A Associação Revolucionária das Mulheres do Afeganistão (Rawa) quer se transformar em partido político. Suas integrantes não sabem quando, mas sabem que se desejam conquistar algum direito, este é o caminho.
Sahar Saba, uma das porta-vozes da Rawa, tem andado ocupada discutindo o futuro governo do Afeganistão pós-Talebã. Os homens das etnias tajiques, uzbeques ou hazaras, partidários da Aliança do Norte e de outros grupos derrotados pelo Talebã em 1996 - fazem suas reuniões movidas a chá na cidade de Peshawar.
Sahar é movida por seu celular e peregrina pelos hotéis e pensões da capital paquistanesa, Islamabad, atendendo a pedidos de jornalistas para entrevistas. São mais de 15 por dia.
Nós não queremos nos associar à cúpula de nenhum movimento. Queremos chegar às bases. Se nos derem espaço político para respirar, o nosso partido vai surgir da própria sociedade, disse Sahar.
Sociedade patriarcal
A Rawa foi fundada em 1977, por alunas da Universidade de Cabul. Hoje, tem cerca de dois mil integrantes, a maioria dentro do Afeganistão.
Os governos do passado nunca deram muitos direitos às mulheres. O governo anterior ao Talebã também não. Pelo menos o Talebã, por ser mais religioso, condena o estupro, diz Sahar.
Ela é realista e sabe que a sociedade afegã é essencialmente patriarcal.
A sociedade afegã é dominada pelos homens. Há grupos de esquerda pequenos, com quem concordamos em alguns pontos, mas não em todos.
Mulheres já participaram de jirgas (conselhos governamentais) no passado, mas sem muita voz. Queremos ter voz, diz a militante.
Sem fundamentalistas
Sahar não confia na Aliança do Norte, grupo opositor ao Talebã que ganhou apoio ocidental na luta para derrubar o governo de Cabul.
Não nos iludimos com as declarações sobre um governo de base ampla. A volta do rei é uma coisa boa. A maioria do povo o apóia.
A Rawa não apóia nenhuma coalizão específica. Só queremos a saída de fundamentalistas. De quaisquer fundamentalistas, afirma Sahar.
A porta-voz da Rawa diz que a organização já vinha alertando a comunidade internacional para o risco representado por islâmicos fundamentalistas desde a época da invasão russa ao Afeganistão, na década de 80.
Sahar usa vestido longo e calças - traje tradicional das mulheres do sudeste asiático. Usa uma écharpe, mas não cobre a cabeça. Esguia, veste branco e preto, usa batom leve e brincos. Ela diz que não tem nada contra o uso da burka (o manto que cobre a mulher inteira, deixando apenas um pequeno buraco para os olhos).
O que é inaceitável é a obrigatoriedade de usar a burka. A mulher deveria ter liberdade para escolher usá-la ou não.
Ataques americanos
Sahar diz que as mulheres no Afeganistão não estão com tanto medo dos bombardeios dos Estados Unidos ao país.
Elas sabem que quando as bombas caem, podem morrer apenas uma vez. É pior morrer um pouco todo dia, diz.
A militante afegã diz que as mulheres hoje no país não podem estudar nem trabalhar e têm que ficar em casa.
Esse estado de confinamento torna difícil a comunicação entre as militantes. Às vezes elas (mulheres afegãs) têm que inventar desculpas para sair de casa par encontrar outras integrantes da Rawa.
Sahar diz que nenhuma militante foi morta recentemente. A mártir da causa ainda é Meena, fundadora do grupo, que foi morta no Paquistão.
Casamento
Sahar Saba tem 28 anos. Rindo, ela admite que a família não gosta de vê-la solteira nessa idade. Eu tinha que escolher: casar, ter filhos e cuidar da minha vida ou me dedicar à causa da Rawa
Sahar nasceu em Jalalabad. Ela é articulada. Não tem curso universitátio mas diz que leu muitos livros de história. Estudou até o segundo grau em uma escola da própria Rawa, na cidade paquistanesa de Quetta, perto da fronteira com o Afeganistão.
Ela conta que a organização promove aulas em acampamentos de refugiados, onde também mantém projetos para a saúde da mulher.
Segundo a militante, a Rawa sobrevive de donativos internacionais.
A Rawa não tem escritório fixo por razões de segurança.
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