“Nós não queremos ir embora,” dizem as crianças que, apesar do frio do inverno, tinham a pele coberta com transpiração e a respiração ofegante devido aos jogos rápidos que estavam brincando. Não parece, mas estas são as palavras vindas de uma vila cristã construída com tendas no ano passado, para ajuda emergencial pelas inundações em agosto, no Paquistão.
Exceto nas primeiras semanas, não existia espaço para sorrisos e brincadeiras animadas nesta parte norte do país. As crianças destas famílias cristãs desabrigadas mal se conheciam, e nunca tiveram tantos amigos quanto agora.
Anteriormente, a maioria vivia como famílias cristãs isoladas em áreas predominantemente não-cristãs, mas mesmo para os que viviam em comunidades cristãs, era mais seguro ficar dentro de casa. Seus pais tinham muito medo de encorajá-los a brincar nas ruas. Enquanto as enchentes levaram muitas coisas, elas também trouxeram uma nova família.
“Eu disse a minha mãe que não importava que a enchente tivesse levado nossa geladeira e outras coisas. Pelo menos nós agora temos amigos e família que nunca tivemos antes. Penso que devíamos viver aqui assim para sempre!” disse Shahrukh* de 7 anos de idade. Sua mãe beijou o alegremente na cabeça, dizendo para ele terminar de juntar suas coisas.
Auxílio
Cinco meses depois das inundações, parceiros da Portas Abertas no local estavam preparando sua equipe de resgate para ajudar as famílias residentes a deixarem a temporária vila de tendas fornecidas por irmãos e irmãs cristãos de todo o mundo. Todas estas famílias cristãs perderam tudo nas enchentes, incluindo suas casas. Enquanto estavam nas tendas, eles tiveram a oportunidade de ajudar uns aos outros a reconstruir suas casas e arrumar sua vida novamente. Eles estavam muito atrasados com relação aos vizinhos não-cristãos neste processo.
Depois da inundação, organizações de ajuda vieram e ajudaram os muçulmanos a se estruturarem. Na maioria dos casos, nossos parceiros descobriram que os cristãos estavam ou no final da fila para ajuda ou não eram convidados a entrar no processo de forma alguma. “Uma senhora disse que se eu mudasse minha fé, ela daria comida para mim e para minha família. Mas ela disse que não poderia fazer isso agora, porque a comida no campo de ajuda tinha sido comprada com impostos religiosos e doações em escolas religiosas no país,” disse um menino para sua mãe sem fôlego, enquanto ele corria para dentro da tenda onde ela estava arrumando suas coisas dentro de um novo baú de metal.
Parando, sua mãe relembrou os primeiros dias depois da inundação, quando por vários dias eles não tinham nada. Tudo o que podiam fazer era sentar a céu aberto, cantar salmos e contar histórias ou simplesmente deitar quando a dor em suas barrigas e o cansaço em seus corpos se tornavam insuportáveis.
“A senhora Reena* nos ensinou muitas histórias naquele momento. Ela e a senhora Kandal nos contaram histórias sobre Jesus, e sobre Noé e a grande enchente e outros profetas. Nós sabíamos pouco sobre Jesus antes disso,” admitiu um menino. Os olhos deles se arregalaram quando ele mencionou Noé. “Nós moravamos muito longe da igreja e era difícil irmos até lá aos domingos – então a senhora Reena e a senhora Kandal aproveitaram que estavam juntos e nos ensinaram histórias da Bíblia. Nós ficamos iguais as crianças da igreja.”
Ele se lembra do dia no qual o “bom senhor” com olhos gentis e um sorriso amoroso veio para saber sobre eles. “Ele disse que havia cristãos orando por nós e esperando para nos ajudar. O bom senhor era um professor cristão de uma cidade vizinha. Ele pediu a alguns de nossos pais para voltar as nossas casas e ajudar a ver quanto estrago havia. Antes de sabermos disso, nós estávamos ajudando uns aos outros!”
Ele se irritou de forma travessa. “Eu não quero voltar depois do Natal. Aqui é tão bom, e a escola dominical é melhor do que todas as outras que já tivemos. Diga ao bom senhor que nós não queremos importuná-lo. Nós mesmos organizaremos o campo, para ser um campo para crianças ouvirem as histórias sobre Jesus. Vocês todos podem voltar, e nós ficaremos com a senhora Reena e a Senhora Kanwal conosco. Adeus!” disse ele com um brilho nos olhos, acenando para sua mãe e fingindo mandá-la embora.
A verdade é que nenhuma dessas crianças cristãs tinham tido tantos amigos e brincado em um lugar tão seguro. Eles nunca puderam falar com Deus ou sobre Deus tão livremente com uns com os outros sem medo de serem acusados de blasfêmia contra as crenças de seus vizinhos. Tinha sido tão tranquilo, não ter que se preocupar com quem estava observando suas irmãs, sempre sob risco de sequestro.
Volta
Mas o tempo deles voltarem para o mundo hostil chegou. As professoras e cuidadoras no campo trabalharam duro para prepará-los para voltarem para seus antigos lugares, onde os cristãos não são bem vindos nem aceitos, onde lixo continuará sendo amontoado fora das casas dos cristãos enquanto a área estiver sendo renovada. Mas suas faces tinham sorrisos de esperança, por saber pela primeira vez em suas vidas que havia milhares de cristãos orando por eles que os amaram o suficiente para mandar ajuda.
Enquanto a equipe de ajuda dirigia para fora do campo, pequenos meninos da vila vizinha que estavam jogando críquete jogaram pedras neles, fizeram gestos rudes e cuspiram em seu carro.
“Eles tinham tentado jogar bolas de críquete no nosso lado só para começar uma briga. Mas a cerca era muito alta e eles eram muito pequenos. Eles cuspiam sempre que passávamos, mas quem sabe algum dia nós seremos capazes de ganhá-los com nosso amor e atitude,” disse o bom senhor, se dirigindo para outro local com cristãos afetados pela inundação. “Nós tentamos ajudar as crianças neste campo a ver que Deus irá usá-las para trazer esperança com sua alegria através Dele.”
Seu mundo no Paquistão atingido pelas enchentes pode não ter mudado muito – mas as crianças da vila cristã construída com tendas na região norte do Paquistão foram transformadas.
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