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Paquistanês retira acusação de blasfêmia no caso Sangla Hill

Na semana passada, um muçulmano paquistanês da cidade de Punjab, em Sangla Hill, retirou as acusações formais contra um cristão por atear fogo às páginas do Alcorão. 
 
A acusação de Mohammed Saleem - transmitida em todos os auto-falantes da mesquita em novembro - desencadeou uma retaliação violenta dos muçulmanos locais, destruindo quatro igrejas e jogando Yousaf Masih na prisão, por alegadamente, profanar o Alcorão. Ameaças contra os cristãos da cidade continuaram desde o ataque de 12 de novembro. 
 
Como parte de um acordo de reconciliação alcançado por muçulmanos locais e líderes cristãos em 5 de janeiro, Mohammed assinou uma declaração alegando a inocência de Masih.
 
Os líderes cristãos locais concordaram em não registrar acusações contra o grupo de dois mil arruaceiros muçulmanos que atacaram a comunidade cristã da cidade. A polícia manteve 88 desordeiros em custódia desde o ataque.
 
Em um gesto à comunidade cristã, o xeique Asif Jilani, da Assembléia Provincial, pediu desculpas em nome dos arruaceiros e pediu a ajuda dos cristãos para dissipar as tensões. 
 
O padre Samson Dilawar, da Igreja Católica do Espírito Santo, em Sangla Hill, disse ao Compass que o xeique Jilani lhe havia dito: "Gostaríamos de pedir que nos ajudem a libertar essas 88 pessoas, porque sofremos muita pressão das 88 famílias, que estão nos importunando". 
 
O padre Samson e o pastor presbiteriano, o reverendo Tajjamal Pervaiz, estavam entre as pessoas que assinaram o acordo. As igrejas de ambos foram destruídas pelos arruaceiros.
 
Caso não está encerrado 

Ainda não está claro como o acordo afetará os procedimentos legais. 
 
Há dois dias, uma corte local, na província de Nankana, de Sangla Hill, recusou-se a conceder fiança aos 88 arruaceiros, apesar de sua apelação ter sido baseada no novo acordo. Yousaf Masih também permanece preso. 
 
"Na verdade, este acordo não significa uma suspensão ao processo legal", declarou o padre. "É um processo oficial que terá de prosseguir. O acordo deixa claro a todas as 88 famílias afetadas que não somos nós (cristãos) que não estamos fazendo nada para libertar seus parentes. O governo é responsável por libertar todos eles."
 
O acordo promete acabar com a perseguição contra os cristãos de Sangla Hill. O padre Samson relatou que, desde a semana passada, os sermões de sexta-feira na mesquita local têm sido livres dos inflamados discursos anti-cristãos, e os jornais pararam com a divulgação de artigos tendenciosos contra a minoria religiosa.
 
Contudo, muitos cristãos não estão satisfeitos com o acordo, considerando que é uma prática comum do governo deixar de prover justiça para suas minorias religiosas. 
 
"Este (acordo) se deve à pressão, porque nós temos recebido ligações ameaçadoras de que eles irão nos matar," o padre Samson mencionou. "Então, os cristãos têm que ceder e dizer: "Tudo bem, nós não vamos persistir, considerando que vocês também não persistirão com o caso de Yousaf Masih"." 
 
Procedimentos legais têm sido suplantados pela recusa do governo em tornar público um relatório completo do incidente em Sangla Hill.  A polícia também deixou de prender 20 suspeitos apontados pela comunidade cristã como os verdadeiros responsáveis pelos ataques. Entre esses acusados estão o sub-prefeito do distrito, Malik Muhammad Azam e Saleem, cujas acusações contra Masih deram início ao evento.
 
Relatório judicial retido

Além disso, o governo ainda tem que cumprir as promessas de cobrir todos os custos para a restauração de quatro igrejas, um convento, uma escola administrada por uma missão, e dez lares que foram destruídos no ataque. De acordo com uma fonte local, somente uma igreja católica foi parcialmente restaurada, e a reconstrução permanece parada desde 24 de dezembro.
 
