Novos escândalos sexuais envolvendo sete padres em diferentes cidades da Itália chocaram os italianos e reacenderam o debate sobre o problema na Igreja Católica.
Os casos, que têm sido tratados com destaque pela imprensa do país, teriam ocorrido ao longo dos últimos dez anos e estão sendo alvo de investigações pela polícia italiana.
Em Turim, no norte da Itália, a Procuradoria está investigando pelo menos seis padres, nas regiões de Puglia, Lombardia, Piemonte e Ligúria, alguns deles acusados de violência sexual grave e contínua.
A primeira denúncia no caso partiu de Salvatore Costa, de 24 anos, um ex-menino de rua e hoje preso por extorsão.
“Foi ele quem me iniciou sexualmente”, acusou Costa ao referir-se ao padre salesiano Dom Luciano Alloisio, de 63 anos, ecônomo do Instituto Valsalice.
Costa foi preso em flagrante recebendo dinheiro de Dom Luciano que, cansado das chantagens do rapaz para ficar em silêncio, resolveu denunciá-lo à Polícia.
“Pedi dinheiro porque não tinha como pagar as despesas de casa. Além disso, Dom Luciano abusou de mim quando eu tinha 15 anos.”
Pressionado, Dom Luciano confessou que costumava pagar por serviços sexuais de garotos de programa que se prostituem no centro de Turim. Mas insistiu nunca ter saído com um menor de idade.
Já o jovem preso garantiu aos procuradores que há muitos anos vive da prostituição e de chantagear sacerdotes.
“Mantinha relações sexuais com vários padres de Turim e cidades vizinhas e pedia dinheiro para ficar calado”, afirmou.
A partir das revelações de Costa e de interceptações telefônicas, os sacerdotes estão sendo investigados por pedofilia e indução à prostituição.
Na casa do salesiano, os procuradores encontraram uma série de bilhetes assinados por Costa com as frases “Nunca tive relação sexual com Dom Luciano” ou “Eu inventei tudo”. O rapaz explicou que assinava os bilhetes como “recibo em troca do silêncio”.
Há poucos dias, a Polícia encontrou um livro de contabilidade com a comprovação de vários pagamentos feitos por outro padre – o monsenhor Mario Vaudagnotto, diretor do Escritório de Celebrações Litúrgicas da Diocese de Turim – a Costa.
Na investigação, também estão sendo ouvidos garotos de programa que podem ter tido relações com os padres. De acordo com os policiais, muitos são imigrantes e têm menos de 18 anos.
Além dos seis padres investigados pela Procuradoria de Turim, outro sacerdote está na mira da Justiça.
Em Terni, na Umbria, Dom Pierino Gelmini, de 82 anos, fundador da comunidade Incontro, que atende jovens dependentes de drogas, está sendo investigado há mais de um ano por violência sexual.
No início de agosto, o caso ganhou as páginas dos jornais italianos. Dom Gelmini, que era acusado por dois de seus ex-hóspedes, se defendeu, afirmando que se tratava de um lobby por parte de um grupo de judeus tentando prejudicá-lo.
O advogado do sacerdote se demitiu depois destas declarações.
Outros jovens que estiveram na comunidade em tratamento ficaram sabendo das acusações e também resolveram denunciá-lo. Hoje, são dez os acusadores.
Dom Gelmini é conhecido na Itália como o padre anti-droga. É acostumado a participar de programas televisivos e é amigo de diversos políticos da centro-direita italiana, que preparam para o próximo dia 15 um dia de solidariedade.
No entanto, as acusações contra o sacerdote são gravíssimas. Os jovens falam da existência de uma “sala do silêncio” na comunidade, onde eram cometidos os abusos.
Segundo revelou o vaticanista Ignazio Ingrao, Dom Gelmini foi acusado de abuso sexual pela primeira vez há cinco anos.
No entanto, como a denúncia era anônima, o caso acabou sendo arquivado. Mas coincidiu com o afastamento de um ex-sacerdote, que por anos tinha sido braço direito de Dom Gelmini na comunidade Incontro.
Recentemente, o porta-voz do Vaticano, padre Federico Lombardi, declarou que a pedofilia não é exclusividade da Igreja Católica, ao ser questionado sobre o acordo de mais de R$ 1 bilhão feito entre a Arquidiocese de Los Angeles com 508 vítimas de abuso sexual por sacerdotes.
“A Igreja sempre soube que os mosteiros e seminários atraem os homossexuais. Antes, era muito atenta, barrava e vigiava a formação”, afirmou o escritor católico Vittorio Messori – co-autor de livros com os papas João Paulo 2º e Bento 16 -, em entrevista ao jornal La Stampa.
“Quem demonstrava tendências gays tinha de sair. Depois, em nome da não discriminação, permitiu o ingresso dos homossexuais e hoje a Igreja paga pela imprudência”, disse Messori.
Segundo o autor, um dos mais traduzidos escritores católicos em todo o mundo, não bastaria a Igreja Católica abolir o celibato para dar fim aos escândalos sexuais, porque, de acordo com ele, 80% dos casos envolvem gays.
Na avaliação do especialista em Vaticano Andrea Tornielli, a Santa Sé tomou uma posição correta em vetar o ingresso nos seminários de quem tem tendências homossexuais “profundamente enraizadas”. Ele diz, no entanto, que muito padres gays vivem com equilíbrio e castidade.
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