O Papa Francisco provocou polêmica ontem ao afirmar que a “grande maioria” dos casamentos católicos atualmente é inválida, porque os casais não entendem que o matrimônio é um compromisso para a vida inteira. Mais tarde, o Pontífice foi criticado pela ala conservadora da Igreja, que entendeu o discurso como uma afirmação de que a maioria dos fiéis não leva os votos a sério.
O comentário de Francisco — famoso por suas declarações espontâneas sobre doutrinas do cristianismo — foi feito em uma sessão de perguntas e respostas com padres, freiras e paroquianos, em uma basílica de Roma. O Papa também afirmou que a Igreja precisa de programas melhores de preparação para o matrimônio.
— Um bispo me contou, alguns meses atrás, que conheceu um rapaz que havia acabado de concluir seu curso universitário e lhe disse: “Quero ser um padre, mas só por dez anos”. Estamos vivendo a cultura do provisório. Por causa disso, a grande maioria de nossos casamentos é nula, porque os casais dizem “sim, para o resto da minha vida”, mas eles não sabem o que estão dizendo, porque têm uma cultura diferente” — afirmou, em resposta a um fiel que citou a crise no casamento.
No entanto, em uma transcrição divulgada pelo Vaticano horas depois, o termo “a grande maioria” dos casamentos foi substituído por “alguns”. Um porta-voz da Santa Sé explicou que algumas declarações do Papa são cuidadosamente editadas após consulta a ele e aos seus assessores.
O Pontífice também ressaltou no encontro que a Igreja precisa promover programas melhores de preparação para o casamento e que padres não devem pressionar casais que vivem juntos a se casarem se eles não estiverem prontos para o matrimônio. Os religiosos, enfatizou, devem deixar “a fidelidade amadurecer".
Ross Douthat, um escritor conservador católico e colunista do jornal “The New York Times”, dedicou 20 tuítes ao assunto. Em um deles, criticou Francisco, por ter feito o que chamou de “uma alegação extraordinária, irresponsável e ridícula”.
Já o editor da revista católica conservadora “First Things Catholic” afirmou que a fala de Francisco foi “errada e irresponsável”. Edward Peters, advogado e conselheiro do Vaticano, avaliou as palavras do Pontífice como “muito ruins”, porque poderia fazer com que casais em uma situação difícil desistissem de vez da união conjugal, em vez de tentar resolver os problemas.
Segundo Francisco, o “amor puro” é mais raro do que a obsessão materialista:
— A crise do casamento está relacionada ao fato de que as pessoas não sabem o que é o sacramento e sua beleza, elas não sabem que isso é indissolúvel, que é para toda a vida. Há rapazes e moças que têm pureza e um grande amor, mas são poucos — afirmou o Papa, acrescentando ainda que muitos jovens têm uma visão materialista e superficial do matrimônio, obcecados com a escolha da roupa, da igreja e do restaurante.
Essa não é a primeira vez que Francisco gera controvérsias com suas discursos. No ano passado, ele teve que esclarecer suas declarações de que os católicos não devem se sentir obrigados a se reproduzirem “como coelhos”, ao lembrar que a Igreja proíbe o controle de natalidade.
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