Mãe de santo se acorrenta a Fórum em protesto contra denúncia
Uma vizinha entrou na justiça alegando perturbação por conta dos barulhos dos tambores
A mãe de santo Cláudia Ikandayô coordenou um protesto pacífico em frente ao Fórum de Londrina na última sexta-feira (3) onde uma ação movida contra ela foi julgada pela 4ª Vara Criminal.
A denúncia foi feita por uma vizinha do Centro de Umbanda Cachoeirinha de Xangô, que fica no bairro do Guarujá, alegando perturbação de sossego por conta dos barulhos emitidos durante as reuniões.
Para a mãe de santo a vizinha agiu com preconceito religioso. “As celebrações são interrompidas frequentemente pela presença da polícia, que é acionada pela vizinha sempre quando nós iniciamos os trabalhos espirituais. Ela reclama do barulho dos nossos tambores, mas releva as atividades dos outros vizinhos, que, em alguns casos, também vão até tarde da noite”, disse a ialorixá ao site Bonde.
Cláudia Ikandayô se acorrentou durante o protesto que teve cerca de 50 pessoas, incluindo os frequentadores do Centro de Umbanda e representantes do movimento negro e ativistas LGBT.
A vizinha que entrou com processo não esteve no Fórum, mas ficou acordado que a ialorixá terá que providenciar o isolamento acústico da sala onde os cultos são realizados para que o som não incomode os vizinhos.
“Os nossos atabaques não vão ser calados. Vamos respeitar a lei do silêncio, mas exigimos que ela respeite a nossa liberdade religiosa, garantida pela Constituição Federal”, disse a religiosa.
A ialorixá garante que apenas a vizinha se incomoda com o barulho do templo e que os demais moradores da rua Humberto Piccinin não reclamam das reuniões que acontecem às sextas-feiras das 20h às 22h30. “Temos o apoio de toda a comunidade. Tanto é que estamos no local há dez anos”.
Advogado garante que não há preconceito religioso no processo
Nos comentários do site Bonde o advogado Léo Bressan esclarece que não compareceu na audiência, nem a reclamante, por não ter sido intimado e deixou claro que o processo não fala sobre a religião, mas sim sobre o barulho da reunião que passa das 22h.
Bressan afirma que outra audiência já havia sido realizada onde a líder religiosa se comprometeu a não fazer barulho após as 22h, descumprindo o dever depois de um mês.
“Passado um mês da homologação, as referidas vizinhas voltaram a fazer barulho, muito alto, até altas horas da madrugada (uma, duas horas da manhã), às sextas-feiras, e não até ás 22:30 como dito na matéria acima (o que já contraria a lei), tudo devidamente comprovado por vídeos nos autos. Com o descumprimento de decisão judicial, a parte não teve outra alternativa senão comunicar o Juízo do ocorrido, devidamente comprovado, o qual arbitrou a multa em R$ 500,00 (…), e, pasmem, mesmo assim as pessoas não pararam de fazer barulho após as 22 horas, em clara afronta ao Judiciário.”
Ainda de acordo com o advogado a reclamante é uma senhora com mais de 50 anos que quer seu direito de sossego assegurado. “Friso, as ações impetradas nunca citaram qualquer ato religioso, sendo que a manifestação ocorrida objeto da presente matéria é uma forma de desviar o foco da ação, que é simplesmente a cessação de barulho após as 22 horas, e nada mais”, escreveu o advogado.
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