Agência FAPESP – Se ainda havia alguma dúvida, ela acaba de ser enterrada. Mas a confirmação está longe de ser uma boa notícia. O mais novo relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática (IPCC, na sigla em inglês), cuja primeira parte foi divulgada nesta sexta-feira (02), em Paris, não deixa dúvidas: o clima do planeta está mudando – e a culpa é do homem.
O relatório, dividido em quatro volumes com um total de 1,6 mil páginas, levou seis anos para ser feito e contou com a participação de mais de 2,5 mil pesquisadores de 130 países. Em poucas palavras: é o trabalho mais sério e importante já feito sobre o assunto. Deve deixar muitos políticos no mínimo constrangidos, a começar por George W. Bush, presidente do país que é o primeiro poluidor mundial e que tem se oposto a iniciativas como o protocolo de Kyoto.
De acordo com o documento, o aquecimento global está se acelerando, motivado especialmente pela queima descontrolada de combustíveis fósseis. A temperatura média global subiu cerca de 0,7º C entre 1901 e 2005. Os dois anos mais quentes registrados até hoje foram 1998 e 2005. Mas a situação pode piorar muito. Na estimativa mais otimista, o aumento da temperatura ficará entre 1,8 e 4,0 graus no século 21.
O relatório do IPCC diz haver 90 por cento de probabilidade que atividades humanas são a causa da maior parte do aquecimento nas últimas décadas.
Segundo o texto, a mudança climática, que muitos cientistas diziam esperar para daqui a algumas décadas, já começou. O fenômeno pode ser observado, por exemplo, no derretimento de geleiras e na diminuição da calota polar do Oceano Glacial Ártico.
Entre as conseqüências da mudança climática estão a alteração nos padrões de chuva, com secas e tempestades violentas, e níveis mais elevados nos mares.
Segundo cientistas que participaram da produção do relatório, os resultados apresentam o retrato mais nítido de que a poluição promovida pelo homem na forma de gases estufa (como dióxido de carbono, metano, hidrofluorcarbonos, perfluorcarbonos e hexafluoreto de enxofre) tem um papel fundamental no aquecimento global.
“Estamos vendo – e não prevendo – os efeitos do aquecimento global em uma escala e em formas que não eram observáveis anteriormente”, disse Gabriele Hegerl, professora da Universidade de Duke e uma das principais autoras do capítulo dedicado às causas da mudança climática.
“Quando olhamos para as alterações em temperatura, circulação e aquecimento nos oceanos, para a redução de gelo no Ártico e para o derretimento de geleiras, vemos um retrato muito claro do papel das causas externas, particularmente dos gases estufa. Estamos mais certos de que as mudanças climáticas atuais não estão ligadas a variações naturais”, disse Gabriele em comunicado da Universidade de Duke.
A equipe coordenada pela cientista e por Francis Zwiers, do Centro Canadense de Modelagem e Análise Climática, analisou dados colhidos por satélites e instrumentos de medição em terra e mares, além de reconstruções feitas em computador que cobriram os últimos mil anos. Ao comparar as observações com as modelagens, os pesquisadores conseguiram identificar que influências externas eram mais importantes.
“Por meio da análise dos padrões de mudanças nas temperaturas no século 20, pudemos identificar diferenças entre as alterações promovidas por gases estufa, por aerossóis produzidos pelo homem, por variações na radiação solar ou por grandes erupções vulcânicas”, explicou Gabriele.
Síntese em novembro
Criado em 1988 pela Organização Meteorológica Mundial (OMM) e pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), o IPCC é a mais alta autoridade científica sobre aquecimento global. O painel costuma lançar relatórios a cada cinco ou seis anos, que causam grande impacto em todo o mundo. O texto atual corresponde ao quarto relatório.
Com sede em Genebra, na Suíça, o IPCC tem três grupos de trabalho, formados por especialistas nomeados por governos e organizações internacionais, que analisaram nos últimos seis anos milhares de pesquisas feitas em todo o mundo.
O primeiro grupo, cujo relatório foi divulgado agora, tem o objetivo de atualizar o conhecimento a respeito das mudanças climáticas e apontar evidências físicas dessa alteração no planeta. O segundo grupo analisa possíveis impactos da mudança climática e divulgará suas conclusões no volume a ser apresentado em abril.
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