Segundo a agência de notícias Forum 18, um segundo protestante no Uzbequistão foi incriminado no fim de junho por suas atividades religiosas.
Lepes Omarov é da cidade de Muinak, região do Karakalpaquistão. Ele foi indiciado segundo o Artigo 216-2 do código penal, que pune com três anos de prisão a "transgressão da lei para organizações religiosas". Um contato protestante disse ao Forum 18 que o único crime de Lepes foi sua incapacidade de esconder suas convicções religiosas e falar com seus irmãos cristãos sobre assuntos religiosos.
Enquanto isso, contatos protestantes disseram que o pastor Dmitry Shestakov, de Andijan, leste do país, teve que fugir do Uzbequistão para esquivar-se do processo penal. Ele foi acusado criminalmente no fim de junho, por causa de seu trabalho na igreja.
Lepes foi detido em sua casa em Muinak e levado para interrogatório na delegacia local. Durante uma busca em sua casa, recolheram impressos cristãos, que haviam sido importados legalmente para o país.
Murad, o oficial de serviço da delegacia de Muinak, confirmou que foi aberto um caso contra Lepes. No entanto, ele afirma que Lepes foi libertado horas depois de assinar "um termo que o obriga a não sair do país".
Constrangimento constante
Lepes e outros protestantes em Muinak são constrangidos há muito tempo pelas autoridades. Lepes era um professor de educação física, e foi demitido em julho de 2003 por causa de suas convicções religiosas. Na época de sua demissão, ele não cedeu às pressões de renunciar suas crenças como um protestante.
De todas as regiões no Uzbequistão, o Karakalpaquistão é onde os protestantes enfrentam mais problemas. Nenhuma igreja protestante está registrada na região (o que significa - sob a rígida restrição do país à religião - que todas as suas atividades são ilegais). Os protestantes na região estão sujeitos à perseguição sistemática das autoridades.
Além disso, Muinak, com sua população de 5 mil pessoas, apresenta mais dificuldades para os cristãos do que em qualquer outro lugar no Karakalpaquistão. A cidade, que era portuária, está agora a 100 quilômetros do Mar Aral por causa de um desastre ecológico. O desemprego atinge 80% das pessoas, e o padrão de vida lá é um dos mais baixos da Ásia Central. Alguns crêem que isso afete a relativamente forte comunidade protestante da cidade, que tem algumas dezenas de membros.
A perseguição das autoridades aos cristãos locais é particularmente aguda, mesmo para os padrões uzbeques. Entretanto, parece que o caso de Lepes não é apenas uma iniciativa das autoridades locais, mas representa uma política deliberada do Estado. Recentemente as autoridades uzbeques endureceram sua política contra minorias religiosas não-registradas em todo o país, embora o presidente do Comitê de Assuntos Religiosos, Shoazim Minovarov, negue isso.
Guerra contra as minorias
Batistas de uma congregação não-registrada do Conselho de Igrejas, na cidade de Kuvasai, em Fergana, relatou no dia 1º de julho que, em junho, as autoridades iam diversas vezes aos cultos" sem apresentar qualquer documento. "Eles filmavam as reuniões, escreviam os nomes de todos os presentes e ameaçavam fechar a igreja", disseram os batistas. Lyubov Vitkovskaya, em cuja casa as reuniões aconteciam, foi intimada várias vezes por um juiz e por um investigador.
No dia 13 de junho, seu filho de 11 anos foi levado com seu marido, Victor Vitkovsky, a um interrogatório dos funcionários da polícia secreta do Serviço de Segurança Nacional. Também estavam presentes oficiais de polícia e o diretor da escola de seu filho. O menino foi forçado a escrever uma declaração sobre a vida interna da igreja, incluindo quem dirigia as reuniões e de onde as pessoas vinham.
Em 27 de junho, Victor - que freqüenta os cultos, mas não é um membro - foi detido a caminho de casa e informado de que podia ir à corte judicial da cidade para levar de volta impressos cristãos confiscados. Entretanto, na corte, ele foi submetido a um interrogatório de 90 minutos, feito pelo juiz, que o ameaçou de ser indiciado e preso.
A família Vitkovsky foi intimada no dia 28 de junho para comparecer perante o tribunal, mas os batistas disseram que um grupo dos membros da igreja a acompanhou. Lá foram informados de que a audiência havia sido adiada para o dia 3 de julho.
A igreja tem sido oprimida cada vez mais nos últimos meses. Ela foi invadida durante os cultos em abril e maio, e Lyubov foi multada em maio.
Dezenas de congregações protestantes não receberam seus registros no Uzbequistão durante este ano.
Todas as evidências levam a crer que as autoridade iniciaram uma guerra contra as minorias religiosas e tenta impedir uma possível atividade missionária dos estrangeiros. O reitor da Universidade Nacional do Uzbequistão, Ravshan Ashurov, emitiu uma ordem proibindo professores da Universidade de participarem de qualquer evento promovido por organizações e embaixadas (ou seus representantes) estrangeiras sem a permissão por escrito do reitor ou do Departamento do Exterior da Universidade.
Organizações não-governamentais filiadas a religiões, ou cujos líderes possam ter alguma afiliação religiosa, foram fechadas ou estão sujeitas a isso. Religiosos estrangeiros já foram expulsos do país como parte da opressão.
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