Os ritos católicos já passaram por diversas modificações ao longo da história. No Concílio Vaticano II (1962-1965) muitos fiéis chegaram a alegar o abandono da tradição, com missas em latim e o sacerdote de costas para o povo, enquanto outros acreditavam que era hora de uma “abertura”.
Atualmente a igreja tem procurado atrair fiéis para as celebrações acrescentando à missa elementos culturais característicos de determinadas regiões do país e até de outras localidades, criando assim missas afro, missas crioulas, missas gaúchas, missas sertanejas e em alguns lugares até mesmo voltando ao velho costume onde o padre celebrava o rito em latim de costa para os fiéis.
“Em 2007, o Papa Bento XVI autorizou a celebração de missas em latim aos fiéis que solicitassem. A prática tinha sido abandonada pela Igreja depois do Concílio Vaticano II. Para muitos, a volta representaria uma tentativa do pontífice em reaproximar os católicos insatisfeitos com as reformulações propostas pelo decreto”, explicou o padre Aldo da Paróquia São Paulo Apóstolo, na capital paulista, que uma vez por semana celebra as missas “à moda antiga”, de costas para os fiéis, em direção ao Oriente.
Para aqueles que não querem se sentir em uma catedral da Idade Média, existem paróquias que se aproximam mais da cultura atual criando missas temáticas, como a missa crioula celebrada nos Centros de Tradição Gaúcha (os CTGs), no Rio Grande do Sul. Com cânticos apresentados no ritmo dos violeiros, fiéis trajando vestimentas típicas como bombachas e botinas acompanham a missa idealizada pelo padre Paulo Murab Aripe, diante de um altar ornamentado com cuias de chimarrão, espetos de churrasco e lampiões.
A cultura afro também está presente em algumas missas. De acordo com o portal IG na Paróquia de São João Batista, na cidade de São João de Meriti, Baixada Fluminense, o ritmo da celebração é marcado pelo atabaque, um instrumento de percussão muitas vezes associado à umbanda e ao candomblé.
“A missa afro ganhou força no Brasil na preparação da campanha da fraternidade sobre o sobre o negro, em 1988 [Centenário da Abolição da Escravatura]. Quando vim pra cá em 1997, ela já havia sido consolidada pelo frei David Raimundo dos Santos, da Educafro, que envolveu padres, religiosos e leigos da América Latina e Caribe, com alguns teólogos ligados à teologia da libertação”, explica frei Athaylton Jorge Monteiro Belo, mais conhecido como frei Tatá, que celebra as missas na Paróquia de São João Batista.
Tem também as missas celebradas na língua árabe na Paróquia Nossa Senhora do Paraíso, igreja greco-católica localizada em São Paulo, onde a leitura do Evangelho é feita em árabe e português e as partes nas quais os fiéis respondem às interlocuções do sacerdote são feitas, em grego, por um coral.
No interior de Goiás existem as missas sertanejas. Na cidade de Guarinos, no interior do estado, até os casamentos são celebrados ao som da autêntica música caipira. “É uma celebração da missa como as outras. A diferença é que ela está carregada de elementos sertanejos e agropecuários”, explicou ao IG o padre Valdivino Borges Junior, conhecido como padre Junior Periquito. O sucesso das celebrações do pároco foi tão grande que ele chegou a gravar o CD e DVD “Missa Sertaneja – Pe. Junior Periquito”.
Apesar das características regionais, a Igreja Católica afirma que os ritos dessas missas são os mesmos que os de uma celebração tradicional. “Na verdade, a eucaristia e os sacramentos são os mesmos. Todas essas celebrações fazem parte do que se convencionou chamar ritos litúrgicos ocidentais da Igreja Católica. Apenas foram feitas adaptações, de acordo com as peculiaridades de cada região ou grupo” explicou o cônego Antônio Aparecido Pereira, da Arquidiocese de São Paulo.
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