Papa beatifica religiosos da guerra civil espanhola e provoca indignação
Críticos acusam a Igreja Católica de legitimar a ditadura de Francisco Franco. Carta da Comissão da Verdade sobre os crimes do franquismo, escrita para o papa Francisco, pedia o cancelamento da cerimônia.
Mais de 500 religiosos, em sua maioria mortos durante a guerra civil espanhola (1936-1939), foram beatificados neste domingo (13) em Tarragona, no leste da Espanha. Durante a cerimônia, uma mensagem do Papa provocou a indignação das vítimas do franquismo.
A imprensa espanhola apresentava a cerimônia, intitulada "Os Mártires do Século XX na Espanha, firmes e valentes testemunhas da fé", como "a maior beatificação na história da igreja".
Dos novos beatos, 515 são espanhóis e sete são estrangeiros: três franceses, um cubano, um colombiano, um filipino e um português.
Após a mensagem do Papa Francisco, gravada em vídeo com antecedência no Vaticano, bispos espanhóis leram a lista dos nomes dos beatificados, cujos rostos ilustravam um imenso cartaz.
Entre a multidão de fiéis, a Conferência Episcopal esperava a presença de 104 bispos, 2.720 religiosos e 4.000 familiares e amigos dos beatificados. O governo conservador espanhol estava representado pelo ministro da Justiça, Alberto Ruiz Gallardón.
A Conferência Episcopal teria tentado aparentemente evitar uma polêmica política na Espanha ao não se referir diretamente ao sensível período da guerra civil no anúncio da cerimônia e preferir o termo mais geral de "mártires do século XX".
Mas o Papa argentino foi mais explícito em sua mensagem ao declarar que são beatificados 500 mártires mortos por "sua fé durante a guerra civil espanhola" dos anos 30 do século passado.
A Plataforma para uma Comissão da Verdade sobre os crimes do franquismo, que afirma reunir mais de uma centena de associações de vítimas da ditadura de Francisco Franco (1939-1975), escreveu uma carta dirigida ao Papa e publicada na sexta-feira (13). "Sob o pretexto de um ato religioso, a hierarquia está fazendo um ato político de afirmação franquista", escreveu a organização.
"Você deve saber que a Igreja Católica apoiou o levante militar de Franco contra a República Espanhola em 1936, considerou a guerra civil como "uma cruzada" apoiando os generais revoltados, legitimou sua ditadura fascista e a feroz repressão que esta exerceu sobre os espanhóis", acrescentou a organização na carta, na qual pedia para o Papa cancelar a cerimônia.
Entre os setores mais progressistas da Igreja, minoritários na Espanha, também se elevavam algumas vozes contra esta beatificação, ao afirmar que a cerimônia iria abrir as feridas do franquismo.
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