Hye e outras poucas senhoras atravessaram o rio frio da fronteira no meio da noite. Do outro lado, alguns homens fortes esperavam por elas. Quando bateram-se as portas da van por trás delas, Hye sabia que algo estava terrivelmente errado. Como 50 mil outras norte-coreanas atualmente escondidas na China, ela tinha sido enganada por traficantes humanos.
As pessoas da van quase não falavam. Não havia como dizer para onde o carro iria. Elas foram levadas para um prédio, algum tipo de escritório, e trancadas até serem vendidas, uma a uma, para os chineses.
“Eu chorei cada dia dos três primeiros anos que fiquei na China”, disse Hye recentemente à Portas Abertas. “O homem que se dizia meu esposo me surrava terrivelmente. Ele também me engravidou e tivemos uma criança. Chegou um ponto em que eu não aguentava mais as surras e fugi. Agora, estou me escondendo dele. Uma vizinha, que também é uma refugiada ilegal da Coreia do Norte, traz meu filho de vez em quando, para que eu possa passar um tempo com ele”.
Logo após Hye deixar seu marido, foi apresentada a um dos grupos secretos para refugiadas da Portas Abertas na China e se tornou cristã. A obreira Sun-Hi incentivou-a a voltar para seu marido e tentar fazer as pazes com ele: “Tenho visto muitos milagres nos casamentos de maridos chineses e esposas norte-coreanas. Deus pode fazer isso, mas, algumas vezes, elas precisam suportar um pouco mais. Entendo que é fácil falar, mas, repetidamente, Deus tem provado que é capaz de restaurar esses relacionamentos e torná-los muito melhor para o casal e para seus filhos”.
Hye se recusou a voltar. “As surras eram muito duras. Era horrível. Agora meu marido já comprou uma esposa nova”.
Destino fatal
As histórias de outras refugiadas norte-coreanas são similares e igualmente complexas. Atraídas para longe de suas famílias e seu país, elas se acham presas em bordeis ou por maridos abusivos.
Frequentemente, as mulheres são “compartilhadas” por diferentes membros das famílias. As sogras tendem a tratá-las como escravas. Muitas deixaram maridos e filhos na Coreia do Norte na esperança de conseguir sustento para eles. “O único motivo pelo qual não tirei minha vida é porque, pelo menos, eu posso sustentar minha família na Coreia do Norte”, dizem as refugiadas frequentemente.
Há muitos obstáculos em fugir para a China (pense na falta de dinheiro, nenhum contato, nenhuma identidade e nenhum documento de viagem), e há muitas consequências. Ainda que elas consigam evitar a prisão, fugir para a China significa perder todas as ligações com seus parentes na Coreia do Norte.
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