A celebração de Natal é um evento importante no ocidente e no Oriente Médio. No entanto, o modo como o mundo árabe pensa o nascimento de Cristo é bastante diferente.
Belém está no Oriente Médio, mas também Bagdá e Mosul. Os cristãos das três cidades realmente querem celebrar o Natal em paz, mas isso será possível no Iraque?! Como os milhares de refugiados cristãos na Síria e na Jordânia celebrarão a data?
Os números e as datas são questões importantes no ocidente, mas nem tanto no oriente. A vida não gira em torno de tempo, números, estatística ou datas. Ela está mais ligada aos relacionamentos e às comunidades.
Por isso, é interessante notar que datas como 24 e 25 de dezembro não são realmente “sagradas” em muitas áreas e igrejas do Oriente Médio. Algumas das igrejas ortodoxas antigas e tradicionais, inclusive algumas do Iraque, celebram o nascimento de Cristo no dia 6 de janeiro.
Datas não importam, o essencial deve ser celebrar o nascimento de Cristo e a razão pela qual ele veio ao mundo. De fato, como cristãos, devemos reconhecer que o nascimento de Cristo é muito importante. Entretanto, sua morte e ressurreição, celebradas na Páscoa, têm mais significado no que diz respeito à salvação, ao perdão e à vida eterna. Os cristãos árabes incorporaram esse conceito cada vez mais, fazendo com que a Páscoa seja mais importante do que o Natal.
Mas o Natal está chegando, e os cristãos iraquianos desejam ter paz em sua terra.
Como o Natal era comemorado
Em circunstâncias normais, os cristãos iraquianos (de igrejas ortodoxas) celebram o Natal de modo especial: uma cerimônia é realizada no quintal da casa na véspera da data. Um dos filhos da casa lê na Bíblia a história do nascimento de Cristo, enquanto os demais membros da família seguram velas acesas e acendem uma fogueira.
No dia de Natal, uma fogueira similar é acesa no terreno da igreja. Enquanto o fogo queima, os homens da congregação cantam um hino, e uma procissão se realiza. Nela, os funcionários da igreja marcham atrás do bispo, que carregam uma imagem do bebê Jesus. O culto termina com uma bênção às pessoas.
A comemoração no presente
Não se fazem, porém, mais fogueiras no Iraque, pois qualquer fogueira atrairá toda sorte de suspeitos. Ademais, o fogo atualmente é muito ligado às explosões e ataques, e ninguém quer se lembrar disso. O jeito ocidental de celebrar o Natal influenciou a Igreja no Oriente Médio, com árvores de Natal, presentes, canções e etc.
Entretanto, é demasiado perigoso falar abertamente sobre o Natal em cidades como Bagdá e Mosul.
Desde 2004, muitos cristãos iraquianos fugiram para Síria, Jordânia e ocidente a fim de encontrar um pouco de paz, tranqüilidade e novo futuro para suas vidas. Muitos deixaram familiares para trás, ou têm parentes que vivem em outros países.
“Meu irmão vive na Suécia, minha irmã está no Canadá, os meus pais em Bagdá e eu estou no norte do Iraque (Curdistão). Quando verei minha família novamente? Comemorar o Natal em família é coisa do passado. Será que nos sentaremos de novo em uma sala como família? Acho que nunca mais…”, Fadi, um refugiado no Norte do Iraque compartilha.
“Fico feliz em ver decorações de Natal aqui no norte, ou na Síria”, diz Manal, um cristão que fugiu de Mosul. “De onde vim, isso não é mais possível. Quando colocamos uma cruz ou um ornamento natalino na porta de casa, atiram nele e nos donos da casa também. Sim, gostamos de cantar músicas de natal, mas temos medo, então nem fazemos nada.”
O Natal no futuro
O Natal é um tempo em que as famílias se reúnem, celebram a paz, cantam, participam de cultos especiais na igreja, tiram férias, refletem no ano que passou e pensam no que virá. Nada disso se aplica às famílias iraquianas, exceto pelo último: eles pensam muito no ano seguinte.
O que o futuro trará ao Iraque, para sua Igreja e, especialmente, para os milhares de cristãos que fogem da violência? Eles verão um a outro novamente? O Natal do ano que vem finalmente trará paz novamente? O cristão iraquiano quer paz e esperança para o futuro.
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