Quatro freiras e três padres que pertencem à mais famosa ordem religiosa da Índia, Missionários de Caridade da Madre Teresa, foram atacados, em 25 de setembro, por extremistas hindus, no sul do estado de Kerala.
O incidente ocorreu nas cercanias de uma colônia de Dalit, no bairro de Kozhikode. As irmãs Rose Merlin e Serlina chegaram à colônia naquela manhã para distribuir comida e medicamentos para os membros da casta Dalit, outrora conhecidos como os Intocáveis (casta mais baixa da Índia). Uma gangue de seis ativistas hindus arrastou as freiras do jipe delas, acusando-as de utilizar a caridade para seduzir os tribais e Dalits ingênuos a se converterem.
As freiras imediatamente registraram o incidente em uma delegacia próxima de Nallalam e alertaram a casa missionária. Quando os seis membros da casa missionária Sneh Bhavan entraram em cena, quarenta arruaceiros iniciaram um novo ataque.
Testemunhas afirmaram que os agressores gritavam frases que apoiavam os grupos hindus de direita: "Bharatiya Janata Party zindabad! Rashtriya Swayamsevak Sangh zindabad!" ("Vida longa ao BJP! Vida longa ao RSS!"). Os arruaceiros, então, atacaram brutalmente, os missionários e seus dois motoristas com barras de ferro e destruíram o jipe da missão de caridade antes de fugir.
Os seis missionários que chegaram no segundo jipe foram identificados como a irmã superiora Kusumam; o padre Bernado, que é um missionário do Quênia; um padre Varghese; um padre superior Varghese; o padre Anto e a freira Sherlet.
Vários membros católicos foram enviados para o hospital com ferimentos na cabeça e, no momento, já foram dispensados.
A irmã Kusumam, uma das feridas, negou as acusações de utilizar a caridade para converter hinduístas. "Nosso motorista é hinduísta", disse aos repórteres. "Ele trabalha conosco há seis anos. Nós poderíamos tê-lo convertido. No nosso centro temos, aproximadamente, cinqüenta internos que pertencem a todas as comunidades - hinduístas, cristãs e muçulmanas".
Kusumam também contou que as freiras não registrariam queixa na polícia. "Nossa religião não prega vingança", disse ela.
De acordo com informações da mídia, uma residente idosa da colônia, a senhora Prabahvati, havia convidado as irmãs para visitar a área. "Eu lhes pedi que viessem e distribuíssem alimento aos residentes. Elas não tiveram outra intenção", disse Prabahvati.
"Eu conheço estas irmãs por, aproximadamente, dois anos. O que aconteceu foi um ataque cruel que não deveria ter ocorrido". A polícia registrou acusações de tentativa de homicídio, abuso e ruptura da harmonia comum.
Dois dias após o ataque, a polícia deteve simpatizantes dos grupos 14 BJP e RSS que tiveram ligações com o incidente. Contudo, muitos deles foram libertos após o interrogatório devido à falta de evidência contra eles. A polícia recusou citar o nome destes suspeitos iniciais.
Em 30 de setembro, um homem chamado Shiju foi detido. "O inquérito ainda está em andamento e mais detenções brevemente acontecerão", afirmou o inspetor geral da polícia (norte) Aravind Ranjan à imprensa.
Ranjan posteriormente disse que a polícia havia recebido informações seguras sobre o incidente e artistas foram designados para encenar o que foi relatado.
Neste ínterim, a unidade Kozhikode do RSS negou qualquer envolvimento no ataque e disse que interesses policiais tinham atribuído, injustamente, a responsabilidade sobre o grupo RSS e seus simpatizantes.
Os líderes do grupo RSS exigiram que a polícia investigue as supostas atividades de conversão dos Missionários da Caridade. Eles também declararam que o padre Bernard, um missionário do Quênia, entrou na Índia com visto de turista o que, tecnicamente, o impedia de realizar atividades religiosas públicas.
Mais tarde, em uma entrevista no canal de televisão local, Kummanam Rajasekheran, o secretário da organização do Vishwa Hindu Parishad (VHP, Conselho Hindu Mundial), afirmou que não havia nada de errado com os missionários fazerem trabalho de caridade, entretanto, tentativas de conversão não seriam toleradas.
"Eu tenho registros que provam que os funcionários dos Missionários da Caridade se engajaram em conversão de hinduístas", acusou Rajasekheran.
Em 26 de setembro, igrejas no bairro de Kozhikode realizaram um dia de oração em protesto contra o ataque. O padre Mathew Munjanattu, vigário da i.greja St. Joseph, em Mankavu, presidiu uma reunião especial com os membros do conselho e exigiu ação rígida contra os responsáveis pelo ataque.
"Tais incidentes que têm por objetivo perturbar a harmonia comum são injustificáveis e devem ser impedidos imediatamente", afirmou ele.
O ministro superior de Kerala, Oommen Chandy assegurou à comunidade cristã que ações severas serão tomadas contra os agressores e solicitou que os hinduístas e cristãos permaneçam tranqüilos.
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