A vendedora de 39 anos que jogou a arma de um assaltante, no sábado (16), em Ponta Porã, a 346 quilômetros de Campo Grande, não se lembrava exatamente do que tinha acontecido. Somente nos dias que se seguiram teve coragem de ver as imagens do circuito interno de segurança da loja de construção e não acredita na reação que teve. “Eu penso que foi Deus quem falou para mim ‘tira essa arma daqui’”, disse, em entrevista ao G1.
A mulher é funcionária da loja há quatro anos e nunca tinha sido assaltada. “A gente nem sabe o que vai sentir numa hora dessas, só sabe quando acontece”, avalia. No sábado, na hora do assalto, ela estava sozinha no térreo da loja. Até chegar à mesa dela, o cliente teria que passar pelo balcão de atendimento e foi essa atitude que causou estranheza. “Ele veio direito na minha direção; quando ele chegou bem na minha frente, eu o encarei, ele já levantou a camisa e mostrou o revólver”.
Segundo a vítima, o assaltante disse apenas “abre”. A funcionária afastou o teclado do computador, deixou a gaveta à mostra, se afastou, dando a volta na mesa, já pensando em fugir. “Ele viu o que eu ia fazer e mandou eu voltar para onde estava”.
A mulher retornou, ficou ao lado do ladrão e notou que ele tremia. “Quando ele abriu toda a gaveta e viu o dinheiro, ficou eufórico, acabou prestando mais atenção no dinheiro do que em mim”. Neste momento, o assaltante largou o revólver em cima da mesa, para poder pegar as notas com as duas mãos. “Foi a oportunidade que tive para me livrar da arma, foi um impulso”. Após jogar a arma, ela correu para os fundos da loja e gritou, dizendo que havia um ladrão na loja.
Um colega de trabalho, cujo apelido é Rambo, estava no andar superior e ouviu os gritos da mulher. Segundo a funcionária, ele começou a bater com uma barra de ferro no forro para fazer barulho e mostrar para o assaltante que ela não estava sozinha. “Ele não sabia a minha situação, não tinha noção de quantas pessoas estavam ali”. O forro acabou cedendo, ele caiu no térreo e correu em direção ao ladrão. O assaltante já estava fugindo, com auxílio de comparsa, em uma motocicleta.
A mulher pensa no que poderia ter acontecido. “Eu vi as imagens, eu não acredito que tive coragem de fazer isso, arrisquei a minha vida. Se ele não tivesse falado para eu voltar, eu ia correr e poderia ter levado um tiro; se um cliente entrasse, ia perceber assalto, ele poderia me agredir; se alguém entrasse pelos fundos, o ladrão também poderia se assustar”.
Passados seis dias, ela ainda tem dificuldade para dormir e de sair de casa. “Até para te contar a história eu já estou tremendo, mas a gente tem que ter força, erguer a cabeça e continuar”.
Reação
O coronel Nelson Antônio da Silva, comandante de policiamento do interior de Mato Grosso do Sul disse que a recomendação de segurança é que a vítima de assalto não tenha qualquer tipo de reação ou atitude brusca que possa ter como consequência o revide do ladrão.
“Neste caso específico, ela até agiu de forma coerente, mas ele poderia ter recuperado a arma e atirado”. Silva acrescenta que reagir a assalto é o último recurso, quando a vítima percebe que poderá sofrer um dano grave.
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