Nos últimos anos, as políticas religiosas do Partido Comunista Chinês desgarram-se da realidade social, refletindo o dogmatismo da era maoísta em vez de refletir o dinâmico crescimento da religião na China. O Partido tem lutado para lidar com o complicado fato de a religião, longe de desaparecer, como foi predito pelo pensamento clássico marxista, continua a florescer numa sociedade socialista.
Linha-duras apelavam para aabolição e completa extinção da religião durante a Revolução Cultural de 1966-76, enquanto que os pragmáticos defendiam uma abordagem mais branda de direção e manipulação da religião reunindo os cristãos atrás das metas do partido comunista.
Hoje a desajeitada estrutura do controle religioso através da Agência de Assuntos Religiosos (AAR) e das várias associações religiosas patrióticas como o Movimento Patriótico das Três Autonomias (MPTA) e do conselho Cristão da China (CCC) parecem ter-se tornado contraprodutivos.
De acordo com fontes de Pequim, tensões têm surgido entre o Departamento da Frente Unida de Trabalho (DFUT), responsável por todo o controle da política religiosa e a AAR. O DFUT está mais disposto a uma abordagem liberal, dando ensejo a novas políticas de porta aberta da China e respeitando os direitos religiosos dos cristãos.
Em particular, o DFUT está disposto a permitir que as igrejas domésticas cristãs se registrem diretamente junto ao governo passando, conseqüentemente, por cima do MPTA. As igrejas oficiais (controladas pelo MPTA) são vistas com suspeita por muitos cristãos chineses, que as vêem como instrumento do Partido Comunista. Por essa razão, a maioria das igrejas domésticas se recusa ao registro sob a tutela do MPTA.
Entretanto, a AAR, que tem forte interesse em manter um estrito controle ideológico sobre a religião, opõe-se tenazmente às sugestões mais liberais do DFUT. Como o novo governo de Hu Jintao e Wen Jiabao luta para criar uma base de poder e de identidade separados da presença preocupante do ex-presidente Jiang Zemin, a política religiosa parece estar sendo protelada e reformas importantes são improváveis.
Isto foi refletido num artigo publicado no porta-voz do Partido Comunista, o People´s Daily , em novembro de 2003. O autor, um acadêmico marxista, insistiu em que a religião era somente uma reflexão ilusória da sociedade. Ele acrescentou que o partido opunha-se inflexivelmente a todas as crenças teístas e devotava-se ao ateísmo.
Ele disse também que a religião e a ciência eram fundamentalmente opostos, e que no fim a religião morrerá. As massas ainda devem ser libertadas da opressão da religião.
Elogiando as políticas religiosas do Partido Comunista, o escritor admitiu de forma malevolente que a perseguição sofrida pelos seguidores religiosos durante a Revolução Cultural foi uma exceção. Isto suaviza a perseguição suportada por milhões de adeptos religiosos durante aquela época.
O artigo classificou tanto o Protestantismo como o Catolicismo como instrumentos usados para a invasão da China. O escritor atacou o trabalho missionário na China, tanto passado como presente, como um bastião anti-comunista e guarda avançada do capitalismo.
O artigo elogiou as políticas repressivas de Jiang Zemin e, em particular, seu dogma de que o partido deve guiar ativamente a religião para adaptar-se mutuamente com a sociedade socialista.
Os nomes de Hu Jintao e Wen Jiabao, atual alta liderança da China, estavam notavelmente ausentes - um sinal de que as políticas repressivas e conservadoras de Jiang Zemin sobre a religião ainda pairam, pelo menos entre os teimosos do Partido.
Hu Jintao afirmou na recente reunião do Politburo nos dias 16 e 17 de janeiro que, a menos que o Partido Comunista empreenda sérias reformas alinhadas com a realidade, ele pode desaparecer deste estágio da história.
Assim, parece que qualquer reforma de políticas religiosas permanecerá paralisada, pelo menos até que a tensão entre os membros conservadores e progressistas do Partido Comunista seja resolvido.
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