Uma série de violentos ataques em Poso, Sulawesi Central, nas últimas semanas tem levado a temores de uma iminente crise na região. Recentemente, Portas Abertas falou com o Dr. Edduwar Mangiri, diretor da clínica de saúde do governo em Tentena, a respeito da situação atual. A seguir, trechos das observações do Dr. Mangiri.
Portas Abertas: O Sínodo GKST (Sínodo da Igreja Protestante de Sulawesi Central) reuniu-se com autoridades do governo em Palu em novembro, pedindo-lhes que declarassem estado de emergência em Poso. Entretanto, alguns cristãos acreditam que isto pode piorar ainda mais as coisas. Eles acusam Muin Pusadan, a autoridade distrital, ou Bupati de Poso, de apoiar o conflito.
Edduwar Mangiri: As acusações contra Pusadan nasceram de uma raiva e frustração sobre vários incidentes não resolvidos no passado recente. O bupati é responsável pela segurança de todas as comunidades dentro de sua jurisdição, e tanto o exército como a polícia trabalham sob sua orientação. Mas não existe um incidente que possa ser diretamente e convincentemente creditado a Pusadan. A única coisa que pode ser dita é que o Bupati e o governador do distrito não têm oferecido segurança adequada em Poso, particularmente para os membros cristãos da comunidade.
Portas Abertas: Qual é o sentimento geral dos cristãos em Poso neste exato momento?
Mangiri: Os cristãos estão com medo e perdendo a confiança de que a situação possa ser melhorada pelo governo em qualquer momento em breve.
Portas Abertas: Existe a sensação de medo, ou uma necessidade de retaliação contra os muçulmanos?
Mangiri: As pessoas realmente sentem dessa forma, mas os sentimentos são mantidos com eles. O maior medo é que um dia, quando eles não mais puderem ser contidos, haja uma explosão de raiva, refletida em retaliação contra qualquer muçulmano. As pessoas esperam que as forças de segurança e o governo contenham os recentes ataques, mas o temor da escalada de ataques ainda existe.
Portas Abertas: Qual é a abordagem geral dos cristãos e das igrejas quanto à violência?
Mangiri: Os pastores estão encorajando seu povo a orar mais e melhor, bem como demonstrar uma forma de vida correta e santa. O jogo e a bebida é um grande problema em Tentena agora.
Portas Abertas: Os cristãos vêem de fato alguma solução para a violência, e se vêem, qual é?
Mangiri: Eles não vêem a solução em suas mãos. Ela está nas mãos dos militares, da polícia e do governo.
Portas Abertas: O Sr. sabe da existência de quaisquer incidentes onde a comunidade cristã tenha retaliado contra os muçulmanos?
Mangiri: Até agora não há notícias de retaliação de cristãos contra os muçulmanos. Houve um incidente no vilarejo de Kuku como reação ao assassinato de Oranje Tadjodja e de seu sobrinho Yohanes no mês passado, quando os moradores locais pararam um ônibus de Palu que ia para Bangku, uma cidade muçulmana, e revistaram todos no ônibus. Um homem muçulmano embrenhou-se noite a dentro, com medo, mas ninguém foi ferido.
Portas Abertas: Qual foi o motivo que levou os envolvidos a praticarem as 12 mortes de cristãos no dia 12 de outubro?
Mangiri: Minha melhor suposição é de quem quer que seja que tenha idealizado esses ataques, ele provavelmente o está fazendo para causar instabilidade na região, especialmente à vista das próximas eleições. Eu diria também que suas ações são uma forma de dizer que eles não querem nenhum cristão em Sulawesi Central - ou Sulawesi inteira para esse assunto.
Portas Abertas: Temos visto reportagens em que o Jemaah Islamiah (JI) tornou-se muito mais ativo em Poso e em Morowali nos últimos meses. O Sr. acredita que o JI é responsável pelos recentes ataques?
Mangiri: Penso que é cedo demais para atribuir os ataques ao JI. Tenho ouvido relatos do chefe de polícia e outros, mas não existe evidência segura de que o JI seja o responsável. Entretanto, tenho visto panfletos distribuídos por algumas organizações islâmicas radicais locais apelando aos muçulmanos para que se juntem a elas e expulsem os cristãos da província.
Portas Abertas: O que faz de Poso um alvo importante para os extremistas muçulmanos?
Mangiri: Talvez seja porque, fora a província de Sulawesi do Norte, Sulawesi Central tem a maior população cristã de toda a ilha de Sulawesi. Tem sido a visão do islamismo radical varrer o cristianismo de toda a Indonésia. Eu acredito que Sulawesi Central é apenas uma de suas áreas-alvo na Indonésia.
Portas Abertas: O que está acontecendo entre as populações desalojadas em Poso?
Mangiri: Cerca de 9.000 refugiados (por volta de 2.000 famílias) ainda estão vivendo em Tentena e nas áreas vizinhas. Somente 4.000 ou em torno disso voltaram para seus vilarejos, com a ajuda do governo. A administração local e o governo central declararam que os refugiados restantes logo serão mandados de volta para seus respectivos vilarejos, ou realocados em novos assentamentos antes da eleição geral em abril de 2004.
Portas Abertas: Alguns moradores estão claramente temerosos de sair para suas lavouras depois dos recentes ataques. Isso é verdade para os muçulmanos assim como é para os cristãos?
Mangiri: Quanto aos muçulmanos eu não sei - mas nunca ouvi falar de qualquer deles ser atacado pelos cristãos. Este tipo de medo tem estado com os agricultores cristãos desde que o conflito começou. Nada é novo, inclusive a desculpa de que não existem forças de segurança para protegê-los.
Portas Abertas: Ouvimos também que o mercado central de Poso, o maior da área, é dominado por muçulmanos que fazem discriminação contra os cristãos. Como isso afeta o sustento dos agricultores cristãos?
Mangiri: É verdade que não existe um único cristão negociando nem no mercado central de Poso ou em qualquer outra parte dentro da cidade de Poso. Mas isso não quer dizer que não exista atividade nenhuma entre as duas comunidades. Os negociantes muçulmanos e cristãos fazem seus negócios fora de Poso, normalmente em cidades como Kawua. Os pescadores muçulmanos vendem seus peixes pelas verduras dos agricultores cristãos e assim por diante.
Portas Abertas: Recentemente o Centro de Crise de Sulawesi do Norte (que representa o Sínodo de Igrejas de Sulawesi do Norte e Central) reuniu-se com representantes de Poso e Morowali e apresentaram uma sugestão por escrito ao conflito de Poso. Que medidas o Sr. acha que o governo deveria tomar para começar um processo de paz?
Mangiri: É difícil responder a sua pergunta, já que esta não é a primeira vez que tal aventura foi tentada. Temos visto tantas frustrações em tentativas anteriores, que podemos somente esperar e orar para que desta vez seja diferente. Eu acredito que o governo deveria estar trabalhando com mais intensidade para conseguir uma paz duradoura para a região, garantindo especialmente a segurança dos cristãos de acordo com as leis da Indonésia. Se o governo não pode tratar desses assuntos, devemos levar a questão à atenção de organismos internacionais para que façam pressão sobre o governo.
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