As igrejas domésticas da zona rural da China estão cambaleando com o impacto da rápida urbanização. O fluxo de lavradores jovens para as cidades em busca de emprego transformou-se numa imensa onda. A maior migração da história da China está tendo efeitos catastróficos sobre as igrejas domésticas no interior do país.
Quando os comunistas assumiram o poder na China em 1940, somente 10% da população viviam nas cidades. Por volta do ano 2000, essa porcentagem havia se multiplicado por três. Entretanto, por volta de 2015, o governo chinês estima que a metade da população total de 1,3 bilhões de habitantes estará nas cidades.
Atualmente, cerca de 20 milhões de camponeses migram para as cidades a cada ano. Muitos deles são cristãos.
Pelo menos cinco das maiores redes de igrejas domésticas da China estão baseadas na área central rural das províncias de Henan e de Anhui. As igrejas Novo Nascimento, Fancheng e Tanghe começaram em Henan. As redes Lixin e Yingshang tiveram origem em Anhui. Cada uma delas reivindica ter milhões de seguidores e ter âmbito nacional.
Henan e Anhui têm sido o centro do reavivamento rural e do crescimento da igreja durante 30 anos. Mas agora o contínuo crescimento está ameaçado pela onda migratória para as cidades.
Os evangelistas das igrejas domésticas admitiram recentemente que quase todos os cristãos jovens em muitos vilarejos saíram para procurar emprego nas cidades. As únicas pessoas que ficaram nessas igrejas foram os idosos e as crianças pequenas. Muitas cartas escritas a estações que irradiam programas cristãos manifestam de maneira vívida as lutas dos obreiros migrantes jovens para manter a fé sob a pressão do baixo salário, administração hostil e colegas de trabalho indiferentes.
De acordo com estatísticas do governo, o salário anual médio de um camponês em Henan é somente de 2.000 RMB (250 dólares). Mas os jovens, ansiosos em sustentar a si e à família, podem ganhar mais do que isso por mês dirigindo táxis nas cidades.
Mesmo os que se dirigem para as rígidas fábricas perto de Hong Kong podem ganhar várias vezes mais do que ganhavam no campo. Muitas garotas camponesas de Anhui encontram emprego como empregadas de famílias de classe média em Pequim e Xangai.
Os líderes das igrejas domésticas rurais estão lutando para lidar com essa nova mega tendência. No começo eles se contentavam em pregar contra o êxodo rural, disparando contra o mundanismo e o materialismo. Mas a enorme onda da migração econômica provou ser forte demais.
As igrejas domésticas enfrentam agora um perigo bem real de implosão pela falta de jovens pastores e de pregadores treinados. Bem diferente da visão romântica que alguns cristãos de além-mar têm deles, os crentes das igrejas domésticas rurais lutam com a pobreza crônica, baixo nível de instrução e alfabetização. Muitos carecem de Bíblias e literatura cristã, bem como de ensino bíblico, e enfrentam a sempre presente ameaça das seitas e do sincretismo com religiões folclóricas.
A Luz do Oriente já destruiu muitas igrejas domésticas, primeiro infiltrando-se nelas e depois assumindo o controle. Em abril de 2002, essa seita seqüestrou de fato 34 dos líderes mais importantes da Associação Gospel da China. Todos foram soltos, mas o incidente mostrou a vulnerabilidade e a fragilidade das igrejas domésticas rurais e da sua liderança.
Apesar de ter havido esforços para reunir os líderes das várias correntes de igrejas domésticas, ainda existe divisão. O Movimento Nascer de Novo fundado por Peter Xu Yongze já se dividiu cinco vezes. Alguns grupos enfrentam problemas relacionados à moralidade e ao uso indevido de fundos recebidos de além-mar. As redes maiores têm relatado um declínio nas ofertas, por isso tem aumentado a solicitação de fundos estrangeiros de além-mar.
Entretanto, existem oportunidades positivas de fato. A maioria das cidades chinesas ainda não estão evangelizadas, com os cristãos formando menos de 1% da população. Adequadamente treinados, milhares de jovens cristãos migrantes podem tornar-se uma potente força para o evangelismo urbano.
Entretanto, não é fácil para eles se ajustarem a uma nova vida na cidade com seu materialismo e tentações. Os moradores urbanos melhor instruídos e mais ricos tratam seus primos do interior com desdém e desconfiança.
Os migrantes que encontram trabalho em fábricas e vivem em dormitórios com outros cristãos podem ser treinados para começar grupos de células para alcançar outros migrantes, particularmente em fábricas administradas por irmãos na fé. Os homens de negócios de Hong Kong e da Coréia do Sul têm sido muito eficientes a esse respeito.
Outros migrantes podem receber pequenos empréstimos para abrir lojas ou negócios que podem tornar-se núcleos de igrejas em células urbanas. Os cristãos normalmente podem devolver os empréstimos após alguns meses, uma prática que desestimula a prática não salutar da dependência de fundos estrangeiros.
A palavra chinesa para crise consiste de dois caracteres que significam perigo e oportunidade. As igrejas domésticas rurais da china estão numa encruzilhada crítica. Uma rota leva para o inexorável declínio; a outra promete uma forma de tornar-se uma força efetiva para o evangelismo das cidades da China.
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