Desde o fim da União Soviética não se ouvia falar sobre líderes cristãos sendo presos na Rússia. Durante o período de governo comunista (1917-1989) o ateísmo era a norma e eram frequentes os relatos de perseguição por trás da “cortina de ferro”. Contudo, uma mudança na legislação este ano mexeu profundamente com a liberdade religiosa em solo russo.
O presidente Vladimir Putin sancionou em junho uma lei que proíbe a pregação religiosa fora dos limites dos templos. Surgem agora os primeiros relatos de líderes cristãos sendo presos por ter anunciado Jesus fora de suas igrejas.
O jornal The Moscow Times relata que Sergei Zhuravlyov, da Igreja Ortodoxa Ucraniana Reformada Cristo o Salvador, foi preso no início deste mês na cidade de São Petesburgo. Ele estava pregando perto de um local onde se reúne a comunidade judaica. A polícia foi chamada e ele é acusado de violar a lei, realizando “atividade missionária ilegal”.
Zhuravlyov acionou seus advogados e já foi liberado sob fiança. Seu processo foi enviado para um tribunal e ele deve ser julgado em breve. Segundo a agência de notícias Interfax, o líder também está sendo acusado de “fomentar atitudes negativas em relação à Igreja Ortodoxa Russa”. A imprensa local trata o assunto como político, uma vez que a Rússia e a Ucrânia estão em situação de guerra desde a invasão russa da Crimeia, em 2014.
Na semana passada, afirma o Christian Daily, foi preso o missionário norte-americano Donald Ossewaarde. Pastor batista, ele foi acusado de realizar estudos da Bíblia em lares de famílias russas na cidade de Oryol. De modo similar ao caso de Zhuravlyov, ele foi levado para a delegacia, multado em cerca de 2 mil reais e liberado. Seu caso irá a julgamento em breve. Ele está fazendo denúncias na internet que o advogado russo que deveria defendê-lo simplesmente lhe disse para ir embora da cidade e não recorrer da sentença.
Pelos termos da nova legislação, se um cidadão russo for pego falando sobre religião fora dos locais de culto terá de pagar uma multa que varia entre 250 e 2500 reais. Se for uma organização formal (missão), o valor pode chegar a 50 mil. Caso seja estrangeiro, além da multa pode ser deportado. Por isso, muitas missões estrangeiras e ONGS de fundo religioso consideram a possibilidade de encerrar as atividades no país.
Líderes missionários se manifestam
Hannu Haukka, presidente da Ministério Grande Comissão denuncia que a nova legislação é o movimento mais restritivo à liberdade religiosa na “história pós-soviética”.
“Esta nova situação assemelha-se a União Soviética em 1929, quando falar de fé era algo só permitido dentro da igreja”, explica Haukka. “Em termos práticos, estamos de volta na mesma situação.”
O pastor Sergey Rakhuba, presidente da Missão Eurásia, conta que isso gerou preocupação nas sete denominações autorizadas a funcionar no país. Os evangélicos russos são menos de um por cento da população. “Não nos impedirão de adorar e compartilhar nossa fé. A Grande Comissão não vale apenas para os tempos em que há liberdade”, asseverou.
O presidente da Comissão Internacional Sobre Liberdade Religiosa, Thomas J. Reese, também criticou a lei, avisando que ela “tornará mais fácil para as autoridades russas reprimir as comunidades religiosas, sufocando-as e prendendo pessoas”. Para ele, isso viola “os direitos humanos e os padrões internacionais de liberdade religiosa.”
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