polícia, S. e o marido teriam procurado o pastor diversas vezes, na tentativa de convencê-lo a devolver o dinheiro. Em uma dessas conversas, diz S., Bueno sugeriu que o marido da cabeleireira entrasse na Justiça contra a própria mulher, já que ela “furtou” o dinheiro. Os R$ 3 mil doados estavam guardados na casa onde o casal mora, no bairro Monte Carlo, e seriam usados na compra de um crro.
Em um segundo encontro, o pastor teria dito que entregaria metade do dinheiro e o resto depois. Na data combinada, Bueno mandou que o casal deixasse a igreja e que não iria devolver a quantia.
– Fiquei muito decepcionada com a igreja e com o pastor. Ele não cumpriu com a palavra – concluiu a cabeleireira.
O pastor ainda teria expulsado o casal do templo, dizendo que eles não eram mais bem-vindos. Marcos Bueno foi procurado pela reportagem para falar sobre o assunto mas, segundo um atendente da igreja identificado apenas por César, o pastor participava de um encontro na capital.
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