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Outras religiões: Por que exchefe muçulmano obteve prisão por período longo?

Pessoas da imprensa no Turcomenistão informaram ao Forum18 NewsService que eles acreditam que o ex-chefe mufti (autoridade muçulmana suprema da cidade) da comunidade sunita foi sentenciado com prisão perpétua por sua oposição ao cerco do presidente na comunidade islâmica do país, e não por seu suposto envolvimento na conspiração de assassinato contra o presidente em novembro de 2002, como os promotores alegam.

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Nasrullah ibn Ibadullah, expulso como chefe mufti pelo presidente Saparmurat Niyazov em janeiro de 2003, foi sentenciado a 22 anos de prisão, aparentemente por acusações de traição da corte do distrito de Azatlyk, na capital Ashgabad, depois de um julgamento de dois dias. Os primeiros cinco anos estão previstos para serem cumpridos em uma prisão de segurança máxima. Em um julgamento semelhante que ocorreu ao mesmo tempo, o ex-ministro de recursos hídricos Gurbangeldy Volmiradov foi sentenciado a quinze anos de prisão. Nenhuma das sentenças foram anunciadas oficialmente pela mídia.

Contatado pelo Forum18, o juíz Nazarov, que participou do caso do ex-mufti, negou que ele teria julgado Nasrullah ibn Ibradullah e recusou-se a entrar em mais detalhes.

O governo usou os ataques ao carro do presidente em Ashgabad, no dia 25 de novembro de 2002, para lançar uma onda de prisões dos ativistas que fazem parte da oposição e restringir mais ainda a liberdade civil. Centenas de pessoas foram detidas nessas ondas de ataques e cerca de sessenta pessoas foram sentenciadas, variando de vinte anos até à prisão perpétua, na maioria por traição. O líder da conspiração, o ex-ministro das relações exteriores Boris Shikhmuradov, está em detenção depois de sentenciado à prisão perpétua em dezembro de 2002, embora alguns acreditem que ele já tenha morrido na prisão sendo vítima de torturas.

Estou passando por um tempo difícil acreditando que Mufti Nasrullah foi cúmplice nos eventos de 25 de novembro de 2002, informou uma fonte ao Forum18 no dia do julgamento. Essa mesma fonte também especulou que o governo estivesse associando-o com as tentativas de golpe de novembro, como uma maneira conveniente de justificar a demissão e procurar alguma cobertura política para essa justificação.

Entretanto, um representante da Iniciativa de Helsinque no Turcomenistão, grupo de diretos humanos muito respeitado que agora é dirigido fora do país, crê que a prisão de Ibadullah está relacionada mais à nova onda de perseguições do governo das minorias étnicas uzbeques. Muitos proeminentes e líderes renomados de etnia uzbeque estão sendo presos e sentenciados, disse esse mesmo representante ao Forum18 no dia 8 de março. Ele acredita que a senteça ainda não foi oficialmente registrada para não tentar inflamar mais ainda o sentimento antigoverno da parte dos uzbeques.

Ibadullah possui um longo currículo de obediência às autoridades soviéticas. Ele tornou-se kazi (magistrado muçulmano) do Turcomenistão no fim do período soviético, passando a ser chefe mufti depois da independência, quando os governos da Ásia Central incentivaram a comunidade islâmica a tomar posse de sua própria liderança no centro da era soviética em Tashkent, capital do Uzbequistão. Ele também foi fiel ao presidente Niyazov, passando a ser chefe do escritório de relações com religião. Quando Niyazov estabeleceu o Gengeshi (Comitê) para Relações Religiosas em 1994, Ibadullah passou a ser um dos deputados principais.

O representante da Iniciativa Helsinque no Turcomenistão notou que Ibadullah remanejou vários imãs (cléricos) das mesquitas no final da década de 1990 - incluindo um imã líder da cidade de Dashoguz - por se recusar a recitar os versos especiais (suras) em louvor ao presidente, que os imãs devem recitar durante as orações de sextas-feiras.

Embora conhecido por sua obediência, comentários apontam para a sua conhecida oposição ao movimento do presidente em apertar o cerco às mesquitas no final da década de 1990 como culto à personalidade do presidente. Como as suspeitas de Niyaziv das minorias étnicas cresceram, Ibarullah, de uma etnia uzbeque de Dashoguz que fala turcomeno com sotaque pesado de uzbeque, passou a sofrer no âmbito étnico. Quando Niyazov o afastou como chefe mufti e deputado do Comitê em janeiro do ano passado, ele foi substituído por um de etnia turcomena, Kakageldy Vepaev. Em sua demissão, alguns muçulmanos reclamaram que isso era um movimento do governo para restringir a liberade da comunidade sunita.

Uma das metas principais de Ibadullah era obstruir o quanto for possível o uso em mesquitas do código moral Ruhnama do presidente (Livro da Alma), em que os imãs são obrigados a divulgar proeminentemente nas mesquitas e citar durante os sermões. Alguns oficiais declararam ainda que o Ruhnama é uma versão moderna do Alcorão e que o presidente Niyazov, como seu autor, é um profeta. Da mesma forma, padres da Igreja Ortodoxa Russa receberam instruções do final do ano de 2000 para citar a Ruhnama e fazer louvores à Ruhnama nos sermões.

A campanha anti-uzbque tem também um impacto direto nas mesquitas no nordeste do Turcomenistão, já que o governo retirou os imãs de etnia uzbque e os substituiu por imãs de etnia turcomena.

Fonte: https://www.portasabertas.org.br/noticias/2004/03/noticia691/


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