No dia 10 de dezembro, 40 dias depois do ataque às igrejas de Bagdá, Gary Foster, um colaborador da Portas Abertas Internacional, conversou com uma testemunha e relata a história de seu filho.
O pai do menino foi um dos primeiros a chegar à igreja em Bagdá, poucas horas depois que os 65 cadáveres foram removidos e que os sobreviventes foram transportados para dois hospitais da cidade. Entre os 65 mortos estavam todas as crianças presentes na igreja na hora do atentado.
O pai decidira não ir à missa naquela noite, mas ouviu da rua o barulho dos tiros, das granadas, e da explosão das bombas suicidas. Ele correu para casa para se certificar que sua família estava viva e, então, se dirigiu aos hospitais para visitar os sobreviventes e suas famílias. A conversa foi com este pai 40 dias após a tragédia. Este relato foi baseado no que ele contou sobre o caso e nas reações e orações de seu filho.
“Eu sempre me imagino tendo uma capa especial como aquela que o SuperHomem usa, quando eu entro e saio correndo do quarto de minha irmã. A capa é dourada com uma faixa vermelha, assim como as cortinas de nossa sala de jantar. Eu me vejo como um protetor do reino e vejo minha irmã como a princesa a ser protegida – está certo...isso quando ela não me enche a paciência.
Eu costumava brincar na rua, mas quando a guerra começou, nós passamos a brincar somente dentro de casa. Quando saímos de casa nós vamos sempre de carro e eu ajudo ao meu pai a olhar debaixo do carro para ver se tem bomba.
Nós sempre verificamos as coisas em volta de nossa casa e o nervosismo sempre toma conta quando viajamos até mesmo para distâncias curtas fora da cidade. Nós até deixamos algumas malas prontas em caso de termos que abandonar a casa no meio da noite. Minha preocupação é que meus brinquedos caibam nessas malas.
Nós íamos bastante à igreja, mas paramos depois do que aconteceu. Uma coisa muito ruim aconteceu com a nossa igreja e eu perdi muitos amigos. Eles foram mortos. Eu não vi o que aconteceu, mas ouço muitas histórias a respeito. Eu imagino que muitas coisas jamais serão as mesmas e que eu preciso fazer o meu papel de protetor e guardião do reino.
O que isto significou para nós? Afinal, nós estamos seguros ou também seremos mortos? E se o meu pai algum dia não voltar mais para casa? Quem vai tomar conta de minha mãe e de minha irmã? Terá que ser eu. Se eu tiver a capa especial, eu posso protegê-las.
Na noite anterior, meus pais oraram com minha irmã quando ela foi dormir. Na verdade, ela sempre tem muita coisa que falar com Deus. Eu já não tenho tanta coisa para orar; eu apenas penso, e costumo orar a Deus só com a mente. Eu posso ouvir a minha irmã agora. Ela está orando: ‘Deus, ajude para que eles não bombardeiem outra igreja e para que não venham carros-bomba. Chega de derramamento de sangue.’ Ela tem estado com muito medo desde que aquela coisa horrível aconteceu com a nossa igreja, e mamãe vai até a sua cama à noite, orar para que minha irmã não tenha pesadelos. Ela não costumava ter essas coisas. Eu também oro por ela.
Então, papai vem orar comigo. Ele me diz que Jesus cuidará de nós e que eu não devo me preocupar. Ele me diz que Deus ama até mesmo as pessoas que nos ferem. Ele me diz que Jesus é amor – e que ele é a minha verdadeira capa de proteção.”
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