O seguinte texto é o testemunho de um cristão egípcio, que comenta o que a revolução e as eleições no país têm representado para a Igreja egípcia
O Egito mudou drasticamente desde o começo da revolução em 25 de janeiro de 2011.
Olhando para os últimos 17 meses, tenho tantos pensamentos e sentimentos misturados! Alguns dias pareciam ter mais de 24 hours, e algumas noites duravam anos!
Virou-se uma nova página na longa história do meu país. O capítulo dos últimos quase 60 anos de um Egito governado por militares finalmente acabou. Estamos começando um novo capítulo.
Nosso novo presidente, Dr. Mohamed Mursi, do movimento da Irmandade Muçulmana, fez seu juramento de posse no sábado 30 de junho.
Apesar de a Igreja ter orado por tantos anos, pedindo ao Senhor para acabar com a corrupção, a ditadura e o abuso de poder, como cristão, tenho de admitir que os acontecimentos dos últimos 17 meses foram além de tudo o que eu poderia imaginar!
Um dia que eu nunca vou esquecer é 28 de janeiro de 2011!
Naquele dia houve graves confrontos e lutas entre forças policiais e manifestantes irados. Muitas delegacias de polícia foram queimadas. Roubaram muitas armas e metralhadoras. Arrombaram muitas cadeias, libertado muitos prisioneiros.
Na noite do dia 28, nossa segurança corria risco, porque o sistema policial havia sido desmantelado. Naquela noite não havia nada que pudéssemos fazer, ninguém a quem correr — só podíamos clamar ao Senhor para salvar o Egito. A Igreja orou e os cristãos prostraram-se.
Em paz na cova dos leões
Viver no Egito nos dias de hoje é como andar numa montanha russa! Você começa a sentir que ainda há esperança em um homem ou um novo sistema. De repente, quando menos se espera, esse sistema se levanta contra você e o joga para baixo.
Ao longo do dia somos bombardeados com notícias de revoluções, mudanças repentinas, decepções, rumores, incidentes, ataques e confrontos, aqui e ali. Nossas expectativas e esperanças de um país livre, onde os cristãos podem ter seus direitos, já se tornaram um sonho muito distante.
A influência do islamismo no Egito aumentou significativamente depois que os partidos da Irmandade Muçulmana e dos salafistas chegaram ao poder. Sobrou pouco espaço para partidos civis e liberais.
Muitas pessoas que vivem no Egito dos dias de hoje estão se sentindo impotentes e preocupadas com o futuro. Isto inclui milhões de cristãos nominais e, acredite ou não, muçulmanos também, que desejam viver sob um governo civil e não num país governado por islâmicos.
Quanto a mim e à minha família, junto com tantos cristãos comprometidos no Egito, desfrutamos de uma alegria especial e paz que só o nosso Pai pode dar! É a mesma alegria e paz que Daniel tinha na cova dos leões; que os três jovens tiveram na fornalha ardente; e que os discípulos tiveram ao ver o rosto de Jesus se aproximando do barco no meio da tempestade.
A questão que nós, cristãos do Egito, nos fazemos hoje é simples: não é mais seguro ficar fora da cova dos leões? Não é mais confortável ficar fora da fornalha? E não é mais agradável ficar ao lado do lago em torno da fogueira, aproveitando a brisa da noite, em vez de lutar contra altas ondas, tentando desesperadamente manter-se vivo?
Ao longo dos últimos meses, muitos cristãos fugiram da cova, da fornalha e do barco.
Esse tipo de notícia nos parte o coração! No mês passado, dei adeus a um grande amigo e companheiro no ministério, que se foi com a família para os Estados Unidos. É bastante doloroso.
No entanto, ver a face confortadora de Jesus em meio à angústia, ao sofrimento e à instabilidade é uma bênção exclusiva. Confiar nas muitas promessas da Palavra de Deus e colocá-las em ação é uma garantia celestial que nenhum homem, sistema, riqueza podem dar.
Ler as maravilhosas palavras do salmo 91, juntamente com tantas outras promessas, traz a verdadeira alegria e paz aos nossos corações, porque sabemos que nosso Pai está no controle!
Esta é a razão pela qual minha família e eu, bem como muitos cristãos espalhados por aldeias, vilas e cidades do Egito, permanecem na linha de frente, comprometidos em refletir o amor de Jesus para nossos conterrâneos, não importa quem sejam.
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