Ele não esconde sua preocupação com o Iraque e com o futuro da comunidade cristã. Joseph Yacoub, um iraquiano caldeu e professor de Ciências Políticas na Universidade Católica de Lion, é especialista em cristianismo do Oriente Médio e tem profundo conhecimento da realidade iraquiana;
Ele concedeu uma entrevista à agência de notícias AsiaNews, publicada abaixo.
Professor Yacoub, qual sua opinião sobre o acordo da retirada das tropas norte-americanas em 2011, assinado pelo governo e aprovado pelo parlamento iraquiano?
Eu criticaria a medida, porque é mera mudança superficial. Durante os próximos três anos, as tropas norte-americanas continuarão em solo iraquiano e, então, o país, em todos os efeitos, continuará ocupado.
Essa situação se estende por mais de cinco anos, e não ocasionou mudança substancial em termos de segurança. Ainda temos de ver como a administração de Barak Obama lidará com isso depois que ele for empossado. Existe, por fim, uma cláusula no acordo que possibilita antecipar ou até mesmo postergar a retirada.
Nos últimos dias, o governo se gabou de ter reconquistado o senso de soberania nacional.
Em minha opinião, isso foi uma simples tentativa de reconquistar legitimidade. Mas, em termos concretos, isso muda pouco. O governo, por exemplo, inseriu uma cláusula que prevê a possibilidade de intervenção militar caso as instituições democráticas do país sejam ameaçadas. Mas podemos, com toda seriedade dizer que o país é democrático? A presença e o papel dos Estados Unidos não mudaram substancialmente.
Ainda descreveram o voto parlamentar como um momento de grande consenso.
O Parlamento foi forçado a votar em favor do plano de retirada, o número total de votos prova isso. A maioria estava empenhada em legitimar o texto, mas a abstenção de 86 deputados e os votos contrários de 35, em um total de dos 275 pessoas, mostra na realidade que essa maioria era pequena.
O que você acha da lei eleitoral que permite apenas seis cadeiras para grupos minoritários?
O que tem sido feito às minorias é desonroso e discriminatório. Houve uma série de protestos, mas o projeto de lei foi aprovado. É evidente que existe uma política de marginalização dos cristãos, uma política que, no caso de Mosul, tornou-se perseguição. Essa parece ser uma estratégia deliberada que visa eliminar politicamente os cristãos do país.
E isso beneficiaria quem?
É a culpa daqueles que governam o Iraque. Na teoria, as minorias são reconhecidas e protegidas pela Constituição, mas, de novo, é uma declaração superficial, porque a realidade é dramaticamente diferente.
Os cristãos que permaneceram no Iraque parecem estar em uma encruzilhada: deixar o país ou se tornarem refugiados na planície de Nínive. Existe uma terceira escolha?
Este é o ponto. Precisamos pensar em termos coletivos e olhar o país em sua totalidade, apesar de suas divisões internas. Primeiramente, uma visão global deve ser elaborada, e aí seremos capazes de considerar a estado e representação dos cristãos. O Iraque precisa se manter unido, baseado em sua própria fundação e não em critérios confessionais, religiosos e étnicos, que apenas aumentam a divisão. Devemos deixar essa lógica porque ela causa ruptura no país.
A hipótese de uma nação federal foi mencionada.
A teoria de um Estado pode ser válida, mas somente se for baseada em um princípio de unidade, ainda que com diferenças internas. A Constituição, pela forma como foi redigida, encoraja o separatismo; precisamos primeiramente redigir um acordo moral entre as várias partes, porque, sem unidade, a nação entrará em colapso.
Mas existe o desejo de se manter unido?
Essa é outra questão. Vamos voltar aos cristãos: criar um enclave na planície de Nínive somente complicará as coisas por mudar negativamente a comunidade dentro do país. No melhor cenário, vai se tornar uma zona de separação entre árabes e curdos e acabaria sendo explorada. Pode não ser a melhor solução para uma comunidade que vive no país há séculos e que tem sido uma testemunha concreta da sociedade pluralista e multicultural do Iraque, o que é uma das maiores riquezas da nação.
Os cristãos são cidadãos iraquianos em todos os efeitos; a missão das igrejas é ser uma ponte entre diferentes culturas. Para isso, é necessário se ter um Iraque fundamentado em critérios cívicos, e não um país dividido que corre o risco de encurralar-se e isolar-se. O governo tem de garantir esse ambiente, apoiado pela comunidade internacional.
O que você acha da decisão da União Européia de aceitar dez mil iraquianos refugiados?
Aqui também, o ponto é garantir segurança para que eles possam voltar a sua terra natal. Para os cristãos, em particular, o aspecto psicológico é extremamente importante: eles precisam saber que não estão sozinhos e isolados. Não somos órfãos. Os cristãos precisam de ajuda psicológica e de solidariedade. O ideal é ajudá-los a permanecer em sua terra.
Professor Yacoub, como você acha que será o futuro do Iraque?
O Iraque precisa encontrar o caminho para renovar a unidade, a estabilidade e a paz. Somos todos iraquianos e pertencemos a esse país, independentemente de nossa etnia ou crença religiosa.
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