"É uma situação muito frustrante em que o governo não estava cumprindo seu dever", disse ao Compass Peter Jacob, do Conselho Nacional para Justiça e Paz (NCJP - Nacional Council for Justice and Peace). "Eles estavam apenas se aproveitando da situação, e essa não é uma solução justa. Não é o que nós tínhamos esperado."
 
Nas semanas que se seguiram ao ataque, manifestantes muçulmanos tentaram se vingar pela suposta queima do Alcorão.
 
Em 2 de dezembro, líderes políticos e religiosos discursando para três mil homens na mesquita Jamia Masjid Rizvia em Sangla Hill protestaram pedindo a execução pública de Masih. A polícia forçou os freqüentadores da mesquita a deixar o prédio em pequenos grupos e encheram o estádio da cidade para que manifestantes não se ajuntassem ali.
 
Em dezembro, alguns cristãos fugiram de Sangla Hill depois que ativistas muçulmanos ameaçaram matá-los por não retirarem as acusações contra os arruaceiros presos. O padre Samson e outros líderes cristãos receberam ameaças telefônicas anônimas, depois do anúncio do sub-prefeito Azam, feito em 29 de dezembro, afirmando que várias organizações religiosas planejavam se manifestar contra a prisão dos 88 muçulmanos.

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A violência só foi controlada após a chegada de 12 pelotões da polícia na cidade, de acordo com o artigo de 31 de dezembro do jornal "Daily Times".
 
Os cristãos de Sangla Hill reclamaram que os comerciantes muçulmanos tentaram aumentar a tensão usando sacos de papel com símbolos cristãos para embrulhar mercadorias. 
 
"A comunidade muçulmana reclama que os versos do Alcorão têm sido profanados", Peter Jacob, do NCJP, explicou ao Compass. "Agora, é claro, os cristãos do mesmo modo entendem que nenhum símbolo cristão deve ser mal usado. Isso pode ter provocado alguns outros incidentes de discussão entre cristãos e muçulmanos, ou entre um comerciante e um freguês."
 
Na assembléia de 7 de janeiro, em Lahore, grupos de direitos humanos e organizações cristãs continuaram a cobrar do governo a liberação do relatório judicial do incidente de Sangla Hill. Muitos temem que os cristãos da cidade venham a enfrentar o mesmo destino de seus compatriotas religiosos nas vilas de Shantinagar e Chianwala. 
 
Em fevereiro de 1997, um grupo de 30 mil muçulmanos teve um acesso de fúria no vilarejo cristão de Shantinagar e na cidade próxima de Khanewal, a 160 quilômetros de Sangla Hill. Embora os manifestantes tenham queimado três igrejas e destruído as casas e o sustento de centenas de cristãos, o relatório judicial final nunca foi publicado.
 
Em Chianwala, a 80 quilômetros de Sangla Hill, dois homens mataram três fiéis e feriram 13 outros no Natal de 2002 com granadas lançadas em uma igreja presbiteriana. Os atacantes foram libertos pela Corte Suprema apenas nove meses depois de sua detenção.
 
No protesto do início do mês os manifestantes também exigiram que o governo revogasse as leis de blasfêmia do Paquistão, afirmando que elas são efetivamente usadas para lidar com assuntos pessoais. As leis controversas determinam a prisão perpétua por blasfêmia contra o Alcorão e pena de morte por blasfêmia contra o profeta Maomé.
 
Como no caso de Mohammed Saleem, que aparentemente acusou Masih de blasfêmia para evitar o pagamento de um débito de jogo de azar ao cristão, as leis também são usadas inapropriadamente para ganhos pessoais.
 
"Nós estamos nos sentindo impotentes", admitiu o padre Samson, pedindo oração e que a comunidade internacional exerça pressão a fim de assegurar que "os verdadeiros acusados sejam detidos".
Fonte: https://www.portasabertas.org.br/noticias/2006/01/noticia2358/


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